Excelente texto, por Ricardo Barbosa de Souza (28/03/2005).
Alguns dias atrás, ouvi um pastor afirmar, até com certo orgulho, que atendia uma média de 30 pessoas por dia em seu gabinete pastoral. A princípio, aquela afirmação me deixou pasmo. Nunca tinha ouvido falar de alguém que tivesse conseguido tal façanha.
Considerando que este pastor trabalha ininterruptamente (sem parar para almoço, água, cafezinho, banheiro etc.), das 8 da manhã às 6 da tarde, ou seja, 10 horas por dia, ele disporia apenas de 20 minutos para cada pessoa, isso sem contar o tempo que se perde entre a saída de uma e a entrada de outra.
Vinte minutos para ouvir os dilemas da alma e do coração, aconselhar, orientar e orar com cada um. De duas uma: ou há certo exagero nos números, comum nas estatísticas dos pastores no Brasil, ou o significado da vocação pastoral foi completamente perdido.
Não pretendo, aqui, analisar este fato específico, e sim fazer algumas considerações em torno da figura do pastor no mundo moderno. As mudanças que têm ocorrido no mundo são profundas e rápidas e, inegavelmente, afetam tanto a igreja como o sacerdócio.
A Igreja moderna transformou-se num negócio, numa empresa, e o pastor num executivo que luta para se manter no mercado. Esta é, talvez, uma das mudanças mais significativas e sérias que estamos atravessando.
Somos agora executivos eclesiásticos, circulando com agendas eletrônicas, telefones celulares, secretárias, auxiliares e assistentes, para atender a um volume cada vez maior de reuniões, entrevistas, conferências, aconselhamentos, etc.
Ser uma pessoa ocupada tornou-se um símbolo de "status" e sucesso tanto no mundo secular como no religioso. Ter uma agenda repleta de compromissos é sinal de competência; afinal, ninguém considera um médico competente se a sala de espera do seu consultório se encontra absolutamente vazia, e ele, confortavelmente sentado em sua cadeira lendo uma boa revista.
Para alguém ser considerado competente, precisa estar com a agenda dos próximos meses completamente cheia. Este sim é um bom profissional.
Nesta busca por sucesso e "status" não temos mais tempo para construir amizades verdadeiras e profundas, nem tempo para caminhar com nossos amigos no caminho do discipulado. Não temos tempo para ouvir as histórias dos velhos, os dramas dos mais novos e as crises da alma humana. Dispomos apenas de 20 minutos!
Vivemos hoje um processo de profissionalização do sacerdócio, o qual vem deixando de ser uma vocação para tornar-se uma profissão, e isto faz uma diferença tremenda nos resultados.
Henri Nouwen, em seu livro Creative Ministry apresenta três perigos ou armadilhas que estes líderes profissionais enfrentam.
O primeiro é o perigo do concretismo.
Trata-se da tendência ou inclinação de ter como motivação principal os resultados objetivos e concretos decorrentes das ações do ministério.
Muitos líderes encontram-se frustrados porque os resultados que esperam nem sempre aparecem com a rapidez e a objetividade desejadas.
O profissionalismo nos induz a avaliar o ministério por resultados mensuráveis. No entanto, o ministro da reconciliação que atua na promoção do encontro do homem com Deus, com o próximo e consigo mesmo, não pode avaliar seu ministério por resultados mensuráveis estatisticamente.
O segundo é o perigo do poder.
O líder profissional encontra-se constantemente diante do perigo de criar pequenos reinos para si mesmo. O profissional necessita ser reconhecido, admirado, aclamado.
Precisa se sentir superior aos outros e preservar sua posição para mantê-los cativos e dependentes. Geralmente o líder profissional é cercado de admiradores e não de discípulos, de dependentes emocionais e não de amigos. O poder impede que as pontes de amizade e comunhão sejam estabelecidas. O líder profissional que cai na armadilha do poder acaba tornando-se um antiministro da reconciliação.
O terceiro é o perigo do orgulho.
O líder profissional reconhece que as mudanças precisam acontecer, empenha-se em converter as pessoas, mas é tentado a pensar que ele próprio não precisa de conversão. Em vez de reconhecer que é parte da comunidade que serve, veste a fantasia de "messias", de alguém intocável, sempre correto e justo.
A natureza da vocação é essencialmente relacional. Somos chamados para promover a reconciliação. Este chamado envolve mais do que a capacidade de executar projetos de natureza religiosa ou conversas de 20 minutos; envolve a arte de penetrar nos lugares secretos da alma humana e trazer para dentro deles a presença divina, conduzindo-a à experiência da oração e ao encontro com o Criador. Isto exige tempo. A profissionalização do ministério nos torna desumanos, mais preocupados conosco e com nosso sucesso do que com a vida e seus afetos.
Algum tempo atrás uma paroquiana abordou-me mais ou menos assim: "Sei que você é uma pessoa bastante ocupada, e que quase nunca tem tempo, mas gostaria de conversar um pouco".
Talvez devesse ficar contente com este "elogio", mas, se não tenho mais tempo para conversar com as pessoas, se estou tão absorvido com meus "negócios" que já não disponho de tempo para o pastoreio, se minha agenda anda tão cheia a ponto de não poder sentar e ouvir um pouco as conversas sobre a vida, que tipo de pastor eu sou? Precisamos resgatar a natureza da vocação da Igreja e do pastor. Afinal, não fomos chamados para o mercado, mas para a vida.
Alguns dias atrás, ouvi um pastor afirmar, até com certo orgulho, que atendia uma média de 30 pessoas por dia em seu gabinete pastoral. A princípio, aquela afirmação me deixou pasmo. Nunca tinha ouvido falar de alguém que tivesse conseguido tal façanha.
Considerando que este pastor trabalha ininterruptamente (sem parar para almoço, água, cafezinho, banheiro etc.), das 8 da manhã às 6 da tarde, ou seja, 10 horas por dia, ele disporia apenas de 20 minutos para cada pessoa, isso sem contar o tempo que se perde entre a saída de uma e a entrada de outra.
Vinte minutos para ouvir os dilemas da alma e do coração, aconselhar, orientar e orar com cada um. De duas uma: ou há certo exagero nos números, comum nas estatísticas dos pastores no Brasil, ou o significado da vocação pastoral foi completamente perdido.
Não pretendo, aqui, analisar este fato específico, e sim fazer algumas considerações em torno da figura do pastor no mundo moderno. As mudanças que têm ocorrido no mundo são profundas e rápidas e, inegavelmente, afetam tanto a igreja como o sacerdócio.
A Igreja moderna transformou-se num negócio, numa empresa, e o pastor num executivo que luta para se manter no mercado. Esta é, talvez, uma das mudanças mais significativas e sérias que estamos atravessando.
Somos agora executivos eclesiásticos, circulando com agendas eletrônicas, telefones celulares, secretárias, auxiliares e assistentes, para atender a um volume cada vez maior de reuniões, entrevistas, conferências, aconselhamentos, etc.
Ser uma pessoa ocupada tornou-se um símbolo de "status" e sucesso tanto no mundo secular como no religioso. Ter uma agenda repleta de compromissos é sinal de competência; afinal, ninguém considera um médico competente se a sala de espera do seu consultório se encontra absolutamente vazia, e ele, confortavelmente sentado em sua cadeira lendo uma boa revista.
Para alguém ser considerado competente, precisa estar com a agenda dos próximos meses completamente cheia. Este sim é um bom profissional.
Nesta busca por sucesso e "status" não temos mais tempo para construir amizades verdadeiras e profundas, nem tempo para caminhar com nossos amigos no caminho do discipulado. Não temos tempo para ouvir as histórias dos velhos, os dramas dos mais novos e as crises da alma humana. Dispomos apenas de 20 minutos!
Vivemos hoje um processo de profissionalização do sacerdócio, o qual vem deixando de ser uma vocação para tornar-se uma profissão, e isto faz uma diferença tremenda nos resultados.
Henri Nouwen, em seu livro Creative Ministry apresenta três perigos ou armadilhas que estes líderes profissionais enfrentam.
O primeiro é o perigo do concretismo.
Trata-se da tendência ou inclinação de ter como motivação principal os resultados objetivos e concretos decorrentes das ações do ministério.
Muitos líderes encontram-se frustrados porque os resultados que esperam nem sempre aparecem com a rapidez e a objetividade desejadas.
O profissionalismo nos induz a avaliar o ministério por resultados mensuráveis. No entanto, o ministro da reconciliação que atua na promoção do encontro do homem com Deus, com o próximo e consigo mesmo, não pode avaliar seu ministério por resultados mensuráveis estatisticamente.
O segundo é o perigo do poder.
O líder profissional encontra-se constantemente diante do perigo de criar pequenos reinos para si mesmo. O profissional necessita ser reconhecido, admirado, aclamado.
Precisa se sentir superior aos outros e preservar sua posição para mantê-los cativos e dependentes. Geralmente o líder profissional é cercado de admiradores e não de discípulos, de dependentes emocionais e não de amigos. O poder impede que as pontes de amizade e comunhão sejam estabelecidas. O líder profissional que cai na armadilha do poder acaba tornando-se um antiministro da reconciliação.
O terceiro é o perigo do orgulho.
O líder profissional reconhece que as mudanças precisam acontecer, empenha-se em converter as pessoas, mas é tentado a pensar que ele próprio não precisa de conversão. Em vez de reconhecer que é parte da comunidade que serve, veste a fantasia de "messias", de alguém intocável, sempre correto e justo.
A natureza da vocação é essencialmente relacional. Somos chamados para promover a reconciliação. Este chamado envolve mais do que a capacidade de executar projetos de natureza religiosa ou conversas de 20 minutos; envolve a arte de penetrar nos lugares secretos da alma humana e trazer para dentro deles a presença divina, conduzindo-a à experiência da oração e ao encontro com o Criador. Isto exige tempo. A profissionalização do ministério nos torna desumanos, mais preocupados conosco e com nosso sucesso do que com a vida e seus afetos.
Algum tempo atrás uma paroquiana abordou-me mais ou menos assim: "Sei que você é uma pessoa bastante ocupada, e que quase nunca tem tempo, mas gostaria de conversar um pouco".
Talvez devesse ficar contente com este "elogio", mas, se não tenho mais tempo para conversar com as pessoas, se estou tão absorvido com meus "negócios" que já não disponho de tempo para o pastoreio, se minha agenda anda tão cheia a ponto de não poder sentar e ouvir um pouco as conversas sobre a vida, que tipo de pastor eu sou? Precisamos resgatar a natureza da vocação da Igreja e do pastor. Afinal, não fomos chamados para o mercado, mas para a vida.
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