Por Reinaldo Bui
Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita. (Leia Romanos 8.9-11)
Quando, em nossa caminhada, nos inclinamos para um lado ou outro, em algum lugar seguramente chegaremos: é lá que no final estaremos. Paulo, como escrevia para cristãos genuínos, salvos pela graça de Deus, única e exclusivamente pela fé, afirmava: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito...”, ou seja, penso que vocês se inclinaram para o Espírito, portanto é nEle que vocês se encontram. Mas imediatamente faz uma ressalva: “Se é que, de fato, o Espírito de Deus habita em vocês”.
Não são poucas as denominações que pregam o batismo do Espírito Santo como uma “segunda bênção” na vida do cristão. Então, inevitavelmente surge aquela pergunta: é possível a pessoa ser cristã (digo, salva em Cristo Jesus) sem ter o Espírito Santo? Paulo diz que não: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dele”.
Analisando melhor o que Paulo diz aqui: quem é de Cristo tem o Espírito. Se tem o Espírito é porque o Espírito habita nele. E se o Espírito habita nele, ele está no Espirito e (naturalmente) cogita das coisas do Espirito. Do contrário, se não é de Cristo não tem o Espírito, e se não tem o Espírito não é de Cristo! Simples, lógico e fácil de entender.
Mas a turma da segunda bênção vai buscar nas narrativas de Lucas em Atos dos Apóstolos o respaldo para sua doutrina. Atos 19.1-6 é a passagem preferida destes irmãos.
Antes de qualquer coisa, precisamos entender que o livro de Atos dos Apóstolos trata de um período de transição do Antigo para o Novo Testamento. O derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes marca o início da Igreja, validando o pacto que Jesus fez na cruz: a Nova Aliança do Seu sangue. Tudo o que antecede aquela Páscoa e Pentecostes aconteceu debaixo da Antiga Aliança, inclusive a mensagem e batismo de João Batista e o ministério público de Jesus (ambos vieram anunciar a Nova Aliança). A partir da Cruz e do derramamento do Espírito sela-se a Nova Aliança. Todos os que creem em Cristo a partir destes acontecimentos recebem o Espírito Santo como selo desta Nova Aliança (aliança esta, não mais condicionada ao cumprimento da Lei, mas plenamente pela graça). Este foi o motivo daqueles discípulos terem recebido o Espírito após a mensagem de Paulo, esclarecendo que Jesus é o messias pregado por João Batista (até então a única mensagem que haviam ouvido).
Portanto, nenhum cristão deve se sentir duvidoso ou inferiorizado quando confrontado com a doutrina da experiência da segunda bênção, pois conhecemos a Cristo e (se de fato cremos nEle), podemos seguramente ter a certeza que o Espírito Santo habita em nós, não necessitando de uma experiência mística ou emocional que a evidencie: “Ah, agora sim...”
Alguns podem basear sua fé em uma experiência subjetiva e creio que ninguém jamais poderá julgar se esta é válida ou não. Porém, experiências pessoais são experiências pessoais e não devem ser normativas. Eu, particularmente, baseio minha fé na Palavra, independente de qualquer experiência que possa ter vivido.
Em Atos, alguns sinais evidenciavam que a pessoa havia recebido o Espírito, mas não é o caso aqui em Romanos. Aqui Paulo diz que a evidência do Espirito em nós, é que “Deus vivificará nosso corpo mortal através do Seu Espírito”.
Este é o cumprimento da promessa do Nosso Senhor e Salvador quando disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10.10). Se cremos, temos o Espírito e é Ele quem nos proporciona esta vida em abundância. Por fim, esta afirmativa de Paulo está de pleno acordo com outra Palavra do Mestre: “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6.63).
Assim como aconteceu com aqueles discípulos de Éfeso, a fé veio pelo ouvir, e ouvir da Palavra de Cristo (Rm 10.17). É a Palavra que nos leva exatamente onde Deus quer nos levar, e é Ela quem nos dá vida plena. Apenas creia na Palavra... E creia na Palavra apenas!