segunda-feira, março 19, 2007

Consumindo com propósitos divinos

Propósito de consumir, ou consumir com propósito?
por Jairo Moreira



Popularmente se diz que quando os olhos não vêem o coração não deseja. Porém, para os que estão procurando crescer na graça do Senhor a verdade é que ao invés dos olhos, o coração necessita de ser protegido e treinado para reagir adequadamente diante da enxurrada de produtos que inevitavelmente desfilam de maneira apelativa diante de nós todos os dias. O fato é que compramos muito com o coração. Na hora de adquirir tendemos a ser movidos mais pelo desejo e nem tanto pela necessidade. Não necessitamos de tudo que desejamos e não desejamos tudo que necessitamos. Muito embora Deus possa nos dar além do que pedimos ou pensamos, Ele se comprometeu em suprir cada uma das nossas necessidades (Fp 4.19). Quanto aos desejos eles são bons na medida em que sejam promovidos pelo Senhor em nós (Fp 2.13). A propaganda continuará a ser a alma de muitos negócios, pelo fato de os negócios serem, a alma de muitos negociantes. Essa é a essência de suas vidas. É acertado considerar, que a maneira como lidamos com as coisas que adquirimos ou desejamos adquirir, revela muito dos verdadeiros valores que direcionam nossa vida.


Muito além da mera pechincha, ou simples prazer de possuir ou consumir, os cristãos devem praticar a sabedoria em um ambiente fascinado pelo consumo. Para nós, mais do que comprar “bem” é imperativo comprar com um propósito nobre. Compro por querer ou poder comprar, ou por ter um razoável motivo para isso? Na verdade quero enfatizar esse aspecto de autonomia que o cristão pode exercer ao escolher um produto em função da razão pela qual o adquire. Os profissionais que cada vez mais associam venda e divertimentos querem nos convencer de que comprar é uma grande brincadeira. O fato é que comprar é uma questão bastante séria. Nesse ato estão envolvidos valores, motivações, prioridades de escolha e decisões. Ao comprarmos podemos estar negociando preciosidades cuja moeda do mercado não paga.


Como bem disse John White: “Se perguntasse sobre o tipo de pessoa que tipifica o século vinte, penso que a mente de muitos voaria para os astronautas. Mas a pessoa que expressa o espírito de nossa época é, mais que qualquer outro, não o astronauta, mas o vendedor. Todos os dias temos de lidar com as demandas impostas pelos chamados “sinais externos de poder ou status”. Isso geralmente envolve possuir coisas determinadas, de determinadas marcas e modelos, adquiridas em lugares determinados, por um custo indeterminado. Quase que com completa certeza eu diria que a maioria dos leitores desse artigo possui mais do que necessita e menos do que deseja. Nós somos por natureza pessoas insatisfeitas e estamos cercados por sistemas que usam essa realidade de uma forma muitas vezes bastante nociva. Os santos no mundo não estão isentos dessa pressão, mas por outro lado têm à mão instrumentos e oportunidades para reagirem não só protegendo-se, mas ditando um estilo que pode revolucionar o comportamento dos que estão à sua volta acordando-os do tropeçar da vaidade.


Sem falso pietismo é razoável reconhecer que há muitos cristãos sufocados pelo consumismo desenfreado. Não fomos chamados a fazer um voto de pobreza ou de prosperidade quando nos convertemos, mas pelo contrário todos fomos convocados para o voto de boa mordomia. É essa maturidade que Deus nos capacita a estarmos contentes em toda e qualquer situação (Fp 4.11) e a sermos fiéis administradores dos recursos que nos chegam às mãos. Deus não deseja que sejamos pessoas medíocres ou investidores irresponsáveis das oportunidades que Ele nos tem dado. A questão é com que motivações buscam abundância em aquisições. Salomão foi um grande empreendedor que entendeu que muitas conquistas foram como correr atrás do vento. Você poderá argumentar que aproveitará todas as oportunidades que tiver para ganhar cada vez mais, para poder comprar cada vez mais. É necessário no entanto perceber se o lucro e abundância por um lado, não estão determinando prejuízo e falta por outro.


Busque seu ganho em função das oportunidades e provisão vindas de Deus. Defina seus gastos relacionando-os com os propósitos que o Senhor tem estabelecido para a vida de sua família. Lembre-se que os recursos que chegam até você não são financiamentos dos seus caprichos e sim para a realização dos planos de Deus em sua vida e por meio dela (“não desvie a verba"). Saiba definir prioridades para as aquisições, considerando o valor real das coisas e não o valor atribuído (uma sandália de borracha sempre será uma sandália, não importando quão famoso é o pé que a usa.) Use seu crédito, talão de cheques, cartão, etc... A seu favor e não contra você. Ridicularize a propaganda ridícula que pretenda fisgá-lo com mentiras (dê gargalhada diante do televisor). Invista na aquisição de sabedoria e edificação (Pv 4.5-8). Abomine o desperdício e administre as sobras abençoando a outros.


Você sobreviverá ou sucumbirá diante da próxima campanha publicitária do seu produto preferido? Que tipo de consumidor é você? Você nunca terá dinheiro para comprar tudo que deseja. Se tiver dinheiro lhe faltará tempo para adquirir. Se ainda assim tiver dinheiro e tempo não terá como usar todas as coisas e delas aproveitar. Se tiver tempo, dinheiro e como usar tudo que comprar, por certo não terá a satisfação que espera na abundância das coisas que possui. Caso chegue a se satisfazer com tudo isso, estará se contentando com muito pouco, pois que a vida em Cristo é muito mais que a vaidade humana.

Um comentário:

  1. Acredito que o Consumismo é o grande Baal do nosso tempo.

    Reflito sobre tudo que já comprei sem necessidade, sobre as vezes que coloquei Deus nos meus sonhos de consumo, e imagino que trata-se de algo tão introjetado na nossa cultura, que já definiu nossas estruturas de pensamento, e nossas maneiras de entender a Bíblia e a Deus.

    É relativamente simples entender a necessidade de compra com propósito como uma verdade. O grande desafio é refazer nossa estrutura de viver o dia-a-dia baseados nessa verdade.

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