sábado, julho 31, 2010

As Parábolas do Mestre: A Parábola da Vinha (Mt 21.33-41)

A Parábola da Vinha
Por Reinaldo Bui

Atentai noutra parábola. Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país (Leia Mateus 21.33-41).

Na parábola anterior, Jesus ensina que apesar da liderança religiosa alegar que aceitava a supremacia de Deus, eles efetivamente não fizeram jus à Sua mensagem, mostrando-se desobedientes à Palavra. Externamente, eram piedosos e orgulhavam-se de sua posição e de serem ‘povo de Deus,’ mas Jesus, que os conhecia como ninguém, ‘põe o dedo na ferida’ e mostra que é lá no fundo de seus corações que eles pecavam miseravelmente. A presente parábola (da vinha) pode ser vista como que Jesus derramando sal naquela ferida. Talvez fosse o caso de eles não compreenderem o óbvio, por isso é que Jesus apresenta uma ilustração muito mais clara da mensagem que Ele quis transmitir. Obviamente, isso enfureceu ainda mais os sacerdotes, mas também forneceu aos que estavam presentes a oportunidade de ouvir Jesus explicar, completamente, as implicações da desobediência do povo judeu ao longo dos tempos.

Os agentes enviados representavam os profetas que Deus enviou ao seu povo Israel e, em seguida, foram rejeitados e mortos pelas mesmas pessoas que afirmavam serem de Deus e obediente a Ele. Nesta parábola, Jesus não estava apenas mostrando como eles agiam, mas também imprimindo em suas mentes a seguinte questão: “Como vocês podem reivindicar obediência como povo de Deus e ainda rejeitar Seus mensageiros?” Nós não sabemos quantos funcionários o proprietário enviou, mas isso não é importante. O objetivo é mostrar o repetido apelo de Deus através de Seus profetas para um povo de coração endurecido.

A situação se torna ainda mais crítica quando o fazendeiro manda seu próprio filho, na esperança que eles o respeitassem. Porém, os inquilinos veem a oportunidade de matar o filho, pois acreditavam que, se assim fizessem, receberiam a vinha como herança. A lei dizia que, se não houvesse herdeiros, a propriedade passaria para aqueles que a possuíssem. Este detalhe equivalia à conspiração da liderança judaica pelo assassinato que eles cometeriam (profeticamente falando), pois Jesus está predizendo sua crucificação. Os inquilinos provavelmente pensaram ter vencido a luta pela propriedade, mas não: o proprietário ainda está vivo. Por fim, Jesus lhes pergunta: O que o proprietário fará àqueles lavradores? Com isto, Ele força os líderes religiosos e sacerdotes a declararem o seu próprio destino, ou seja, a condenação por sua flagrante desobediência. Depois de contar esta parábola, Jesus declarou àquela liderança: Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos (v. 43).

Dois mil anos se passaram e aqui estamos nós. Temo que a igreja tenha se tornado uma instituição semelhante àquela combatida por Cristo, conforme escrito acima: apesar da liderança religiosa alegar que aceitava a mensagem de Deus, eles efetivamente não fizeram jus a esta mensagem mostrando-se desobedientes à Palavra. Hoje temos a Escritura completamente revelada em nossas mãos; hoje conseguimos enxergar que esta passagem deixa claro que Jesus seria rejeitado pelos seus até ser, enfim, covardemente condenado, mas que ressuscitou ao terceiro dia e hoje está vivo ao lado do Pai.

Além disto, somos sabedores que a volta de Cristo é iminente. A voz de dezenas de profetas e milhões de testemunhas nos faz lembrar constantemente disto. Embora a Igreja não viesse substituir Israel, vejo um paralelo bastante curioso aqui. Somos responsáveis não apenas pelo cuidado com esta Igreja como um todo (o corpo de Cristo), mas também por velar por nossa vida cristã, particularmente.

Medite...
Que posição Jesus ocupa hoje em relação à Igreja? E na sua vida? Temos ouvido Suas orientações com respeito às diversas áreas da nossa existência? Como será quando o Senhor requerer de você aquilo que Ele confiou em suas mãos?

sexta-feira, julho 30, 2010

O Evangelho: O que é a salvação e como obtê-la?

Um bom texto para refletirmos ainda mais sobre os fundamentos para a salvação.
Extraído da Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1556.

A Bíblia ensina que existe uma mensagem de boas-novas para todos os que se arrependem e creem em Jesus Cristo como seu Salvador. No entanto, ao lermos a Bíblia encontramos várias sínteses legítimas (Mt 4.23; Mc 1.15; At 2.14-38) e ilegítimas (Gl 1.9; Jd 3-19) desse ensinamento fundamental. Infelizmente, muitos cristãos se tornam complacentes e empregam somente uma síntese do evangelho, sem perceber que essa visão limitada restringe não apenas o grupo de pessoas ao qual podem levar o evangelho, mas também o grau de aplicação do mesmo na sua própria vida.

A expressão mais plena da mensagem do evangelho se encontra em Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne. Jesus Cristo, o Filho de Deus, se tornou homem fisicamente e desceu à terra para anunciar as boas-novas de que o reino prometido de Deus havia chegado. É essa notícia do reino que constitui a base da mensagem do evangelho. Ao estabelecer o reino por meio de sua morte, ressurreição e ascensão (Lc 9.21-36; At 1.1-11), Jesus viveu o conteúdo da mensagem do evangelho - uma mensagem que deveria ser anunciada ao mundo inteiro (Jo 1.1-14; At 2.22ss).

Mas qual é, exatamente, a mensagem do evangelho? Podemos sintetizá-la da seguinte maneira: Deus ofereceu aos pecadores um modo de escapar do castigo eterno que os aguarda. Se tivermos verdadeira consciência do nosso pecado e situação miserável e compreendermos a misericórdia de Deus em Cristo Jesus, e se nos afastarmos do pecado com arrependimento e tristeza e aceitarmos a Cristo, confiando somente nele para a nossa salvação, seremos poupados da ira justa de Deus contra os pecadores. Em vez de experimentarmos essa ira, seremos unidos com Jesus, nossos pecados serão perdoados, Deus nos considerará justos aos seus olhos e nos abençoará abundantemente por toda a eternidade.

Por vezes, os cristãos podem supor equivocadamente que muitas outras doutrinas também são essenciais para a mensagem do evangelho, mas em nenhuma passagem a Bíblia indica que devemos possuir uma teologia madura antes de sermos salvos. Antes, as Escrituras demonstram com frequência a necessidade de apenas um conhecimento mínimo para se ter a fé salvadora (Lc 23.39-43; At 10.34-43; 16.25-34). Outros se enganam ao pensar que o evangelho só precisa ser ouvido pelos perdidos. Na verdade, todo cristão deve renovar constantemente a sua confiança nas verdades do evangelho e, por meio da fé e do arrependimento contínuos (Fp 1.25; Cl 1.23; 3Jo 3), ser transformado cada vez mais pelo evangelho.

Todos os cristãos são chamados a dar testemunho das boas-novas da obra de Deus em sua vida onde quer que estejam, e não apenas em ambientes seguros (Mt 28.19-20); At 1.8; 4.20; 5.27-29; 8.4). Porém, nem todos sabem como fazer essa proclamação. Um modo de comunicar as verdades do evangelho é começar relatando em poucas palavras a operação de Deus em nossa própria vida e, depois, apresentar uma síntese do conteúdo do evangelho apropriada para a situação em questão. Se alguém está lutando com uma sensação clara de falta de sentido na vida, podemos mostrar a essa pessoa como a fé em Deus implica crer que Deus enviou Jesus Cristo ao mundo para oferecer uma vida nova e abundante (Jo 7.37-38; 10.10; Gl 5.22). Se alguém está se debatendo com suas próprias fraquezas, podemos demonstrar que a fé no Deus da Bíblia nos dá o poder de superar a solidão e a tensão, o medo das pessoas e/ou do futuro e até mesmo maus hábitos que parecem impossíveis de quebrar (1Co 6.9-11; 1Jo 4.18). Ou, se alguém se sente separado de Deus, podemos confirmar a realidade dessa alienação (Rm 3.23; 6.23) acrescentando a garantia de que Deus proveu uma solução em Cristo (Rm 5; 1Co 1.30; 1Jo 1.7).

Se Deus lhe conceder a oportunidade de dar sequência a essa apresentação do evangelho convidando a pessoa a reconhecer sua necessidade, se arrepender de seus pecados, orar a Deus pedindo perdão e aceitando a Jesus como Senhor e Salvador, não a desperdice! É pelo poder do Espírito Santo, combinado com o evangelho poderoso da graça que Deus chama os eleitos para si.

Obs.: Este artigo foi publicado em Todah Elohim para que os leitores pudessem refletir ainda mais sobre o foco da mensagem do evangelho. Não tenho concordância com todas as palavras supra.

quinta-feira, julho 29, 2010

As Parábolas do Mestre: O Filho (Des)obediente (Mt 21.23-31)

O Filho (Des)obediente
Por Reinaldo Bui

Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus (Leia Mateus 21.23-31).

A chave para a interpretação desta parábola está na compreensão do relacionamento de Jesus com os fariseus. Para isso, precisamos voltar um pouco e olhar para o contexto geral da passagem. O ponto central do evangelho de Mateus é apresentar Jesus como o Messias esperado, e o capítulo 21 começa com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. A multidão responde dando louvores ao rei, gritando Hosana, hosana. Esta palavra deriva da união de duas palavras em hebraico (hoshiah na), que literalmente querem dizer "salva, pedimos.” Com o tempo essa oração se tornou uma exclamação de louvor.

O primeiro ato do rei à entrada de Jerusalém é a purificação do templo (21:12-17). Depois, vemos Jesus amaldiçoar uma figueira (21:18-22). O relato da figueira pode parecer uma história isolada, mas este fato estava carregado de importantes significados. A figueira era uma das figuras de Israel, conforme vemos em Oséias 9:10 ou Joel 1:7. O fato de que a figueira tinha muitas folhas e nenhum fruto simbolizava a intensa atividade religiosa de Israel, com todos os artifícios da espiritualidade, mas sem substância alguma. Israel podia apresentar sua exuberante folhagem da religiosidade, mas não o fruto do arrependimento, e a obediência a Deus era inexistente. Por este motivo, Jesus diz àqueles que eram responsáveis pela vida religiosa que as prostitutas e os cobradores de impostos os precediam no reino.

Mais uma manhã se inicia e Jesus está ensinando no templo. Neste contexto, o sumo sacerdote e alguns anciãos começam a confrontá-lO querendo saber com que autoridade Ele estava ensinando. Para não ‘entrar na deles,’ Jesus toma o controle da conversa respondendo à pergunta com outra pergunta. Eles foram pegos de surpresa e não conseguiram pensar em uma resposta que satisfizesse a pergunta de Jesus sem complicá-los. Jesus, muito sabiamente, estava mostrando que não iriam se livrar daquela tentativa óbvia de persuasão, e que Ele não era obrigado a responder à pergunta deles. Ademais, Jesus comunicara a seus opositores que a autoridade que João Batista recebera partia da mesma fonte. Essa vergonhosa “rasteira” que levaram publicamente de Jesus despertou grande fúria naqueles líderes religiosos, além de desencadear enorme oposição. Jesus, então, aborrece ainda mais os sacerdotes, contando duas parábolas.

A primeira é a parábola dos dois filhos. É uma história bem simples, de um homem que pede a seus filhos que fossem para a vinha trabalhar. O primeiro filho concordou, mas depois deliberadamente desobedeceu e não foi. O segundo filho, que a princípio se recusou a ir, obedeceu e foi. Este foi o filho que, finalmente, fez a vontade do seu pai. Jesus, então, claramente o associa aos publicanos e prostitutas, párias da sociedade judaica, porque eles, aceitando "o caminho da justiça," creram na mensagem de arrependimento de João Batista apesar de serem evidentes não-cumpridores da Lei. Já os líderes de Israel são representados pelo primeiro filho, pois alegavam obediência, mas não faziam a vontade do pai.

Não era simplesmente uma questão de conhecer ou não a vontade do pai, visto que ambos conheciam. No caso de Israel, seus líderes eram os que mais conheciam a vontade de Deus, e orgulhavam-se disto. Seu motivo de orgulho, no entanto, seria o principal agente de sua condenação. No capítulo 23, Jesus ‘bate de frente’ com seus opositores religiosos, e as acusações não são outras senão o fato de eles serem zelosos cumpridores de tradições e regrinhas humanas (Paulo as chama de ensinos de demônios), distorcendo, acrescentando ou omitindo os princípios mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

As motivações que moviam estes homens eram, basicamente, o reconhecimento público, a fascinação pelas riquezas e a ambição pelo poder. Por isso a advertência:

Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus (Mateus 16.6).

Medite...
Como é fácil cair na religiosidade e esquecer-se de Deus. Quais são os cuidados que precisamos tomar para não cair neste erro? Que fermento é este que pode nos contaminar?

segunda-feira, julho 26, 2010

As Parábolas do Mestre: O Filho Intolerante (Lc 15.11-32)

O Filho Intolerante
Por Reinaldo Bui

Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo (Leia Lucas 15.11-32).

O palco estava montado para apresentar o último personagem da parábola: o filho mais velho. Este ilustrava os escribas e fariseus, aparentemente obedientes, mas visivelmente intolerantes. Aparentemente porque eles demonstravam um viver piedoso, mas interiormente as suas atitudes eram abomináveis, como Jesus relata em Mateus 23:25-28.

O filho mais velho sempre trabalhou duro e, obediente a seu pai, nunca envergonhou sua família ou povo. Porém, fica evidente por suas palavras e ações, que ele não compartilhava a alegria de seu pai e irmão. Ainda assim o pai, com muita paciência, saiu ao seu encontro a fim de aplacar a raiva deste filho. O pai sábio não o repreende nem por em suas ações, nem pela forma desrespeitosa com que este se dirige a ele em sua justificativa. A compaixão deste pai amoroso também não cessa enquanto ouve suas queixas e críticas. Ele procura a restauração, salientando tudo o que ele é e tem para pedir ao seu filho obediente compreensão.

No entanto, este filho obstinado, em sua ira, nunca utilizou as bênçãos à sua disposição, assim como os fariseus tinham uma religião de obras meritórias. Eles esperavam ganhar as bênçãos de Deus por seu mérito e obediência à Lei. Nunca conseguiram entender a graça de Deus, nem compreender o significado do perdão. Não foi o que eles fizeram que se tornou um obstáculo ao seu crescimento, mas sim o que eles não fizeram que os afastou de Deus. Eles estavam irados com o fato de Jesus receber e comer com pecadores (estes sim enxergavam sua necessidade de um Salvador).

Ao dizer "esse teu filho," o irmão mais velho evita reconhecer que o pródigo é seu próprio irmão. Assim como os fariseus, o irmão mais velho estava definindo o pecado por ações externas, e não atitudes interiores. Em essência, o irmão mais velho estava dizendo que ele era o único digno de celebração e seu pai tinha sido injusto e ingrato para com ele, por toda a sua obra, por todo seu esforço. Agora o que tinha esbanjado sua fortuna estava recebendo o que não merecia. O pai carinhosamente dirige-se ao mais velho como "meu filho" e corrige o erro na sua forma de pensar, mostrando que o filho pródigo é "este teu irmão".

O foco do irmão mais velho era em si mesmo e, como resultado, não havia alegria na chegada de seu irmão para casa. Ele se consumia tanto com questões de justiça e equidade, que não conseguiu ver o valor no fato de que seu irmão havia se arrependido e voltado. Ele não percebeu que:

Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos (1 João 2.9-11).

Este filho intolerante permitiu que a ira e a amargura criassem raízes em seu coração a ponto de ser incapaz de perdoar ou mostrar compaixão para com seu irmão. Ele preferiu alimentar sua raiva em vez de gozar da comunhão com o pai, o irmão e a comunidade. Escolheu o sofrimento e o isolamento ao invés da restauração e reconciliação. Ele viu o retorno de seu irmão como uma ameaça à sua própria herança. Afinal, por que ele teria que dividir a sua parte com um irmão esbanjador, que procurou se alegrar longe da presença do Pai através de anos de infidelidade e libertinagem?

Não sabemos como essa história terminou para o filho mais velho, mas sabemos que os fariseus continuaram a oposição declarada a Jesus e a discriminar seus seguidores. Apesar dos apelos do Pai pedindo-lhes que se voltassem a Ele, eles não apenas se recusaram como quiseram calar Aquele que trouxe até nós as boas novas de reconciliação, promovendo a prisão e crucificação de Jesus Cristo. Sem dúvida, um final trágico para uma história cheia de tanta esperança, misericórdia, alegria e perdão.

Medite...
Quais sentimentos você abriga em seu coração com respeito aos que estão longe de Deus?

sábado, julho 24, 2010

Augustus Nicodemus: Por que Seminaristas Costumam Perder a Fé Durante os Estudos Teológicos?

Artigo extraído da Revista Apologética Cristã. O presente artigo foi escrito por Augustus Nicodemos Lopes. 

Não quero dizer que acontece com todos, mas acontece com muitos. Conheço vários casos, inclusive próximos a mim, de jovens cristãos fervorosos, dedicados, crentes, compromissados com Deus, que gostavam de orar e ler a Bíblia, que evangelizavam em tempo e fora de tempo, e depois de entrar no seminário ou faculdade de teologia esfriaram na fé, tornaram-se confusos, críticos, incertos e até cínicos.

E isso pode acontecer até mesmo em seminários cujos professores são conservadores, que acreditam na Bíblia de capa a capa. Vejamos alguns fatores que colaboram para que os seminaristas percam a fé:

1) Precocidade e ausência de vocação

Acho que tudo começa quando as denominações mandam para os seminários e faculdades de teologia jovens que não têm absolutamente a menor condição de serem pastores, professores, obreiros e pregadores. Muitos são enviados sem qualquer preparo intelectual, espiritual e emocional. Alguns mal fizeram 17 anos e foram enviados simplesmente porque eram líderes destacados dos adolescentes de sua igreja, líderes do grupo de louvor ou filhos de pessoas influentes da igreja.

Não é sem razão que Paulo orienta que o líder não pode ser neófito, isto é, novo na fé (1 Tm 3.6). Eles não têm a menor estrutura intelectual, bíblica e emocional para interagir criticamente com os livros dos liberais e com os professores liberais que vão encontrar aos montes em algumas instituições para onde serão mandados. Não estarão inoculados preventivamente contra o veneno que professores liberais costumam destilar em sala de aula.

2) Docentes frios espiritualmente

Acho também que a culpa é das denominações que mantêm professores liberais ou conservadores frios espiritualmente nas cátedras de suas escolas de teologia. O que um professor que não acredita em Deus, nem que a Bíblia é a Palavra de Deus, não ora, tem para ensinar a jovens que estão na sala de aula para aprender mais de Deus e de sua Palavra?

Há seminários e escolas de teologia que mantêm no corpo docente professores que nem vão mais a uma igreja local, que usam o título de pastor apenas para ocupar uma vaga na cátedra dos seminários. Nunca levaram ninguém a Cristo nem estão interessados nisso. Não tem vida de oração, de piedade. Que exemplo eles poderão dar aos jovens que estão ali, desejosos de ter modelos e exemplos para começar seus próprios ministérios?

3) Docentes descompromissados

Alguns desses professores têm como alvo pessoal destruir a fé de todos os seus estudantes antes mesmo que terminem o primeiro ano de estudos. Começam desconstruindo o conceito que a Bíblia é infalível e inspirada Palavra de Deus. Com grandes demonstrações de sapiência e erudição, mostram os erros da Bíblia e o engano da Igreja cristã, influenciada pela filosofia grega, em elaborar doutrinas como a Trindade, a Divindade de Cristo, a Expiação. Mesmo sem usar linguagem direta (alguns usam), lançam dúvidas sobre a ressurreição literal de Cristo de entre os mortos. A pá de cal na sepultura da fé desses meninos é a vida desses professores.

Além de não terem vida devocional alguma, alguns deles ensinam seus pobres alunos a beber, fumar e frequentar baladas e outros locais.

sexta-feira, julho 23, 2010

A. W. Tozer: O que Significa Aceitar Cristo

Extração resumida de O Melhor de A. W. Tozer, estação do livro, Mundo Cristão, 1997, pp. 87-89.

Poucas coisas, felizmente poucas, são assuntos de vida ou morte. Ignorar coisas vitais não é só lançar sortes ou correr um risco, mas puro suicídio.

Nosso relacionamento com Cristo é uma questão de vida ou morte e num plano ainda mais superior. O homem que conhece a Bíblia sabe que Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e que os homens são salvos apenas por eles sem qualquer influência por parte de quaisquer obras meritórias deles.

Tal coisa é verdadeira e sabida, mas a morte e ressurreição de Cristo evidentemente não salvam todos de maneira automática. Como o indivíduo entra numa relação salvadora com Cristo? Como é coberto o abismo entre a redenção provida objetivamente e a salvação recebido subjetivamente? Como o que Cristo fez por mim opera em meu interior? Para a pergunta: “o que devo fazer para ser salvo?” devemos aprender a resposta correta. Falhar neste ponto não envolve apenas arriscar nossas almas, mas garantir o exílio eterno da face de Deus. É aqui que devemos estar certos ou perder-nos para sempre.

Os cristãos “evangelicais” fornecem três respostas a esta pergunta ansiosa:
• Creia no Senhor Jesus Cristo;
• Receba Cristo como seu Salvador Pessoal;
• Aceite a Cristo.

As duas primeiras são extraídas quase que literalmente das Escrituras (At 16.31; Jo 1.12), enquanto a terceira é uma espécie de paráfrase, resumindo as outras duas. Não se trata então de três, mas de uma só.
Somos espiritualmente preguiçosos e por isso, tendemos a gravitar na direção mais fácil a fim de esclarecer nossas questões religiosas. Assim, a fórmula “aceite a Cristo”tornou-se uma panacéia (remédio pretensamente eficaz na cura de todos os males) de aplicação universal e acredito que tem sido fatal para muitos.

A dificuldade está em que a atitude “aceite a Cristo” está provavelmente errada. Ela mostra Cristo como suplicando a nós, em lugar de nós a Ele. Ela faz com que Cristo aguarde nosso veredicto a respeito dEle, em vez de nos ajoelharmos com os corações contritos esperando que Ele nos julgue.

Para esta maneira ineficaz de tratar de um assunto vital, podemos imaginar alguns paralelos: como se, por exemplo, Israel tivesse “aceito” no Egito o sangue da Páscoa, mas continuasse vivendo em cativeiro, ou o filho pródigo “aceitasse” o perdão do pai e continuasse entre os porcos no país distante.

Aceitar Cristo é dar ensejo a uma ligeira ligação com a Pessoa de nosso Senhor Jesus absolutamente única na experiência humana. Essa ligação é intelectual, volitiva e emocional. Além disso, sua ligação com Cristo é toda exclusiva. O Senhor torna-se para ele a atração única e exclusiva para sempre, e não apenas um entre vário interesses rivais.

O fato de aceitarmos Cristo desta maneira toda inclusiva e toda exclusiva é um imperativo divino. A fé salta para Deus neste ponto mediante a Pessoa e a obra de Cristo, mas jamais separa a obra da Pessoa. Ele crê no Senhor Jesus Cristo, mas jamais separa a obra da Pessoa. Ele crê no Senhor Jesus Cristo, o Cristo abrangente, sem modificação ou reserva, e recebe e goza assim tudo o que Ele fez na sua obra de redenção, tudo o que está fazendo agora no céu a favor dos seus, e tudo o que opera neles e através deles.

Aceitar Cristo é conhecer o significado de 1Jo 4.17, porque neste mundo somos como ele (NVI). Nós aceitamos os amigos dEle como nossos, Seus inimigos como nossos, Seus caminhos como os nossos, Sua rejeição como nossa, Sua cruz como a nossa cruz, Sua vida como a nossa vida e Seu futuro como nosso.

Se é isto que queremos dizer quando aconselhamos alguém a aceitar Cristo, será melhor explicar isso a ele, pois é possível que se envolva em profundas dificuldades espirituais caso não explanarmos o assunto.

Breve comentário:
Gostei muito do artigo, especialmente o parágrafo que destaquei em negrito. Todavia não creio que, como pareceu-me que Tozer assim acredita, que o filho de Deus deve crer no Senhorio de Cristo para obtenção da salvação. (Para mais informações sobre este assunto, leia O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de John MacArthur e Tão Grande Salvação, de Charles Ryrie.)

quinta-feira, julho 22, 2010

As Parábolas do Mestre: o Pai Amoroso (Lc 15.11-32)

O Pai Amoroso
Por Reinaldo Bui

“O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos” (Leia Lucas 15.11-32 )

O filho pródigo percebeu que não tinha direito de reivindicar nada para retornar à casa de seu pai, nem tinha nada para oferecer, exceto uma vida de serviço pelo arrependimento de seus atos anteriores. Com isso ele estava preparado para cair aos pés de seu pai na esperança de obter perdão e misericórdia. É exatamente isto que a conversão representa: o fim de uma vida de escravidão do pecado, através da confissão ao Pai, e da fé em Jesus Cristo, dispondo-se a se tornar um escravo da justiça.

O filho pródigo estava satisfeito por voltar para casa como um escravo, mas para sua surpresa e alegria os privilégios de ser filho foram restaurados por seu pai. Ele passou de um estado de miséria para completa restauração. Isso é o que a graça de Deus faz por um pecador arrependido. Não só estamos perdoados, mas recebemos um espírito de adoção como Seus filhos, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. O pai então ordenou aos servos para levarem a melhor roupa (significando dignidade e honra, a prova de sua aceitação de volta para a família), um anel para a mão do filho (autoridade e filiação) e sandálias para seus pés (um sinal de que ele era livre, pois escravos não usavam sapatos).

Este pai amoroso ainda manda matar um novilho gordo e realizar uma festa. O sangue de um inocente foi derramado para expiação dos pecados, visto que naquele tempo bezerros cevados eram guardados para ocasiões especiais como o Dia da Expiação. Podemos imaginar a indignação dos fariseus a esta altura da narrativa, pois se o rapaz tivesse sido tratado em conformidade com a Lei deveria haver um funeral, e não uma festa ( veja Dt 21.18-21). Mas...

O SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e bastante benigno. Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades. Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem. Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões. Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem (Salmo 103:10-13).

Jesus retrata o pai à espera de seu filho talvez diariamente, buscando-o pelo caminho distante ou esperando por sua volta. No momento em que o avistou, ainda longe, este pai compassivo se condói com o estado lastimável do filho. Naquela época não era o costume dos homens correr, mas aqui o pai corre para abraçar o seu filho. Por que um homem de posição quebraria o convencionalismo por um jovem rebelde que havia pecado contra ele? A resposta óbvia é porque ele o amava incondicionalmente, estava ansioso para compartilhar com ele seu amor e restaurar o relacionamento outrora perdido. Quando o pai alcançou seu filho, não só o acolheu em seu abraço, como também o cumprimentou com um beijo afetuoso. Ele está tão cheio de alegria pelo retorno de seu filho que não se dá conta da imundície que o filho se encontra, não o permite terminar a sua confissão, nem tampouco passa um sermão nele. Em vez disso, o perdoa incondicionalmente e o aceita de volta à comunhão.

A figura do pai correndo para seu filho, cumprimentando-o com um beijo e ordenando a celebração de uma festa de boas vindas é um retrato de como nosso Pai Celeste se sente em relação aos pecadores que se arrependem. Deus nos ama muito e espera pacientemente nosso arrependimento para que Ele possa nos mostrar Sua grande misericórdia.

O apóstolo Pedro representou bem esta ideia em sua carta (2 Pedro 3:9):
Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.

Medite...
Não importa o que você tenha feito no passado; o quanto você se sinta culpado; o quanto você se julgue indigno. Nosso Pai estará sempre de braços abertos a nos esperar. Você crê nisto?

terça-feira, julho 20, 2010

As Parábolas do Mestre: O Filho Perdido (Lc 15.11-32)

O Filho Perdido
Por Reinaldo Bui

Continuou: Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres (leia Lucas 15.11-32).

Há uma progressão na relação entre as três parábolas de uma em cem; uma em cada dez; e um para um, demonstrando o amor de Deus para com toda a humanidade e sua atenção pessoal para cada indivíduo. Vemos nesta história a graça de um pai ao receber um filho arrependido que estava perdido, e não considerar os pecados que este cometeu.

Ao ouvir esta parábola, os fariseus sentiram-se certamente incomodados com o desenrolar da história, a começar pelo filho mais novo que pediu ao pai sua parte da propriedade ainda em vida. Embora fosse perfeitamente dentro de seus direitos de pedir, não era uma coisa amorosa de se fazer, pois isto implicava que ele desejasse que o pai estivesse morto. Em vez de repreender o seu filho, o pai, conscientemente, lhe concedeu o pedido. Esta é uma demonstração de como Deus age muitas vezes, deixando um pecador seguir seu próprio caminho. Todos nós possuímos (uns mais outros menos) essa ambição tola de querer ser independente. Está na raiz do pecador que persiste em seus pecados. Andar em pecado é uma partida da presença e distanciamento de Deus, mas é também um estado de insatisfação constante. Em Lucas 12:15 Jesus já havia advertido:

Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem
não consiste na abundância dos bens que ele possui.

Este filho aprendeu da maneira difícil que a cobiça conduz a uma vida de insatisfação e decepção. Aprendeu também que as coisas mais valiosas na vida são as coisas que você não pode comprar, nem substituir.

O fato deste rapaz ter “viajado a um país distante” levava os fariseus a compreenderem que ele estava se afastando do povo da promessa, bem como das alianças com Deus. É evidente, a partir de suas ações anteriores, que ele já tinha feito essa viagem em seu coração, e a partida foi uma demonstração de sua desobediência intencional a todo amor que seu pai tinha oferecido. No processo, ele desperdiçou todos os bens que sua família tinha conquistado com o suor do rosto para, de forma tão egoísta, desperdiçar tudo.

Seu desastre financeiro foi seguido por um desastre natural que veio em forma de uma fome que assolou aquele país. Neste ponto, ele se vendeu à escravidão física para os gentios, e se encontrava alimentando suínos, uma posição detestável para o povo judeu. Para completar, aparentemente ele ganhava tão pouco que desejava comer a lavagem dos porcos. Não havia quadro pior para um fariseu. Em suas mentes este era o pior estado, o mais degradante que um ser humano poderia chegar. Mesmo aqueles animais imundos pareciam ser melhores do que ele naquele momento. Jesus conseguira retratar o estado de um pecador perdido, ou de um filho rebelde que voltou a uma vida de escravidão ao pecado. É um retrato fiel do que o pecado faz na vida de uma pessoa, quando este rejeita a vontade do Pai. "O pecado sempre promete mais do que dá, toma mais do que você queria dar, e te deixa pior do que estava antes." O pecado promete liberdade, mas traz escravidão (João 6:23).

O filho começou a refletir sobre sua condição e percebeu que até os funcionários do seu pai viviam melhor do que ele. Sua deplorável situação o ajudou a olhar para o pai sob uma nova luz e lhe trouxe esperança. Este é o reflexo do pecador quando ele descobre a condição miserável de sua vida por causa do pecado. É uma constatação de que sem Deus não há esperança (Efésios 2:12, 2 Timóteo 2:25-26). Isto acontece quando um pecador arrependido "cai em si" e anseia por retornar àquele estado de comunhão que o homem tinha com Deus antes da queda. Este é o plano original de Deus, sua vontade para nós.

Em vez de condenação, há alegria e festa no céu “por um filho que estava morto, mas agora vive, que estava perdido, mas agora foi encontrado.”

Medite...
...nesta frase: Não podemos pecar mais do que Deus pode nos perdoar. Você tem esta certeza que Deus é extremamente gracioso? Você tem desfrutado ou abusado desta graça?

segunda-feira, julho 19, 2010

As Parábolas do Mestre: a Ovelha e a Moeda Perdida (Lc 15.1-10)

A Ovelha e a Moeda Perdida
Por Reinaldo Bui



Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento (Leia Lucas 15.1-10).

As parábolas da ovelha e da moeda perdidas são as duas primeiras de uma série de três, sendo a terceira a do filho perdido ou "filho pródigo". O motivo de Jesus contar estas parábolas pode ser visto nos dois primeiros versos do capítulo 15. Aqui, publicanos e pecadores estavam se reunindo ao redor de Jesus para ouvi-lo, enquanto os fariseus e os doutores da lei murmuravam (queixavam-se injustamente): "Este homem acolhe os pecadores e come com eles." Observe que os fariseus não se queixavam de Jesus estar ensinando aos pecadores. Como os fariseus se julgavam ser “os justos professores da lei”, e todos os outros maus, eles não poderiam condenar sua pregação. Por reconhecerem a autoridade dos ensinos de Jesus, eles julgavam, consequentemente, ser incompatível com a dignidade de alguém tão conhecedor das Escrituras o comer com eles. O pressuposto por trás da declaração dos fariseus: "Este homem acolhe os pecadores..." É o que move Jesus a contar-lhes estas três parábolas.

Para compreender o significado desta declaração, devemos levar em conta que, praticamente tudo o que era feito naquela cultura, deveria ser considerado se seria uma atitude honrosa ou vergonhosa (mais ou menos como procedemos em nossas igrejas atualmente, certo?). Sejamos sinceros: a principal motivação para o que fazemos e como agimos se baseia na procura de honra para si e/ou para evitar a vergonha pública. Esta também era a preocupação central que movia as intenções de toda aquela sociedade, mas principalmente da elite farisaica.

Na primeira parábola, Jesus convida seus ouvintes a se colocarem na história: "Suponha que algum de vocês tenha cem ovelhas." Ao fazer isso, Jesus está apelando para o seu raciocínio intuitivo e para suas experiências de vida. Faça este exercício você também: se a ovelha fosse sua, o que você faria? Na conclusão da história, automaticamente, os fariseus mudaram de posição e, por causa de seu próprio orgulho, se recusaram a se identificar como uma ovelha perdida, associando-a aos pecadores, e buscaram ansiosamente o rótulo honroso de "justo", colocando-se na posição do grupo mais significativo das noventa e nove ovelhas. É aí que Jesus solta a seguinte sentença: "Haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Aqui, Jesus pode ter usado um pouco de sarcasmo na referência aos fariseus "que não necessitam de arrependimento" (leia Romanos 3:10, 23).

O mesmo se desenrola na parábola da moeda perdida. As dracmas eram moedas de prata que tinham o mesmo valor que um denário, o equivalente a um dia de trabalho. Isso podia significar pouco para os abastados fariseus, mas para um trabalhador, um dia de trabalho valia muito.

Após uma análise cuidadosa das parábolas, podemos ver que Jesus estava invertendo os valores daqueles homens, colocando de cabeça para baixo a compreensão que eles tinham da justiça humana e aceitação de Deus. Os fariseus se enxergavam como as pessoas amadas de Deus, e os pecadores como os excluídos. Na verdade, toda aquela sociedade pensava assim. Jesus usa os próprios preconceitos dos fariseus contra eles mesmos, ao valorizar os pecadores com uma mensagem desta. A mensagem é esta: “Deus tem um interesse pessoal pelo excluído e, quando Ele o encontra, coloca sobre seus ombros" (v. 5), e “busca diligentemente por pessoas que estão perdidas (em pecado) e, quando as encontra (e estas se arrependem) ele se alegra grandemente”. Jesus deixa claro que os fariseus que se achavam perto de Deus estavam distantes, e os pecadores e publicanos eram aqueles a quem Deus procurava.

Medite...
Vemos a similaridade deste recado aos fariseus em Lc 18:9-14, quando Jesus está ensinando sobre as diferentes atitudes de dois homens que oravam a Deus. Jesus os confundiu novamente quando disse que o pecador, ao invés do religioso, foi para casa justificado diante de Deus. E concluiu: “Todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado." Qual tem sido sua atitude diante dEle?

domingo, julho 18, 2010

As Parábolas do Mestre: Cabritos e Ovelhas (Mt 25.31-46)

Cabritos e Ovelhas
Por Reinaldo Bui

Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas (Leia Mateus 25:31-46)

Os dezesseis versos que compõem esta parábola parecem sugerir que a salvação é o resultado de boas obras. O grupo de pessoas comparadas às ovelhas foram os que agiram caridosamente em dar aos necessitados alimentos, bebidas, vestuário, que demonstravam hospitalidade, e que visitavam os doentes e os presos. Os cabritos parecem ter sido negligentes em relação a essas coisas, resultando em salvação para os ovinos e condenação para os caprinos. Uma leitura casual pode nos passar esta impressão. No entanto, não é este o significado desta parábola. Escritura não pode contradizer Escritura. A Bíblia ensina de forma clara e repetidamente que a salvação é pela fé através da graça e da misericórdia de Deus e não por boas obras (veja, por exemplo, João 1:12, Atos 15:11, Romanos 3:22-24, Romanos 4:4-8, Romanos 7:24-25, Romanos 8:12, Gálatas 3:6-9 e Efésios 2 :8-10).

O que Deus, então, está tentando nos revelar nestes versículos? Note que ambos os grupos representados pelas ovelhas e cabritos não estão conscientes de suas ações em relação ao julgamento que lhes é conferido, e ambos perguntam: "Quando fizemos essas coisas?" Esta questão, em si, é muito reveladora como a condição do coração das pessoas envolvidas.

Nestes versos, estamos olhando para um homem redimido e salvo, e outro condenado e perdido. Salvação ocorre no momento em que cremos em Jesus Cristo. Salvação é pela graça mediante a fé. Neste momento, você se torna filho de Deus (cf. Jo 1,12-13). Paulo, em 2 Coríntios 5:17, nos diz que:

"Se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo."

Então, o que é, exatamente, que nos torna uma "nova criação", visto que estamos ainda nesta carne (Romanos 7:14-25), ainda vivemos neste mundo (Tiago 4:4) e, sem dúvida alguma, ainda somos pecadores (cf. 1 João 1:8)?

A mudança ou transformação que ocorre em nós no momento da conversão é o fato de que somos selados por Deus com o Espírito Santo. Salvação, aqui, significa que recebemos algo de Cristo, ou seja, o perdão dos pecados. A partir deste momento, quando o Pai nos olha, Ele vê pessoas justificadas pelo sangue de seu Filho em vez de ver a nossa própria natureza pecadora, e é somente desta forma que as nossas obras se tornam aceitáveis para ele. Essas obras não são obras feitas por nossa velha natureza, mas pelo poder do Espírito que reside em nós. A partir da salvação, nosso dever como cristãos é nos tornarmos discípulos de Cristo, é ser como Ele é.

Em Gálatas 5:22 lemos que o fruto do Espírito em nossa vida é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, mansidão, fidelidade e domínio próprio. Estes são os traços característicos que Jesus Cristo exibiu por toda sua vida aqui na terra e que devem ser os nossos também. Estes frutos amadurecem num cristão em proporção direta à liberdade que este dá ao Espírito Santo para trabalhar em sua vida. As boas obras na vida do crente são o transbordamento desta habitação, e só são aceitáveis por Deus por causa da relação que existe entre o servo e seu Senhor, a ovelha e seu pastor.

Portanto, a mensagem central da parábola dos cabritos e das ovelhas é que as boas obras resultarão da nossa relação com o nosso pastor. Seguidores de Cristo produzirão naturalmente estas obras: tratarão a todos com bondade e lidarão com o próximo como Cristo faria. Aqueles que rejeitam a Cristo vivem de maneira oposta. Os "cabritos" podem, certamente, fazer atos de bondade e caridade, mas os seus corações não abrigam verdadeiramente em si o propósito correto: honrar e adorar a Deus.

Medite...
Onde, exatamente, nós estamos em relação ao nosso Pastor? Qual é a condição do seu coração? Guarde esta frase: "Não é loucura abrir mão do que não se pode manter, para abraçar aquilo que não se pode perder" (Jim Elliott).

sábado, julho 17, 2010

As Parábolas do Mestre: Entendendo Melhor

Explicando Melhor...
Por Reinaldo Bui

Quando Jesus ficou só, os que estavam junto dele com os doze o interrogaram a respeito das parábolas. Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas? (Leia Marcos 4.10-13)

Lembre-se que antes de começar a parábola do semeador, Jesus estava diante de uma multidão e precisou entrar num barco para falar a seus ouvintes. Mais tarde, ao terminar seu doutrinamento, Ele ficou só com seus discípulos, que o interrogaram a respeito das parábolas (detalhe revelado no evangelho de Marcos, verso 10 do capítulo 4). Foi então que Jesus os questionou:

Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas? (Marcos 4.13)

E, neste contexto, Ele revelou o motivo de falar em parábolas:

Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados.

Ao citar Isaías, automaticamente seus discípulos se lembrariam que houve uma época em que o coração do povo estava tão endurecido que Deus deu àquele profeta a missão nada animadora de pregar, pregar, pregar, pregar... e não ver resultado algum. O próprio Senhor endureceria de vez o solo daquelas almas para que elas não se convertessem! Ai! é a exclamação que mais se repete nesta passagem (Isaías 5 e 6). Você acha que isso ainda acontece hoje em dia? Certamente que sim. Ao mesmo tempo, no entanto, Jesus também aliviou o coração de seus discípulos:

Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido. Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem. Pois em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram (Mateus 13.11,16,17).

Em meio a isto tudo, Jesus solta outro enigma (Mt 13.12):

Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.

O que ele quis dizer com isto? Em primeiro lugar, lembre-se que o teor, o cerne, o significado de todas estas parábolas é a mensagem do evangelho. Além disso, note que dentro deste contexto Jesus exorta repetidamente: Ouça! Preste atenção! Atendei ao que ouvis! Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Felizes os que ouvem!... O que isto lhe sugere?

Agora, imagine que um amigo seu está desempregado e, para suprir suas necessidades, você se compromete a entregar-lhe uma cesta básica mensalmente. Alguns meses depois, você constata que seu amigo não está fazendo um bom uso deste alimento, antes o ignora, desperdiça e estraga. O que você faz? Continua a doação ou procura alguém que realmente necessite e faça bom uso dela? É disto que Jesus está falando. À medida que abrimos o nosso coração, recebemos e utilizamos bem estas sementes que são a sua Palavra, Deus terá o prazer em nos revelar cada vez mais os mistérios do seu reino – que, na sequência, é comparado a várias situações, e não coisas. Para concluir, Jesus finalmente pergunta:

Entendestes todas estas coisas? Responderam-lhe: Sim! Então, lhes disse: Por isso, todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas.

Medite...
Você tem aberto seu coração diariamente para a Palavra? Tem um coração disposto a ouvir? O que você tem feito com o já que tem recebido, com o que Deus lhe tem revelado? O que você tem guardado em seu depósito?

sexta-feira, julho 16, 2010

As Parábolas do Mestre: A Semente no Coração Disposto (Mateus 13.8,23)

A Semente no Coração Disposto
Por Reinaldo Bui

"Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um.... Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a sessenta e a cem por um" (Mateus 13.8,23).

Chegamos à boa terra. O solo que Jesus procura para semear e cultivar a sua Palavra.

Este coração representado pela boa terra foi o que arou o terreno, removeu as pedras, limpou os espinhos, alcançou raízes profundas e se encontra num clima favorável para frutificar com abundância. Foi um longo e duro trabalho até aqui, mas agora... A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga (Marcos 4:28).

Estes não são movidos apenas pelo entusiasmo das boas novas, nem por um apelo emocional e nem por algum interesse, mas pelo desejo desesperado de aprender, de crescer e de mudar. Este grupo de pessoas não é, necessariamente, o mais culto, inteligente, puro, ético, religioso. Geralmente são mais complicados, têm enormes defeitos, fracassaram inúmeras vezes, são considerados inferiores e sem significância em nossa sociedade, porém, sabem superar seus conflitos e dar valor ao que realmente importa, pois abriram seu coração ao Semeador e aplicaram sua Palavra dentro de si mesmos. Alguns já erraram feio, como Pedro, mas perceberam seus erros, tiveram coragem de reconhecer suas limitações, de se esvaziar e de aprender com as próprias falhas. Não tiveram medo de chorar e de começar tudo de novo. É em corações assim que Deus trabalha.

Os discípulos aprenderam que, para seguir a Jesus, não bastava admirá-lo. Não bastava simplesmente reconhecer que Ele era o Cristo, o Filho do Deus Vivo. Segui-lo exigia um preço: reconhecer suas próprias misérias, enfrentar o egoísmo, o individualismo, o orgulho e o medo que contamina diariamente a nossa alma. Era preciso aprender a amar incondicionalmente, a oferecer a outra face e a não desistir de si e de ninguém, por maior que fossem as falhas e os fracassos...

A Palavra nos transforma, e tem o poder de nos modificar radicalmente. Entretanto, Ela não o faz automaticamente. Por toda a narrativa dos evangelhos lemos que, ano após ano, os discípulos apresentavam reações agressivas e egoístas, competiam, queriam ser um maior que o outro e, até o fim, o individualismo ainda reinava. Para piorar, no momento da cruz, o medo dominou todos eles.

Mas Jesus estava tranquilo, pois confiava que as sementes que Ele plantara logo germinariam. Para Jesus, nenhum solo era inútil ou imprestável. Uma prostituta poderia ser lapidada e ter mais destaque que um fariseu. Um coletor de impostos poderia ser transformado acima de qualquer moralista religioso. Podiam lhe esbofetear e cuspir na cara, mas ele surpreendentemente respondia com perdão.

Raramente alguém acreditou tanto no ser humano. Nunca alguém entendeu tanto os cantos escuros da nossa alma e desejou transformar a nossa vida num jardim para o mundo como Jesus o fez.

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

Medite...
A quem se dirige esta parábola? Quais são seus medos? Que tipo de solo você representa? Quantas vezes você já ‘pisou na bola com Deus? Conhece pessoas que sofrem por achar que para elas não há mais solução?

quarta-feira, julho 07, 2010

As Parábolas do Mestre: A Semente no Coração Espinhoso (Mateus 13.7,22)

A Semente no Coração Espinhoso
Por Reinaldo Bui

"Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto.. Os outros, os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera." (Mateus 13.7,22)

Dos três que vimos até agora, este solo é o melhor. Ele é adequado para o plantio. As sementes
germinaram, criaram raízes, encontraram um excelente clima para crescer. Não há pedras. Os problemas e o sofrimento não conseguiram interferir no crescimento.

Mas, junto com a Palavra semeada, apareceram pequenas gramíneas que a princípio não aparentavam nenhum risco. Havia espaço para todas as plantas e elas pareciam poder conviver perfeitamente juntas. Logo os meses se passaram e o previsível aconteceu: os espinhos cresceram muito mais do que aquela planta. A competição foi desonesta! Competiam pelos nutrientes, oxigênio, água, sol. O desenvolvimento natural das plantas foi abalada e elas, mesmo tendo raízes e porte, não frutificaram e, por fim, desapareceram no meio do matagal.

Que tipo de pessoa este solo representa? Representa pessoas que conhecem a Palavra, são sensatas, atingiram algum nível de profundidade, permitiram o crescimento das sementes do amor, do perdão, da sabedoria e da solidariedade. Elas suportaram os sofrimentos, as pressões, o calor sufocante dos problemas, a aridez e as dificuldades externas. Dia a dia tornaram-se fortes para vencer os problemas da vida, porém, não estavam preparadas para suportar as tentações que o nosso mundo oferece, e que cresciam sutilmente à sua volta. Note que enquanto as pedras representam problemas ocultos no íntimo do seu coração, os espinhos estão do lado de fora, por toda a parte. Todo agricultor sabe que não é preciso semear o mato, ele nasce sozinho. Sabe que sua capacidade de crescimento é maior do que qualquer planta que se deseja cultivar. Sabe ainda que, se não capinar regularmente, em pouco tempo ele toma conta da plantação.

Jesus disse que estes espinhos representam as preocupações e a ansiedade por causa das coisas deste mundo, as ambições e a fascinação por riquezas. Somos bombardeados diariamente com a ideia de sucesso e prosperidade (inclusive dentro da igreja). Muitos permitem que o mato cresça, justamente, por ele exercer tanto fascínio sobre o ser humano. São coisas como: dinheiro, fama, reconhecimento, admiração, o querer ser maior do que os outros, etc.

Mas, quem não tem ambições na vida? Quem não se perturba com as incertezas do futuro? Quem não tem preocupações na vida? Algumas destas são legítimas. O problema é quando elas nos controlam, roubam nossa tranquilidade e nossa capacidade de decidir. Quem não tem o cuidado de "capinar" diariamente o seu terreno, ao longo da vida, passa a ser uma pessoa amarga e não consegue entender por que é infeliz, solitária e vive com medo do amanhã, de perder suas posses e sua posição. Embora tenha todos os motivos para sorrir (tem sucesso, dinheiro, prestígio), não consegue ser feliz. Por quê? Porque não limpou as ervas daninhas ao seu redor que se enraizaram no seu coração. Além disto, mais cedo ou mais tarde, todos teremos que deixar para trás todo este mato que acumulamos na vida e só poderemos levar os frutos colhidos das sementes da justiça. Como este dia será?

Medite...
Você tem tido o cuidado de capinar diariamente os espinhos à sua volta? Tem dado a atenção devida às principais plantas da sua vida? Tem cuidado delas (e de você)? Tem deixado a Palavra frutificar em sua alma ou tem permitido que todo tipo de mato à sua volta abafe o que é mais importante?

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terça-feira, julho 06, 2010

As Parábolas do Mestre: A Semente no Coração Pedregoso (Mateus 13.5-6,20-21)

A Semente no Coração Pedregoso
Por Reinaldo Bui

“Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se... Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam.” (Mateus 13.5,6,20,21)

Reconheçamos: este tipo de solo é melhor do que o primeiro. Bem, pelo menos ele apresenta condições mínimas para germinar. Mas quem este solo rochoso representa?

Como o próprio Jesus disse, são aqueles que receberam a palavra com alegria, mas um dia se deixaram dominar pelos problemas, perdas e perseguições. São pessoas que perceberam que Deus não eliminaria todas as suas dificuldades e se decepcionaram ao crer que todas as suas orações seriam atendidas. Pensaram que seguir a Jesus seria um céu sem tempestade, trabalho sem fracassos, vida sem sofrimento... Mas se enganaram.

Lembre-se que Jesus nunca fez estas promessas. Prometeu, sim, força nas tribulações, refrigério nos momentos de aflição e coragem nos momentos de fraqueza. Os evangelhos testemunham momentos de crise na vida de Jesus, até risco de morte. Os próprios discípulos ficaram abalados. João Batista chegou a questionar: será que é o Messias? 

Não poucas vezes, em momentos de provações, quando o sol do sofrimento bate em nossas cabeças, nos questionamos: vale a pena segui-lo?

Desanimados, muitos desistem e o abandonam. Creio que todos passam por momentos de crise depois da conversão. Nenhum de nós é um gigante, temos a mesma natureza e somos feitos do mesmo material. No entanto, enquanto que para alguns um problema representa uma pequena pedra, fácil de remover, para outros representa uma montanha.

Não é fácil suportar o sol do sofrimento sobre nossa cabeça, mas é necessário. Fugir é covardia, enfrentá-lo demonstra fé e confiança. Porém, qual é a melhor maneira de enfrentar os problemas e suportar o calor do sofrimento? Aprofundando nossas raízes. Nas raízes de uma árvore está o segredo do seu crescimento. Muitas vezes invejamos o crescimento de alguém, mas não atentamos para o duro caminho que ele percorreu. Observamos só o resultado, mas não olhamos para a fé, determinação, paciência, perseverança, humildade, abnegação, coragem, simplicidade... 

Vivemos numa cultura que se preocupa apenas com resultados imediatos e não se interessa em cultivar raízes. Agindo assim, não pense que encontrará água nos dias mais secos e quentes. Sua semente recém germinada fatalmente secará.

Uma planta que vence as rochas e atinge águas profundas, esta permanece.

Todos nós passaremos por dias difíceis. Pode ser uma perda, doença, expectativas não correspondidas, uma depressão, desespero, vontade de jogar a toalha...

São estes momentos que Deus utiliza para trabalhar em nossas almas e aprofundar raízes internas. Os problemas e os sofrimentos são as ferramentas que Deus usa para que nós cavemos mais profundamente; para que nós enxerguemos nossas pedras e aprendamos a removê-las do nosso interior; para que a semente da Palavra possa aprofundar suas raízes em nossa alma.

Medite...
Responda sinceramente: Que pedras você carrega no subsolo do seu coração que impedem o enraizamento da Palavra? Existe algo que você fez no passado que prefere não lembrar? Há alguma ofensa a ser perdoada? Algum relacionamento a ser restaurado? Algum pecado a ser confessado?

segunda-feira, julho 05, 2010

As Parábolas do Mestre: A Semente no Coração Endurecido (Mt 13.4,19)

A Semente no Coração Endurecido
Por Reinaldo Bui
E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram... São estes os da beira do caminho, onde a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles” (Mateus 13.4,19)

Normalmente aplicamos esta parábola a um contexto evangelístico, esquecendo-nos que a Palavra não se limita apenas às boas novas da salvação. Ela existe também para nos ensinar, repreender, corrigir e educar na justiça, a fim de que sejamos amplamente capacitados para toda boa obra. Estas sementes visam também o nosso crescimento espiritual. Jesus foi o maior dos semeadores e, nesta parábola, Ele se posiciona como tal e nos compara a um terreno onde serão depositadas suas sementes, classificando a alma, isto é, o coração humano, em vários tipos de solo. O que impressiona é que ele não os classificou pela capacidade de errar e acertar ou vencer e fracassar, mas sim pela receptividade, desprendimento e disposição para aprender. Para ele, o coração humano é o solo mais apropriado para receber suas sementes. O que mais podemos fazer com estas sementes senão enterrá-las em nossos corações? Só uma semente enterrada pode germinar, e uma vez desenvolvida deve frutificar, transformando nossas emoções e nossos pensamentos. Este fruto é caracterizado por amor, alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fé, mansidão, domínio próprio, além de uma capacidade sobre-humana para perdoar e servir.

Os quatro tipos de solo que Jesus descreve nesta parábola podem representar quatro tipos de personalidades distintas ou quatro estágios da mesma personalidade.

O primeiro tipo de solo aqui apresentado está compactado, endurecido e impermeável. Ele representa aquelas pessoas que têm seu próprio caminho e não estão abertas para algo novo, não estão dispostas a aprender. Elas se fecham dentro do seu mundo, são orgulhosas, não conseguem se abrir para novas possibilidades ou novos pensamentos. São inquestionáveis e sentem-se donas absolutas da verdade. Seus corações são compactados como a terra pisada de uma estrada. Quando põem uma coisa na cabeça, ninguém consegue fazê-las mudar de idéia. Quantas pessoas nós conhecemos que possuem estas características? É fácil identificar? Agora pense: quantas vezes não agimos assim? Somos turrões, teimosos, não permitimos que nos questionem e explodimos diante da menor ameaça de confronto. O mundo tem que girar em torno do que pensamos, achamos e sentimos. As dores e experiências difíceis deveriam funcionar como um arado, mas em vez de aprendermos com elas, só pioramos a situação! Dessa maneira, vamos ficando cada vez mais intolerantes e fechados. 

Assim eram os fariseus, assim eram os discípulos de Jesus e assim somos nós. A diferença é que, em algum momento, os discípulos abriram o coração. Eles tinham inúmeros defeitos, mas eram pessoas ensináveis. O orgulho deles não tinha grandes raízes, o que os diferenciava dos fariseus. Nem as sementes de amor que Jesus semeava germinam num solo compactado. Por quê? Porque Deus não violenta a alma de nenhum ser humano, mas trabalha no coração daqueles que lhe permitem. Quanto àqueles que insistem em manter seus corações tão endurecidos...

“vendo, vêem, e não percebem; e ouvindo, ouvem, e não entendem... não se convertem e não são perdoados”. (Mt 13.13)

Por isso Deus exorta: "Quando ouvirem a minha voz, não endureçam seus corações..." (Hb 3.8)

Medite...
Como está o terreno do seu coração? Você consegue ser ajudado pelas pessoas que o rodeiam? Seus erros (se os reconhece) e sofrimentos conseguem sulcar seu coração e torná-lo apto para que mais sementes possam germinar?

domingo, julho 04, 2010

As Parábolas do Mestre: Introdução

Esta é uma nova série de devocionais criada por Reinaldo Bui, o mesmo autor de "Devocional em Tiago." Agora, todavia, seu foco de reflexão é nas Parábolas do Mestre.

Introdução
Por Reinaldo Bui

Desde a queda do homem no Éden, e seu consequente afastamento de Deus, o coração humano deixou de ser um jardim onde Deus passeava para se tornar um lugar árido, duro, pedregoso, espinhoso e difícil de lidar. O Senhor poderia ter desistido de nós, mas, em vez disso resolveu nos restaurar. Ele não cessou sua comunicação, pois tinha um plano maior que nos foi sendo revelado progressivamente. Porém, desde muito, ele cedo assistia às reações hostis e violentas de uma humanidade cujo coração insensível é marcado pela rebeldia. É este coração que Ele quer transformar, tal como um agricultor que transforma uma paisagem morta num campo produtivo. Jesus veio executar definitivamente esta obra através de uma Eterna Aliança. Ele é o ápice da revelação de Deus. Ele conhece como ninguém a alma do homem, seu potencial e suas limitações, pois se encarnou, viveu e sofreu as mesmas aflições que nós. Pode-se dizer que a grande tarefa de Jesus no mundo foi transformar o coração de uma dúzia de homens iletrados e incultos, para que estes semeassem o planeta com sua mensagem de amor. Jesus não desejava corrigir o comportamento exterior e nem produzir pessoas que reagissem como robôs bem comportados. Ele não queria dar meros ensinamentos, regras de comportamentos e normas de conduta como: - Isso pode, isto não pode.

Numa Antiga Aliança, Deus havia dado leis que procuravam corrigir o homem, discipliná-lo, fazê-lo ter uma convivência social saudável. Essas leis falharam, não por culpa da Lei (que é perfeita, boa), mas porque: "...pela Lei vem o pleno conhecimento do pecado". (Romanos 3.20). A lei e as regras de conduta buscam moldar o homem exterior. As sementes que Jesus semeava, uma vez geminadas, mudariam o homem interior para sempre.

Jamais houve alguém que desejasse transformar mais o mundo do que Jesus, porém, ele não usou de qualquer tipo de violência e pressão para isso. Ele preferiu utilizar a sabedoria e o amor ao invés da força e do poder. Seu objetivo era atingir o interior do ser humano e inspirar desejo de mudança, criatividade e a capacidade de pensar em coisas eternas; era plantar boas sementes no coração de seus discípulos para que estes o compreendessem e o amassem a ponto de darem suas vidas por Ele.

Esta tarefa, entretanto, era gigantesca, pois, assim como nós, eles tinham uma natureza bastante corrompida por causa do pecado. Assim como eles, somos imperfeitos e superficiais. Jesus sabe que nossa natureza não muda da noite para o dia, mas Ele é persistente. Este é o Senhor a quem nós adoramos e servimos!

Alguns homens, envolvidos pelas palavras de Jesus, deixaram tudo para trás para segui-lo, mas suas obras e atitudes os confundiam. Muitos pensaram que ele era um grande estadista, alguém capaz de reunir um grande exército, alguém cujo mundo se inclinaria diante de seu poder. Não poucos se decepcionaram com sua humildade e com a simplicidade de suas ações, pois mesmo sendo grande, ele parava para atender aos mais sofridos e desprezados daquela sociedade: atendia aos pedidos dos leprosos, cegos e aleijados e até advogava a favor de prostitutas e mulheres de má fama. Quando o povo queria aclamá-lo rei, ele se retirou para assumir o papel de um humilde servo. Era impossível ficar indiferente à pessoa de Jesus! Seus discípulos não compreendiam exatamente a quem seguiam e ficavam profundamente admirados com seus gestos; seus inimigos, extremamente irados, não sabiam quem perseguiam. No entanto, uma coisa não podiam negar: Ele tinha o poder de alcançar com sua mensagem o mais íntimo do coração humano. De forma bastante econômica e precisa no falar, Jesus conseguia tratar em uma parábola o que precisaria de um livro para ser explicado.

Certa vez, Jesus contou uma parábola:
- Eis que o semeador saiu a semear*...
Explicou: - O semeador é o que semeia a palavra**...
E advertiu: - Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!*

Portanto, comece prestar mais atenção às Palavras de Jesus.

(*Mateus 13.3,9; **Marcos 4.14)