quinta-feira, julho 29, 2010

As Parábolas do Mestre: O Filho (Des)obediente (Mt 21.23-31)

O Filho (Des)obediente
Por Reinaldo Bui

Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus (Leia Mateus 21.23-31).

A chave para a interpretação desta parábola está na compreensão do relacionamento de Jesus com os fariseus. Para isso, precisamos voltar um pouco e olhar para o contexto geral da passagem. O ponto central do evangelho de Mateus é apresentar Jesus como o Messias esperado, e o capítulo 21 começa com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. A multidão responde dando louvores ao rei, gritando Hosana, hosana. Esta palavra deriva da união de duas palavras em hebraico (hoshiah na), que literalmente querem dizer "salva, pedimos.” Com o tempo essa oração se tornou uma exclamação de louvor.

O primeiro ato do rei à entrada de Jerusalém é a purificação do templo (21:12-17). Depois, vemos Jesus amaldiçoar uma figueira (21:18-22). O relato da figueira pode parecer uma história isolada, mas este fato estava carregado de importantes significados. A figueira era uma das figuras de Israel, conforme vemos em Oséias 9:10 ou Joel 1:7. O fato de que a figueira tinha muitas folhas e nenhum fruto simbolizava a intensa atividade religiosa de Israel, com todos os artifícios da espiritualidade, mas sem substância alguma. Israel podia apresentar sua exuberante folhagem da religiosidade, mas não o fruto do arrependimento, e a obediência a Deus era inexistente. Por este motivo, Jesus diz àqueles que eram responsáveis pela vida religiosa que as prostitutas e os cobradores de impostos os precediam no reino.

Mais uma manhã se inicia e Jesus está ensinando no templo. Neste contexto, o sumo sacerdote e alguns anciãos começam a confrontá-lO querendo saber com que autoridade Ele estava ensinando. Para não ‘entrar na deles,’ Jesus toma o controle da conversa respondendo à pergunta com outra pergunta. Eles foram pegos de surpresa e não conseguiram pensar em uma resposta que satisfizesse a pergunta de Jesus sem complicá-los. Jesus, muito sabiamente, estava mostrando que não iriam se livrar daquela tentativa óbvia de persuasão, e que Ele não era obrigado a responder à pergunta deles. Ademais, Jesus comunicara a seus opositores que a autoridade que João Batista recebera partia da mesma fonte. Essa vergonhosa “rasteira” que levaram publicamente de Jesus despertou grande fúria naqueles líderes religiosos, além de desencadear enorme oposição. Jesus, então, aborrece ainda mais os sacerdotes, contando duas parábolas.

A primeira é a parábola dos dois filhos. É uma história bem simples, de um homem que pede a seus filhos que fossem para a vinha trabalhar. O primeiro filho concordou, mas depois deliberadamente desobedeceu e não foi. O segundo filho, que a princípio se recusou a ir, obedeceu e foi. Este foi o filho que, finalmente, fez a vontade do seu pai. Jesus, então, claramente o associa aos publicanos e prostitutas, párias da sociedade judaica, porque eles, aceitando "o caminho da justiça," creram na mensagem de arrependimento de João Batista apesar de serem evidentes não-cumpridores da Lei. Já os líderes de Israel são representados pelo primeiro filho, pois alegavam obediência, mas não faziam a vontade do pai.

Não era simplesmente uma questão de conhecer ou não a vontade do pai, visto que ambos conheciam. No caso de Israel, seus líderes eram os que mais conheciam a vontade de Deus, e orgulhavam-se disto. Seu motivo de orgulho, no entanto, seria o principal agente de sua condenação. No capítulo 23, Jesus ‘bate de frente’ com seus opositores religiosos, e as acusações não são outras senão o fato de eles serem zelosos cumpridores de tradições e regrinhas humanas (Paulo as chama de ensinos de demônios), distorcendo, acrescentando ou omitindo os princípios mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

As motivações que moviam estes homens eram, basicamente, o reconhecimento público, a fascinação pelas riquezas e a ambição pelo poder. Por isso a advertência:

Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus (Mateus 16.6).

Medite...
Como é fácil cair na religiosidade e esquecer-se de Deus. Quais são os cuidados que precisamos tomar para não cair neste erro? Que fermento é este que pode nos contaminar?

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