domingo, fevereiro 28, 2010

Devocional em Tiago: Língua e Religião

9- Língua e Religião
Por Reinaldo Bui

Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum! A religião que Deus nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e manter-se incontaminado pelo mundo (Tg 1.26-27).

Tiago é extremamente prático. Sua preocupação ao escrever esta carta não era defender doutrinas argumentando filosoficamente. Esta passagem (e outras que veremos mais tarde) demonstra isto. A palavra aqui traduzida como religioso significa literalmente “o que teme ou adora a Deus,” referindo-se a alguém espiritual. Neste contexto Tiago alista, nestes versículos, três atitudes práticas para se demonstrar verdadeira espiritualidade. Primeira é saber refrear a língua: a maior dificuldade do ser humano. Os pecados relacionados com a língua são tão graves que várias partes das Escrituras tratam sobre o assunto (inclusive Tiago). Você já contou alguma mentira ou alguma piada maliciosa? Já falou além da conta ou a respeito de alguém que não estivesse presente? Respondeu mal para algum professor, pais ou colegas? Ridicularizou alguém? Refreie sua língua!

A segunda atitude seria cuidar dos órfãos e das viúvas em dificuldades. Havia em Israel leis específicas para isto. Aliás, parte do dízimo ofertado pelos judeus era destinado a este propósito. Isto significa alguma coisa para nós hoje? Sem dúvida que sim. Embora a igreja possa se esquivar de suas responsabilidades sociais, encerrando esta responsabilidade nas costas do governo com a desculpa de precisar construir templos cada vez maiores e mais confortáveis, não pode negar que cresce a cada dia o número de crianças de rua e marginalizados em nossa sociedade. Vivemos num país laico onde os governantes ateus fazem vista grossa aos graves problemas sociais que nos assola. Isso é mais do que normal. Não era para ser, mas é. O que não é normal é a Igreja fazer o mesmo. O que podemos fazer individualmente como parte deste corpo? Cuidar dos órfãos e das viúvas é amar o próximo como Cristo nos amou. Deus quer derramar sua graça sobre os menos favorecidos, mas quer fazer isto através de nós. A Igreja é Seu instrumento para alcançar os órfãos e as viúvas da nossa geração. 

A terceira atitude que demonstra verdadeira espiritualidade é manter-se incontaminado pelo mundo. Contaminar é deixar-se corromper, viciar ou contagiar com as propostas atraentes deste sistema que vivemos. É diferente do ascetismo fortemente defendido por várias denominações. Paulo escreve em Colossenses que uma série de proibições e restrições a coisas materiais não tem valor nenhum para refrear os impulsos da carne (não tem nada a ver com verdadeira espiritualidade). O agravante é que muitos vírus têm maculado os crentes através de uma falsa religiosidade. O próprio Jesus disse que a contaminação pelas coisas do mundo não se dá pelo que você come, mas pelo que brota do seu coração. Quando achamos normal o que fazemos por que “todo mundo faz” é sinal que já estamos contaminados. Por exemplo: falar dos outros ou defender que matar ou manter um pivete preso é a solução para vivermos em paz já demonstra que estamos contagiados. Cada um examine a si mesmo...

Tiago estava preocupado com a atitude dos primeiros cristãos de Jerusalém. Paulo igualmente se preocupava com os seus, porém mais com a igreja dos gentios. Paulo também precisou resolver problemas concernentes à espiritualidade. As cartas que ele escreveu aos gálatas e aos coríntios são demonstrações claras deste tema: ser espiritual. Uma igreja estava querendo voltar-se para a Lei e a outra estava entregue a carnalidade. Paulo foi duro com os coríntios, mas muito mais com os gálatas. Em ambas ele demonstra o antídoto para o mal. Se há um ‘espiritosantômetro’, seu ponteiro deve ser o amor e seus indicadores são: alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Viver a plenitude do Espírito é demonstrar as qualidades deste fruto em nossas vidas para que o mundo veja em nós o caráter de Cristo. Na prática, isto deveria afetar positivamente toda a nossa sociedade.

Veja o devocional anterior:

W. T. Richardson: Marca de um Santo

The mark of a saint is not perfection, but consecration. A saint is not a man without faults, but a man who has given himself without reserve to God.

(Tradução) A marca de um santo não é a perfeição, mas a consagração. Um santo não é um homem sem falhas, mas um homem que se deu sem reserva a Deus.


-- W. T. Richardson

sábado, fevereiro 27, 2010

Devocional em Tiago: Da Teoria à Prática

8- Da Teoria à Prática 
Por Reinaldo Bui

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar (Tg 1.22-25).

Quando esta carta foi escrita, a única forma de contemplar sua própria imagem era através do reflexo na água ou por meio de um metal polido. Estes eram os espelhos existentes na época. Tiago separa os crentes em duas categorias: ouvintes e praticantes. Compara o ouvinte àquela pessoa que examina sua face num espelho e mesmo constatando que sua aparência não está adequada, vira-se e logo se esquece do que viu. Faltam-lhe os dentes, seu cabelo está sujo e desajeitado, sua barba por fazer confunde-se com a sujeira impregnada no seu rosto, mas como não está mais contemplando sua face, age como se estivesse tudo bem. Já o praticante é aquele que vê, não se conforma, sabe que precisa mudar e passa a tomar medidas para melhorar este reflexo nada atrativo. Não se trata de culto à beleza, ênfase dos nossos dias, mas sim que a Palavra tem também a competência de refletir nossos defeitos. Porém, ela não nos transforma por si só. Precisamos trabalhar para esta transformação.

Embora os espelhos atuais tenham uma capacidade refletiva muito superior aos daquela época, eles ainda não tem a capacidade de consertar o que está errado, assim os mais preocupados com sua aparência dependem do serviço de um profissional para se ajeitar. Mas pena que é dada mais importância para o espelho de vidro do que à Palavra (o espelho de nossa alma). Tiago continua: Mas o homem que observa atentamente a lei... diz respeito ao primeiro passo que devemos tomar para que a Palavra alcance seu objetivo em nós. Sendo a Palavra de Deus, não podemos nos limitar a "uma olhadinha", precisamos nos debruçar para dedicar cuidado. Precisamos gastar tempo com a Palavra e fazê-lo bem feito. A mesma ideia foi exprimida no Salmo primeiro: ...antes o seu prazer está na Lei do Senhor e nela medita dia e noite. Observar atentamente e meditar dia e noite na Lei é um privilégio que temos para conhecer o que Deus tem a nos ensinar. Não se trata de uma "lei de restrições e punições” como os judeus a interpretavam e como muitos ensinam atualmente. Tiago chama esta Lei de perfeita, porque ela exprime toda a vontade de Deus. Talvez ele tivesse em mente o Salmo 19 quando escreveu estas linhas, e acrescenta: Lei da liberdade.

Liberdade é um conceito pouco compreendido pelos que vivem debaixo da escravidão da Lei, pois confundem com libertinagem. Libertinagem é a vazão da carne diante da liberdade. Podemos entender duas coisas deste termo Lei da liberdade. A primeira é que quando cumprimos com a vontade de Deus, garantimos a nossa liberdade e a de todos os que nos cercam com segurança. Outra é a liberdade para cumprir o princípio máximo dos mandamentos da Lei, ou seja, liberdade para amar a Deus e amar o próximo através da entrega voluntária da nossa vida. Os que são da carne não podem compreender esta liberdade que temos em Cristo, (liberdade para amar e servir) porque isto lhe parece loucura.

Tiago continua estimulando-nos a perseverar na lei, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante. Isto significa aplicar em nossa própria vida o que temos enxergado na reflexão honesta e sincera da Palavra de Deus. Paulo nos exorta (em Romanos 12) a nos transformarmos pela renovação da nossa mente para que experimentemos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Para renovar nossa mente precisamos passar por uma transformação, e para iniciar este processo precisamos de um espelho. Adivinhe qual é? Por fim, Tiago completa: esse será bem-aventurado no que realizar. Este é o caminho para felicidade genuína. Não vem de algo temporário, feito num momento, ou por um comprimido, por um programa, por ganhar algo, mas por verdadeira comunhão com Deus. Isto só se consegue gastando tempo com Ele!

Veja o devocional anterior:

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Devocional em Tiago: Primeiro Ouça

7- Primeiro Ouça
Por Reinaldo Bui

Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para se irar, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus. Portanto, livrem-se de toda impureza moral e da maldade que tanto prevalece, e aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los (Tg 1.19-21).

Sejamos honestos, não gostamos de ouvir. Estamos sempre prontos a expressar nossa opinião e nos iramos facilmente. Nossa ira visa a nossa justiça, não a de Deus. Assim a impureza e a maldade prevalecem em nossa vida. Não somos humildes para aceitarmos a Palavra que visa a nossa salvação. Isto é tão verdade hoje como era quando Tiago escreveu sua carta. A postura que ele propõe que nós assumamos tem a ver com o modo de vida que Deus espera que tenhamos e que (curiosamente!) é completamente avessa a nossa natureza.

Sua orientação para revertermos este quadro começa com a área mais difícil para nós, mas que é fundamental: começa com saber ouvir. Leia isto com muita atenção: ...tenham isto em mente: sejam todos prontos para ouvir.... Ouvir é a ação mais básica para se aprender em qualquer situação. Devemos ouvir, mas ouvir o quê? Ele completa no v.21: a Palavra. Esta palavra, quando cuidada e nutrida, acaba crescendo em nós. Esta ação esperada, de ouvir, está relacionada com ter um espírito receptivo, atento ao que Deus tem a falar, pois a nova vida é o começo e isto envolve uma postura ensinável. Não seja obstinado, cabeça dura, coração de pedra. Aprenda a ouvir, por mais difícil que seja. 

Se você achou difícil o primeiro, o segundo passo vai um pouco além: Sejam todos... tardios para falar e tardios para se irar. Resista à tentação de responder descontroladamente, nem use a desculpa de “sou sincero e falo o que penso”. Aprenda, vença a tentação da impulsividade. Fique quieto num primeiro momento, reflita e responda depois. Esta atitude complementa-se, harmoniza-se com ser tardio a se irar. Mansidão é fruto do Espírito, e significa adotarmos uma atitude humilde gentil, doce e branda, diferente da atitude soberba, hostil e vingativa que a ira levanta.

Se sabemos estas coisas, devemos dar continuidade. O processo não está concluído. As próximas medidas que devemos tomar são: livrar-se da impureza moral e da maldade. A palavra utilizada para descrever esta ação (livrar-se) é a mesma de despir-se, ou seja, tirar esta roupagem que vestimos. Despojar é tirar a roupa. As velhas vestes, hábitos e costumes precisam ser mudados. Podemos iniciar elegendo um pecado que mais nos assola e o priorize para ser tratado. Há também os pesos que não são essencialmente pecados, mas que comprometem a nossa dedicação ao Senhor, como por exemplo, tempo na frente da TV e do computador, entretenimento, diversão, leitura escolhida, etc. Aqui neste texto a palavra utilizada para impureza é um termo parecido com o empregado para descrever o cerume do ouvido, o que compromete o ouvir. Se você chegou até aqui, só falta mais um passo: livrar-se de toda maldade. Diz respeito a palavras que abordam o mal em geral, mas que se aplicam a ações objetivas. Não é nada distante de nós. Por exemplo, tem a ver com depravação e malícia, mas também com a intenção de ofender alguém. Se conservarmos estas coisas em nós, entupimos nossos ouvidos, e não ouvimos o que Deus tem a nos falar. Deste modo, nem tão pouco Ele atenta ao que falamos. O remédio? Confesse (1Jo 1.9) e abandone estes pecados. Dependa da graça de Deus para se livrar de todos os males. O orgulho invejoso, uma atitude agressiva que compete com outros e busca sua autopromoção pode impressionar o mundo, mas está longe do alvo que Deus propõe para nós que é produzir em nós a Sua justiça. Aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los.

Veja o devocional anterior:

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Devocional em Tiago: Vitória nas Tentações

6- Vitória nas Tentações
Por Reinaldo Bui

Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, quando por esta é arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter se consumado, gera morte. Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por sua decisão Ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos como que os primeiros frutos de tudo o que criou (Tg 1.14-18).

Conta-se que certa vez Spurgeon estava ouvindo um pregador que dizia ter alcançado a incorruptibilidade. No dia seguinte pela manhã, quando Spurgeon chegou ao salão do café (pois estavam hospedados no mesmo hotel), pegou um jarro com água e derramou sobre a cabeça do “impecável” pregador que levantou-se furioso. Spurgeon então soltou: “Calma, colega, só queria verificar se o que você disse ontem era mesmo verdade.” Antes que alguém se iluda com esta possibilidade – que o crente pode alcançar um estágio de não pecar mais, considere o que Tiago diz. 

Em primeiro lugar: não ache que você está imune ao pecado. Depois de sermos perdoados e aceitos por Cristo, continuamos com esta tendência pecaminosa. Tiago afirma que cada um é tentado portanto não faça de conta que você não é. Todos o somos! O fator que faz com que sejamos tentados é a nossa própria cobiça (desejo ardente de possuir ou conseguir alguma coisa). Todos têm. Pode haver diferenças nas ênfases, mas não na essência. Alguns são tentados na área sexual, outros a vingança, ganância, orgulho, $$, etc. Jesus disse que do coração procedem os maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias - Mt 15:17-19. Este é o coração humano.

Segundo: Não ache que a culpa é de outro. Temos a tendência de colocar a culpa nos outros ou na situação. A terceirização é algo tão antigo quanto o homem (Gn 3.12-13). Quando ficamos irados é por que o outro provocou; se o aluno não vai bem por que o professor não ensinou a matéria, se os filhos são rebeldes a culpa é dos pais, etc. Frequentemente culpamos o Diabo pelos nossos deslizes... Não que ele não tenha participação, mas acontece que ele nada pode fazer sem a concessão do homem. Outros podem pensar em por a culpa em Deus (já que Ele é soberano), mas Ele não pode ser tentado (não é de sua natureza) e consequentemente a ninguém tenta. Portanto, não diga isso. Pare de colocar a culpa em outros, estas são somente oportunidades de aflorar o que você é e pensa, caso contrário, você vai deixar aberto o flanco que vai destruí-lo. 

Terceiro: não ache que está perdendo o melhor. Quando tentados, reina o pensamento que existe uma alternativa melhor (seja no campo sexual, furto, vingança, ...). Tiago diz que a cobiça o atrai e seduz. Isto significa que há uma atração hipnótica por satisfazer um desejo. Você vê isto no caso das drogas, onde a pessoa começa com um curiosidade ingênua por algo novo, e se torna escravo sendo dominado. Assim é o caso na imoralidade, no furto,... Quantos hoje choram reconhecendo que sua opção imoral destruiu sua família. Outros nem têm consciência do que perderam. Quantos amargurados não têm consciência de que estão prejudicando a si mesmos. Quantos preguiçosos lamentam por não serem disciplinados e não terem estudado ou se dedicado para que tivessem uma vida melhor. Não se engane – o perfeito e bom vem de Deus. Eles são presentes de Deus (17). O que difere da conduta de Deus é sedução do pecado.

Por último: não ache que você superará sozinho. Por natureza somos comprometidos com o pecado. Jesus disse que quem comete pecado é escravo do pecado. Não se pode esperar que a solução esteja somente em nós. Precisamos aprender a depender de Deus e buscar auxilio com cristãos mais maduros.

Fomos regenerados por Deus, mais exatamente por sua Palavra. Isto não significa que não pecaremos mais, mas que Deus gerou em nós uma nova vida. Assim trazemos em nós duas naturezas e a condição para que a vontade de Deus reine em nossas vidas é a dependência do que vem nesta nova vida (Gl 5.16 a 25).

Veja o devocional anterior:

domingo, fevereiro 07, 2010

Devocional em Tiago: Tentação e Provação

5- Tentação e Provação
Por Reinaldo Bui
 
Bem aventurado o homem que persevera na provação, porque depois de ser aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta (Tg 1.12-13).


Antes de qualquer coisa, precisamos entender que há uma diferença significativa entre provação e tentação. Provações são dificuldades, situações aflitivas ou sofrimentos muito grandes, que põem à prova nossa força moral, nossa fé e nossas convicções. Tentação é aquele impulso para a prática de alguma coisa censurável ou não recomendável.

Provações são ações externas que aparentemente ameaçam, mas são fatores que cooperam para nosso aperfeiçoamento. Tentação é um desejo veemente ou violento. As tentações se diferenciam das provações por tratarem não de ações externas, mas de tendências internas.

Deus nos prova, nunca tenta. Somos tentados pela nossa própria cobiça. O Senhor não usa tentações para nos provar, mas podemos ser tentados durante as provações. Quando? Quando não compreendemos a natureza e o propósito das provações, estas parecem ameaças contrárias a nós. Começamos então questionar o amor de Deus e a sua habilidade em conduzir-nos a um fim proveitoso. Porém, quando usamos de sabedoria, passamos a assimilar a escala de valores de Deus, abrindo mão do que se restringe a esta vida, e investindo na eternidade. A impressão que dá é que o plano de Deus para o nosso aperfeiçoamento corre risco constante, pois depende da nossa fé e compreensão ver Deus fazendo aquilo que está fora de nosso alcance. Só quando superamos a provação, alcançamos o estágio de ver Deus derramar a sua graça abundante. 

Há uma tendência de identificarmos como ameaça o que está fora de nós ou do nosso controle, mas nós podemos ser a maior causa de nosso fracasso. Como fazer, então, para não fraquejar num período de tribulação? Todo aluno, todo soldado, todo atleta precisa se exercitar muito antes de enfrentar uma prova. Não é diferente na vida espiritual. A diferença – preste atenção – é que as provas da vida não vêm com hora marcada! Portanto devemos estar constantemente preparados. 

Alisto aqui algumas disciplinas que nos ajudarão a superar com êxito as provas da vida:
1. Trate preventivamente com o pecado. Não flerte com o pecado, corte-o na raiz do pensamento. Sai mais barato construir uma cerca do que sofrer o prejuízo;
2. Gaste tempo com a Palavra. Sl 119.11 diz: Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti. Ela é que vai atuar em sua mente. Jesus quando tentado usou a Palavra (está escrito...) atribuindo a ela enorme autoridade e valor;
3. Aprenda a depender de Deus. Ore para que Deus lhe livre da tentação (Mt 6.13);
4. Aprenda a confiar em Deus desde as pequenas coisas;
5. Aprenda a obedecer. É difícil? Mas é um ótimo exercício.

Veja o devocional anterior:

sábado, fevereiro 06, 2010

Devocional em Tiago: Orgulho Vs. Humildade

4- Orgulho Vs. Humildade
Por Reinaldo Bui

O irmão de condição humilde deve se orgulhar de sua elevada posição. E o rico deve se orgulhar de sua condição humilde, porque passará como a flor do campo. Pois o sol se levanta com calor ardente e seca a planta; cai então a sua flor, e é destruída a beleza da sua aparência. Da mesma forma, o rico murchará em meio aos seus afazeres (Tg 1.9-11).


Você se lembra de como foi sua conversão? O que aconteceu depois? Quais eram suas expectativas para a nova vida que você iniciara? Arrisco dizer que você esperava que tudo se consertaria e que Deus daria jeito em todos os seus problemas... Bem, pelo menos temos visto muita propaganda neste sentido ultimamente. Agora imagine: você ouve o Evangelho, crê em Jesus, passa a desfrutar de grande e alegre comunhão com Deus e com outros irmãos e de repente seus problemas se agravam... - É cristão? Fuja ou morra! Como você se sentiria?

Alguns daqueles crentes eram pobres, e sofreram consequências desastrosas muito mais fortes, outros eram ricos e com recursos minimizavam as dores e dificuldades. Isto aconteceu com os destinatários desta carta (literalmente), e havia aqueles que na fuga acabaram perdendo suas casas, seus trabalhos, sua estabilidade financeira, passaram a viver com restrições, carências, fome, ameaça constante, vendo a família sofrer, etc. Inevitavelmente, muitos questionamentos surgiram nas suas mentes, porque a coexistência da riqueza com a escassez gerava dúvidas no irmão que padecia e soberba nos mais abastados – como acontece hoje em dia. Estes contrastes sociais sempre levantam muitas questões sobre os valores cultivados por nossa sociedade humana (veja o Salmo 73, por exemplo).

Tiago passa a tratar este problema chamando atenção para o que realmente tem valor. Temos em nossa sociedade algumas “moedas” de grande valor que são: dinheiro, beleza e inteligência. Valorizamos demais estas coisas e consequentemente refutamos o que não se encaixa no nosso padrão de ideal no tocante em nível social, saúde, emprego, namoro, carreira, etc. Infelizmente, para muitos cristãos, o não obter este ideal é motivo de sofrimento! Tiago trata com o irmão de condição humilde, ou seja, um irmão com baixo nível social, mas que era rico de outra forma. Provavelmente estava se referindo a sua vida com Cristo. Isto sim tem valor. Conversão não tem que implicar em riqueza, pois senão, Tiago daria outras orientações. Também exorta que os irmãos mais ricos se orgulhem de sua condição humilde. Ele não está falando contra ser rico, pois o problema está na disposição diante da riqueza. 1Tm 6.9, 10 nos diz contra confiar na suposta segurança monetária que é ilusória. Podemos ter muitas decepções financeiras ainda em vida como perda de empregos, contratos, crises de mercados, enfermidades, etc., e ainda que a riqueza não bata asas, você é quem baterá as botas e nada levará. É por isso que Tiago fala sobre a fragilidade da vida. O tempo, cruel e implacavelmente, nos torna velhos e nos coloca mais próximo da morte, e a morte vai nos colocar diante de Deus, sem nada, nenhum dos bens acumulados aqui na Terra. Com eles não se compra o favor de Deus. O rico pode usar seu dinheiro para obter coisas, mas tem um fim. Aprendamos com Salomão (leia Ec 7.2)

Então, há razões verdadeiras para nos orgulharmos? Sim. Gloriar-se, ou orgulhar-se (v.9) refere-se não a arrogância, mas ao orgulho alegre que valoriza o que Deus valoriza.

Veja o devocional anterior:
3- Sabedoria Grátis

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Devocional em Tiago: Sabedoria Grátis

3- Sabedoria Grátis
Por Reinaldo Bui

Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que dúvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor; é alguém que tem mente dividida, instável em tudo que faz (Tg 1.5-8).


Aprender com os mais sábios é um conselho que todos deveriam seguir. Porém, nem todos o fazem. Mas como somos pessoas inteligentes, que desejam crescer e agradar a Deus com nosso proceder, buscaremos conselho com o homem mais sábio que já existiu: Salomão.

Ele nos ensina em Provérbios, logo nos primeiros versículos do livro, o segredo de como se obter sabedoria: Salomão ensina que a sabedoria começa no temor ao Senhor (Pv 1.7). Simples, né? Daí em diante, este livro é um verdadeiro manual de procedimentos de um sábio.

Voltemos para Tiago, sempre lembrando o contexto de perseguição que permeia este livro. Por que ele nos exorta a pedirmos por sabedoria numa situação de sofrimento? Por três motivos:

Primeiro, é necessário obtermos sabedoria para que vejamos as situações da vida como Deus vê. Sabedoria é conhecimento aplicável à vida. Não basta saber o que devemos fazer e o como devemos agir. Temos que por em prática, interpretar as situações da vida como Deus as interpreta. Assim, Ele nos dá a orientação necessária sobre como devemos proceder e nos habilita a agir em conformidade com sua vontade. Isto é sabedoria!

Segundo, também é necessário saber do caráter sábio de Deus que tem e disponibiliza a verdadeira sabedoria a todos nós. Tiago mostra que Deus é dadivoso: a todos dá (v.5). Mesquinhez é oposto ao caráter de Deus. Pense nisto: Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? (Rm 8.32). Mostra também que Deus é irrestrito. Dá a todos... e liberalmente. Fique tranquilo. Você não corre o perigo de pedir a Deus e Ele dizer que "não vai com sua cara". Ele não fará este tipo de restrição. Além disto, Deus sempre dá de boa vontade. Nós humanos facilmente nos aborrecemos com uma pessoa que pede repetidas vezes algo para nós. Julgamos que é abusada e tendemos a repelir aquela pessoa. Deus não age assim, mas nos dá sabedoria livremente, irrestritamente e de boa vontade.

Por fim, é necessário conhecer a condição única para se apropriar desta sabedoria: pedir com fé, isto é, sem duvidar. A expressão homem de ânimo dobre diz respeito ao homem que está dividido entre querer fazer a vontade de Deus, mas também querer fazer sua própria vontade; querer aderir ao projeto de Deus, mas também querer seguir as coisas do mundo. Neste caso, mente dividida não é alguém que simplesmente está em dúvida se Deus vai dar ou não, mas é estar vivendo voltado para duas possibilidades

Deus exige dedicação exclusiva a Ele através de uma consagração total de nossa vida. Significa dedicar-se a um só caminho, e isto envolve a família, o trabalho, os estudos, bens, ou ainda o que fazemos com nosso tempo, horas de lazer, etc.

Sabedoria nos habilita a buscar confiantemente o entendimento para situações do dia a dia, sejam elas de dificuldade ou de alegria. Busque-a na Palavra e peça com fé.

Veja o devocional anterior:

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Devocional em Tiago: Perseverança Sempre

2- Perseverança Sempre
Por Reinaldo Bui

Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros sem ter falta em coisa alguma (Tg 1.2-4).

Muitos ao lerem este texto devem se perguntar se Tiago sabia o que estava escrevendo. Considerar motivo de alegria passar por provações? Quem ri quando está passando por dificuldades? Alguns devem até pensar: se Tiago tivesse ideia do que estou passando, não diria isto...

Ao invés disso, você é quem devia considerar que tipo de provação aqueles irmãos da igreja primitiva estavam passando: perseguição de morte por causa da sua fé em Cristo! Tiago bem sabia o que estava escrevendo e para quem estava escrevendo.

Longe de mim a ideia de que provações não causam dor. Elas geram dor, sofrimento e muitas vezes choro e lamento. Mas como filhos de Deus, devemos olhar para todas estas situações com tranquilidade, conscientes que estão debaixo do soberano controle do nosso Pai. Então, daí vem aquela famosa pergunta: mas que pai é este que permite que seus filhos sofram?

Primeiramente precisamos recordar algumas coisas. Lembre-se que todos os seres humanos sofrem, crendo ou não em Deus. Lembre-se também que todo o mal operante neste mundo é consequência direta do pecado. Lembre-se ainda que muitas vezes questionamos Deus sobre o momento que estamos passando simplesmente porque não conseguimos enxergar seus propósitos, como uma criança que não entende porque tem que tomar aquele remédio ruim.

Segundo, as provações são um laboratório de Deus para o nosso crescimento. Só que algumas pessoas não enxergam. Ninguém gosta de sofrer, mas devemos nos conscientizar que neste mundo, passaremos por aflições..., invariavelmente! E quem aprende passar e suportar o sofrimento das tribulações aprende o que é perseverança, maturidade e integridade.

Quando Tiago diz que a prova da nossa fé produz perseverança, não está se referindo a uma atitude passiva, mas a uma resposta desafiadora, forte e ativa às circunstâncias. Maturidade é o que Deus espera de nós ao longo da nossa vida cristã. É perfeitamente compreensível que nossos filhos chorem às portas do pré-primário, mas chorar no primeiro dia de aula da faculdade não. Esta perseverança nas tribulações aponta para um terceiro propósito de Deus para nós que é o da perfeição. Com o sofrimento, Ele espera nos aperfeiçoar, provando a nossa fé. Pode ser que você não compreenda, no momento, o porquê do sofrimento, mas quando desenvolvemos tamanha fé no nosso Senhor, podemos nos alegrar confiando que Ele está no controle e tem um propósito maior que compreenderemos mais tarde. Aqueles que têm filhos crescidos já passaram por algumas situações de “cortar o coração”, como por exemplo, vê-los chorando na porta da escola no primeiro dia de aula. O filho está sofrendo a dor da separação assim como os pais estão, mas estes sabem que há um propósito maior nisto tudo, coisa que a criança não pode entender na sua imaturidade.

Uma curiosidade: na natureza, encontramos duas substâncias que têm a mesma composição em termos de conteúdo atômico: o grafite e o diamante. O grafite tem uma estrutura de átomos de carbono alinhados na forma de planos deslizantes e, dessa maneira, ele é um excelente lubrificante, mas se colocando o grafite sob alta pressão, ele acaba compartilhando esses átomos também no sentido vertical e assim se torna um diamante. É através de sofrimento, dor, pressão, que se acaba produzindo coisas de valor. Como você tem reagido às situações adversas da vida?

Veja o devocional anterior:
1- Mente de Servo

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Devocional em Tiago: Introdução e Mente de Servo

Neste último mês (janeiro/2010), eu estive presente no Projeto Missionário de número 52 da JUVEP, na cidade de Farias Brito-CE. Durante este tempo, tínhamos um material para lermos e crescermos que foi escrito por Reinaldo Bui, um grande amigo e irmão na fé. Muito do conteúdo escrito foi baseado na série de sermões do Pr. Fernando Leite, da Igreja Batista Cidade Universitária em Campinas-SP.

Considerei um excelente material para ser disponibilizado em Todah Elohim. Por isso, já com a autorização do autor, disponibilizarei um capítulo por dia. Faça um bom proveito do excelente material!


Introdução
Por Reinaldo Bui


Fé em ação: assim defino o conteúdo desta carta. O propósito principal desta epístola é demonstrar que a fé no Senhor Jesus Cristo deve ser aplicada a todas as experiências de nossa vida e relações que vamos estabelecendo no percurso de nossa existência.

O autor desta epístola é Tiago, o meio-irmão de Jesus. Dos três Tiagos  citados no Novo Testamento, Tiago filho de Zebedeu e irmão de João foi morto por Herodes; Tiago filho de Alfeu somente é citado na lista dos apóstolos e é pouco provável que seja o autor desta carta. Sobrando, portanto, Tiago, o irmão do Senhor, indicado por Paulo (em I Co 17.7; Gl 1.19; 2.9) e Lucas (em At 1.14; 15.6-29; 21.18-25).

Este Tiago, por conseguinte, era homem de grande influência e distinção principalmente no círculo dos cristãos judeus, ocupando uma posição de grande autoridade na Igreja Mãe de Jerusalém, que presidia as assembléias e pronunciava com poder a última palavra. O tom de autoridade desta epístola condiz bem com a posição de primazia atribuída a ele.

Quando lemos sobre os destinatários desta epístola, Tiago dirige-se às doze tribos dispersas entre as nações. Prontamente entendemos que ele se dirigia à nação de Israel como um todo, pois esta era uma forma de se referir ao povo judeu. Porém, é admirável o fato de que desde os tempos de Salomão (cerca de 1000 anos antes) a nação não era tratada desta forma. Após sua morte o reino foi dividido e a situação agravou-se mais ainda no período de cativeiro, provocando uma divisão irreparável entre Judá e Israel, entre judeus e samaritanos.

Voltar a referir-se às doze tribos como uma unidade, revela que em Cristo não há mais aquela separação entre eles. Todos os descendentes de Abraão agora são um, mesmo dispersos por causa da perseguição que sofriam por se tornarem cristãos.

São muitas as exortações de encorajamento a uma vida que demonstre piedade e fé dinâmica. Igualmente muitas são as aplicações que podemos fazer para nossa caminhada de fé cristã.


1- Mente de Servo
Por Reinaldo Bui

Tiago, servo de Deus e o Senhor Jesus Cristo, 
às doze tribos dispersas entre as nações. Saudações (Tg 1.1).

Cada um de nós traz dentro de si padrões que nossa sociedade dita como um ideal a ser alcançado. Desejamos ser reconhecidos por algo em que nos destacamos, seja no meio profissional, estudantil e até mesmo pela aparência ou linhagem familiar. Tiago poderia se apresentar, e não seria mentira, por irmão de Jesus; ou por Líder da igreja de Jerusalém; ou coluna da igreja; ou ainda por o justo. Mas ao invés disto, ele se apresentou como um servo.

A palavra grega que foi traduzida como servo é a palavra doulos. Servo é uma maneira amena de traduzi-la, pois esta palavra significa literalmente escravo. Se para nós é uma maneira bastante bizarra de se apresentar (ex.: sou escravo de fulano...), quanto mais na época em que foi escrita esta carta, quando escravidão era uma realidade presente naquela sociedade e trazia em si uma ideia repugnante. Por que então Tiago, irmão do Senhor, líder da Igreja em Jerusalém, tido como uma das colunas da fé cristã na Igreja primitiva apresenta-se assim? Já pensou se você tivesse estas prerrogativas? Como você se apresentaria?

O que o diferenciava é que, embora antes incrédulo (ver Mc 6.3 e 3.2), num certo momento de sua vida ele resolveu dedicar-se inteiramente a Deus, e isto é o que importa. Para Tiago, as demais coisas eram secundárias. Desde então, ele passou a viver não para servir, agradar ou cumprir seus próprios interesses. Ele havia se dedicado ao Senhor.

O que nos diferencia de Tiago? Reflita nesta pergunta por vários ângulos. Em determinados aspectos somos muito diferentes dele, mas no que diz respeito à fé, não devemos (ou não deveríamos) ser em nada diferentes.
Haveremos nesta condição, de prestar contas a Deus e a seu Filho sobre o que fizemos com nossas vidas. Na parábola dos talentos vemos que Deus pede contas e dá o reconhecimento devido (Mt 25.19, 21, 23, 26).

Tiago prestou seu serviço a Deus servindo os irmãos na igreja de Jerusalém, escrevendo esta carta, exortando, encorajando, ensinando... Dedique hoje sua vida ao Senhor. Entregue-se a Ele como servo sabendo que Seu projeto para nós é muito superior a qualquer outro. Entre os hebreus, alguém poderia ser vendido como escravo para, por exemplo, saldar alguma dívida, mas esta servidão não podia passar de seis anos. Porém, quando um escravo declarava publicamente que amava o seu senhor e desejava servi-lo por toda a vida, então era levado diante dos anciãos, e sua orelha era furada como sinal de que este lhe serviria por toda a sua vida (Ex 21.5, 6). Um servo bom e fiel vive para o seu Senhor, procura agradar o seu Senhor porque ama servi-lO.

Uma fé sincera deve obrigatoriamente provocar em nós esta disposição para servir. Durante a leitura do livro de Tiago procure de que forma objetiva você pode estar fazendo a vontade de Deus e servindo ao Senhor e ao próximo. Identifique e separe em sua vida diária um tempo específico para se dedicar servindo ao Senhor.