Eu escrevi um ensaio em resposta a uma pergunta feita por um amigo. Depois, pediram-me para eu reescrevê-lo em português, já que a ferramenta do Google não estava fazendo um bom trabalho; abaixo.
Caro Joversi,
obrigado pela oportunidade de poder esclarecer o que eu quis dizer quando falei que não sou nem um calvinista e nem um arminiano, pedindo alguma definição.
Numa tentativa de salvar meu calvinismo, fugi para o Seminário Teológico de Dallas (DTS). Eu era um calvinista de “4 pontos” pastoreando uma igreja batista reformada de “5 pontos”. No calvinismo, uma vez que a graça é soberana, não há espaço para algo como um “crente carnal”. Mas eu me encontrei pastoreando uma igreja com cristãos carnais CALVINISTAS, com vidas marcadas pela amargura, divisão e a arrogância. As pessoas claramente resistiam a graça de Deus, mas eram inegavelmente SALVAS. E uma vez que o calvinismo perde a doutrina da graça irresistível, o meio pelo qual Deus impõe Sua vontade sobre os eleitos, todo o “castelo de cartas” cai. Enquanto no DTS, eu encontrei um grupo de professores que me ofereceram uma terceira alternativa, que realmente não tem nome.
A questão de definição é realmente fundamental. Eu, os calvinistas e os arminianos, todos nós acreditamos na depravação total, que entende que o pecado afetou todos os aspectos da vida das pessoas. Algumas se comportam piores do que outras e desenvolvem comportamentos notoriamente malignos, mas todos herdaram uma natureza depravada de Adão e privada do Espírito Santo. A diferença é que os calvinistas dizem que a graça supera a depravação total para que os eleitos sejam salvos, enquanto Armínius ensinava que a graça liberta a vontade para que o pecador possa fazer uma verdadeira escolha para aceitar ou rejeitar o Evangelho.
Eleição incondicional. Esta doutrina calvinista é o resultado de gentios mal interpretando documentos judaicos, como o Antigo e o Novo Testamento. Romanos 11.28: Do ponto de vista do evangelho, são inimigos por causa de vós, mas do ponto de vista da eleição de Deus, eles são amados por causa dos patriarcas. Como podem os judeus serem os *inimigos* do Evangelho e ainda continuarem sendo *eleitos*? “Eleito” não significa “salvo”, mas “o povo que pertence a Deus”. No caso dos judeus, salvos ou não, são o povo especial para Deus por causa da aliança dEle com os patriarcas; no caso dos gentios, tornam-se eleitos e “povo de Deus” quando creem (Efésios 1,13-14).
Expiação Limitada. A doutrina exigida pelo “calvinismo consistente” é baseada em sua definição de soberania. O argumento é que “se Jesus morreu por todos, mas nem todos são salvos, então Ele falhou.” Os calvinistas têm alguns versículos que são manipulados para defender essa doutrina, mas enfrentam uma avalanche de versículos contrários, que eles têm de distorcer para harmonizá-los com a sua posição. Este é o ponto mais fraco do sistema e, de fato, Calvino não o manteve claramente. Há trechos específicos em Calvino que ele indicou que Cristo morreu por todos, embora a morte de Cristo para os não-eleitos apenas aumente a sua condenação.
Graça Irresistível. Difícil conciliar Gálatas 1.6 e 5.4 com esta doutrina. Toda a discussão sobre como podemos pecar se Deus sempre oferece a graça para vencer nossas tentações (1 Coríntios 10.13) tem levantado muitas discussões fascinantes e também muito preocupantes – i.e., os crentes pecam, porque Deus afastou Sua graça para ensina-los alguma coisa para Sua glória. Mesmo assim, os crentes são culpados.
Perseverança dos Santos. Não devemos confundi-la com a eterna segurança dos salvos. Calvino ensinou que, se você puder cair, seja por meio do pecado, sem arrependimento final, ou por meio da perda da fé, então você poderia perder a sua salvação. Em outras palavras, sem a graça irresistível, o homem perderia a salvação. No entanto, o ensino calvinista é que a graça irresistível garante que você nunca cairá da fé. Esta doutrina é contrariada por toda a Escritura. A Bíblia contém uma história de apostasia após a outra, começando com Adão. A doutrina da ETERNA SEGURANÇA, no entanto, é que mesmo que você caia, seja por meio do pecado ou perda da fé, sua salvação estaria segura por causa 1) da adoção como um filho de Deus (Rom. 8.16-17), 2) do selo do Espírito Santo (Ef. 1.13) e 3) do ministério intercessor de Cristo (Rom. 5.6-11; 8.31-34). Calvino chamou esta segunda posição de “segurança carnal” e a rejeitou.
Você não merecia a salvação, você não merece a salvação e você nunca a merecerá. É por isso que as Escrituras dizem que é um dom gratuito (Rom 3.24), aceita somente pela fé (Ef 2.8 ), sem qualquer consideração de qualquer coisa que você possa fazer numa tentativa para ganhá-la (Rom 4.4-5)! É por isso que muitas pessoas rejeitam o cristianismo: elas não se sentem dignas de perdão, mas devem receber a salvação como um mendigo que pede e aceita um pão. No calvinismo, a doutrina da perseverança exige que o salvo faça obras; caso contrário, declara que ele nunca foi salvo. Pensar assim é, de uma forma, dizer que as obras são necessárias para a salvação.
Meus amigos calvinistas, e alguns calvinistas que nem conheço muito bem e não são tão amigos assim, acusam-me de ser um arminiano, enquanto os meu amigos arminianos, que eu nem tenho muitos, acreditam que sou um calvinista. Então declaro que não sou nem calvinista, nem arminiano; eu me chamo de um “tertium quid”, uma “terceira coisa sem rótulo”.
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