domingo, setembro 01, 2013

Epístola de Paulo aos Romanos

Por Reinaldo Bui


Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus 

(Romanos 1.1)


O que faz um homem mudar radicalmente suas convicções pessoais? A princípio, conhecer outra opção já basta. Normalmente pessoas sensatas, quando tomam conhecimento que estão caminhando na contra mão, procuram corrigir sua rota, e há aqueles que insistem no erro e recusam-se a mudar, seja por teimosia, seja por orgulho, que no final das contas, dá no mesmo.

Algumas pessoas são demasiadamente influenciáveis e mudam constantemente de opinião. Tais pessoas se deixam levar pelas massas e são facilmente manipuláveis. Existem também pessoas extremamente convictas de suas opiniões e baseiam-se em argumentos que nos fazem, no mínimo, ponderar em suas colocações. Algumas destas até são abertas para ouvir e discutir novas ideias. Mas há daquelas que são tão turronas que mesmo diante de evidências irrefutáveis recusam-se a sequer considerar seus caminhos. Penso que muitos de nós agimos assim em assuntos variados. Nestes casos, só a intervenção divina para mudar corações endurecidos.

Saulo de Tarso era um homem convicto de sua fé. Hebreu de hebreus, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamin. Vinha de família nobre, recebera a melhor educação vigente na época[1] e ainda possuía cidadania romana.  Segundo a lei era um fariseu irrepreensível, ou seja, extremamente zeloso no cumprimento da lei e da tradição judaica. Fora designado pelas autoridades do sinédrio a nobre missão de descobrir onde se reuniam os seguidores da “seita do nazareno” ou “do caminho” (conforme designavam as autoridades judaicas), seita esta recém inaugurada pelo blasfemo e crucificado Jesus de Nazaré. Lucas registrou em Atos 8.3 que Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere. A palavra assolava traz uma ideia de terror, ou seja, “Saulo aterrorizava aquelas pessoas”. Foi numa destas viagens que Saulo passou por uma experiência que transformaria sua vida para sempre: 

Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote ​e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém. ​Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, ​e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? ​Ele perguntou: Quem és tu, Senhor?

E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.  (At 9.1-6)

Este encontro com Jesus provocou uma mudança radical em suas convicções e acabou por mudar todo o curso de sua existência. Uma rápida análise no primeiro versículo de sua carta aos romanos nos diz alguma coisa sobre esta mudança. A começar pelo nome: de Saulo para Paulo. Olhando para o significado de cada nome, observamos uma guinada no que ele pensava sobre si. O nome Saulo tem origem no hebraico Saul, que significa desejo, desejado. Já o nome por ele adotado, Paulo, significava “pequeno”, o menor dos apóstolos, como ele mesmo se definira (1 Co 15.9). Da mesma forma, suas credenciais também mudaram radicalmente: de VIP (“Very Important Person”) para servo, escravo. Em Filipenses 3.7,8 o apóstolo escreve:

Mas o que para mim era lucro (todo seu histórico e formação), passei a considerar perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo.

Como vimos, aquele encontro com Jesus na estrada para Damasco mudou não apenas suas convicções, mas transformou radicalmente sua vida. Aqui cabe uma pergunta: é possível que uma pessoa mude sua opinião sem haver transformação de atitudes? Sim. Uma coisa é mudar de opinião, outra é permitir que estas façam algum efeito em sua vida. É possível uma pessoa mudar de mente mas não mudar de atitude, porém isto nos faz questionar o quanto ela acredita naquilo que confessa. Uma transformação só é completa quando ela começa na mente (renovação de seus valores e sua cosmovisão) e passa a influenciar todas as suas ações. No caso de Paulo, e também no nosso, a renovação da nossa mente deve resultar na oferta dos nossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus como um culto permanente e racional. Somente assim poderemos experimentar qual é a boa, perfeita e agradável vontade de Deus para o nosso ser. O que o Senhor espera de nós, foi o que Paulo demonstrou com sua própria vida: não nos conformarmos com este século, não nos deixarmos influenciar pelas atrações e propostas deste mundo, não andar conforme os ditames deste sistema (Rm 12.1-3).

Paulo aprendeu que Deus tem poder para nos transformar, que somente Ele pode nos transformar e que o Seu Evangelho é o agente da transformação que Ele deseja, conforme escreveu: O Evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. Quando Paulo compreendeu e creu no Evangelho, suas convicções mudaram – algumas ideias foram demolidas dando lugar a novas certezas, renovando sua mente, redefinindo completamente seus valores e sua fé, resultando em novas ações e num novo viver.

Mas isto foi só o começo. O apóstolo também sabia que, a partir daquele ponto, ele iniciaria uma jornada onde a fé neste Deus (que começara esta boa obra em sua vida), deveria ser o elemento principal para uma caminhada rumo à maturidade cristã: visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé. Não apenas para salvação, mas em cada passo desta nova jornada precisamos de fé. Então ele cita o profeta Habacuque: O justo viverá por fé (Rm 1.17).

Certamente esta passagem era bem conhecida para o versado nas escrituras Saulo de Tarso. Mas se antes ele interpretava “viverá” apenas para a vida neste mundo, agora, ao conhecer a vida eterna, a partir de seu encontro com Jesus, podemos imaginar que sua percepção deste trecho das escrituras fora profundamente modificada e amplificada. Pegando a definição de fé encontrada em Hebreus 11, somando com a citação de Paulo a Habacuque, e parafraseando-os temos a seguinte afirmação:

O justo viverá (enfrentará todos os obstáculos da vida)  porque ele tem certeza das coisas que espera, e sustenta uma  firme e inabalável convicção em fatos que ele ainda não pode ver.

Portanto, assim compreendemos plenamente o que profeta quis dizer. Você crê que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação? E que o justo viverá pela fé? Ótimo, pois isto já mostra onde estão fincadas suas convicções. Mas e a sua vida? Que efeitos esta sua confissão de fé, isto que você diz crer, tem sobre suas ações cotidianas bem como o planejamento da sua vida? Que poder o Evangelho exerce sobre você?  É a partir deste ponto que o apóstolo desenvolve todos os argumentos de sua carta aos romanos. Será que ele tem algo relevante para nos ensinar? Há alguma convicção que ainda precisa ser confrontada? Há alguma área da minha vida que precisa ser transformada? Verifiquemos então.





[1] Paulo foi educado aos pés de Gamaliel (cf. Atos 22.3).

Um comentário:

  1. Obrigada por compartilhar conosco as verdades de Deus e nos fazer refletir sobre nossa própria vida! um abraço,
    Adrielle

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