segunda-feira, outubro 21, 2013

Inclinação e consciência

Por Reinaldo Bui


Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. (Leia Romanos 8.5-8; 1 Timóteo 1.5)

Para fazer uma curva de bicicleta, basta apenas inclinarmos nosso corpo para mudarmos de rumo. Embora não houvesse bicicletas no tempo de Paulo, penso que esta figura ilustra bem o que ele queria transmitir: seremos levados para um ou para outro lado, conforme nossa inclinação.

Inclinar para a carne significa seguir uma tendência, uma disposição mental, simpatizar mais com determinada ideia, conceito, doutrina ou filosofia do que para Deus. Ao ouvirmos falar sobre uma “pessoa carnal” normalmente pensamos num devasso. Porém, as coisas da carne não estão relacionadas apenas à depravação moral. Temos no outro extremo o religioso e o moralista; lembre-se dos capítulos 1 a 3 desta carta.

Podemos encontrar mesmo dentro da igreja muitos que se inclinam para a carne. Há uma relutância natural por parte de muitos, em concordar com a Palavra da verdade (Cl 1.3-5). Esta oposição invariavelmente leva à rebeldia e não são poucos os questionamentos: “Por que devo obedecer a Deus?” “Por que a vontade dEle é que deve prevalecer?” “Por que só Ele deve ser adorado?” “Por que Ele me priva de viver como bem entendo?” “Por que tudo o que é gostoso e divertido é pecado?” “Por que a Bíblia tem que ser a única verdade?” E por aí vai.

Não são poucos os que trilham por este caminho “...se amotinam, conspiram contra o SENHOR – e contra o seu Ungido, rompem os seus laços, sacodem suas algemas...” (Salmos 2), ou seja, afastam-se deliberadamente de Deus, e quando isso acontece assumem uma destas posições: ou repudiam totalmente qualquer coisa que tenha aparência de religiosidade ou criam sua própria religião, de acordo com as suas vontades. Tanto um quanto outro é inclinação da carne.

Carne é uma metáfora bem interessante e Paulo utiliza outras metáforas correlacionadas a esta. Por exemplo: como inclinação da carne é uma questão mental, automaticamente (e necessariamente) mexe com a consciência do indivíduo. A princípio é preciso apenas uma maquiagem leve para que esta nova conduta carnal seja menos conflitante com sua consciência. Porém, com o tempo, esta maquiagem não será mais capaz de esconder as feridas que se formarão por andar fora da trilha indicada por Deus.

Ao tratar de consciência, creio que o apóstolo Paulo tivesse em mente a figura de uma ferida, pois quando se refere à consciência do descrente ele utiliza a palavra corrompida (Tt 1.15), como se a ferida já estivesse contaminada. Uma ferida contaminada, quando não tratada, necrosa. Neste caso, o sujeito não mais terá problemas com sua consciência porque a necrose torna a região insensível. Cheira mal, mas não dói.

Já para o religioso, Paulo utiliza a palavra cauterizada (1Tm 4.2,3) ao descrever sua consciência. O cautério destrói o tecido orgânico criando uma casca sobre a ferida. Assim é o moralista: casca grossa, insensível porque julga que suas práticas o fazem mais espiritual que os outros.

Tanto a necrose quanto o cautério da consciência são mecanismos que procuram anular o conflito causado pela “norma da lei gravada no coração humano” (Rm 2.15): o sujeito sabe que está andando pelo caminho errado, mas se recusa a aceitar ou admitir. Eles questionam: “Afinal, quem disse que é errado?”

Como tratar estas feridas? Paulo sabia que a inclinação da carne fatalmente leva a um naufrágio espiritual (1Tm 1.19), por isso várias vezes admoestara seu amado discípulo: procure cultivar uma consciência boa, mantendo-a sempre pura e limpa!

O próprio apóstolo lutava e se esforçava por “...manter uma consciência pura diante de Deus e dos homens” (At 24.16). Principalmente diante de Deus porque mesmo que diante dos olhos humanos estivesse aparentemente tudo bem, ele sabia que é Deus quem nos julga (1Co 4.4). Havia uma preocupação bastante sadia de sua parte, e também deve ser a nossa: a de agradar a Deus mais do que a nós mesmos. Por isso ele escreve aqui: “...os que estão na carne não podem agradar a Deus”.

E então, para onde você se inclina: para a carne ou para o Espírito? Não consigo entender por que algumas pessoas ainda titubeiam entre estas duas opções, pois “...o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz”.

Bem, talvez seja simplesmente uma questão de orgulho e fé...

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