sábado, agosto 07, 2010

As Parábolas do Mestre: O "Maldito Samaritano" (Lc 10.25-37)

O “Maldito Samaritano”
Por Reinaldo Bui

Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? (Leia Lucas 10.25-37)

Esta é uma das parábolas mais famosas, normalmente conhecida como “A Parábola do Bom Samaritano.” Diferente da parábola dos dois devedores, esta é longa e o diálogo curto. Porém, ignorar o diálogo faz com que a parábola se torne apenas uma exortação ética para auxiliar pessoas necessitadas e, definitivamente, não é esta a intenção.

Tudo começa com um fariseu que queria testar Jesus, questionando-o sobre a maneira de herdar a vida eterna. Sua pergunta é completamente sem sentido, pois o que alguém pode fazer para ser herdeiro? Um herdeiro o é por direito, não por conquista! Certamente, o fariseu já tinha sua opinião formada e não queria aprender algo novo. Jesus poderia comprar uma briga defendendo que a herança de Israel era uma dádiva e que o homem não pode fazer nada para recebê-la; ou aliar-se à opinião rabínica de se concentrar na Lei. Jesus escolheu a segunda opção só para ‘perturbá-los,’ e quando joga a pergunta de volta, obtém a resposta decorada: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Esta síntese da Lei é a junção de dois textos bem conhecidos daqueles homens (Dt 6.5 + Lv 19.18).

"Respondeste corretamente; faze isto e viverás," foi o fechamento de Jesus e, exatamente, a resposta que o fariseu gostaria de ouvir. Ele só não entendeu que Jesus estava colocando a questão da seguinte maneira: "Você está disposto a viver de acordo com o que você crê?"

A própria Lei que o ‘Doutor da Lei’ cita estabelece um padrão que ninguém pode alcançar. Ele poderia parar por aí e refletir um pouco sobre o que Jesus acabara de expor, mas tentando justificar-se pergunta: Quem é meu próximo. A palavra justificar-se significa que ele estava querendo se mostrar, se exibir, evidenciar sua justiça. Ele esperava que Jesus o aprovasse e desse como resposta: Seu próximo são seus parentes e amigos... aqueles que você mais ama. Em vez disso, Jesus conta uma parábola cujo herói é um... Samaritano! Como isto soava aos seus ouvidos? O título dado a esta parábola não poderia ter sido pior. Quando lemos esta narrativa tendo em mente que se tratava de um homem bom, ela deixa de causar o impacto que Jesus causou em seus ouvintes originais. Para entendermos melhor precisamos substituir os personagens por um pastor; o segundo por um dirigente de louvor e o samaritano por um ateu depravado, viciado em drogas e homossexual (faça esta releitura somente para entender o grau de intolerância que um judeu tinha de um samaritano).

A Mishna dizia que aquele que come pão dos samaritanos é como aquele que come carne dos suínos. Os samaritanos eram publicamente amaldiçoados nas sinagogas. Diariamente faziam-se petições a Deus para que os samaritanos não fossem participantes da vida eterna! Além da omissão injustificável do sacerdote e do levita, esta parábola demonstra que o samaritano faz, pelo menos, o que algum destes dois poderia ter feito. Esta história deve ter causado um tremendo mal estar, se não repugnância, nos judeus, pois receber auxílio, óleo ou vinho de um samaritano tornaria impuro aquele que recebeu. No entanto, o desconforto maior foi pela demonstração amorosa e altruísta do samaritano ao fazer o que os representantes religiosos não tiveram coragem. Eles entenderam a audácia de Jesus em fazer o desprezado samaritano aparecer como moralmente superior aos lideres religiosos do auditório. Assim, Jesus atinge um dos sentimentos de ódio mais profundos de seus ouvintes e sabiamente os expõe. Com certeza esta parábola rendeu muitos comentários a respeito de Jesus. Em João 8.48 vemos os judeus escarnecendo de Jesus e declarando: Porventura não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio? Duas palavras gregas contidas neste texto devem ser o motivo da nossa reflexão diante de um necessitado: justificamo-nos ou nos compadecemos? Fazer o bem ao próximo implica em gastos de nossa parte. Gasto de tempo, esforços, dinheiro e, muitas vezes, da nossa auto-imagem que tanto queremos preservar.

Medite...
O que você pode fazer para herdar a vida eterna? Que qualidades você possui para que Deus o declare seu filho por adoção? O que isto deve mudar na sua maneira de viver e de lidar com os necessitados? O que é mais fácil: justificar nossa omissão ou acudir o necessitado?

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