domingo, março 17, 2013

Teologia e Poesia


Algumas semanas atrás, numa conversa comigo, meu amigo pr. João Soares da Fonseca da PIB-RJ questionou algo que ouviu: "O povo não precisa de teologia, mas de mais poesia." Tentei descobrir o autor desta frase, mas não consegui encontrá-lo.

Fico sempre espantado com a forma como as pessoas podem ser tão fascinadas com tais declarações bonitas, mas absurdas.

Em primeiro lugar, é absurdo propor uma contradição conceitual entre "teologia" e "poesia". Na verdade, qualquer comparação recai sobre o que Aristóteles chamou de "erro de categoria", um erro de semântica ou ontológico em que uma propriedade é atribuída a uma entidade que não poderia ter essa propriedade. É uma comparação de dois objetos que não pertencem na mesma categoria ontológica. Dizer que precisamos de menos teologia e mais poesia está no nível de dizer que "a maioria das bananas são ateias". É um erro de categoria, porque bananas pertencem a uma categoria de objetos que não podem ser ditas a ter crenças.

Teologia é um conjunto de ideias que podem ser expressas em qualquer número de formas ou metas. Podemos comunicar ideias teológicas através de declarações proposicionais, silogismos escolares, sermões, testemunhos, músicas, pinturas, esculturas e, surpreenda-se, com poesias! A maior prova dessa falsa dicotomia entre a "teologia" e "poesia" é os majestosos salmos do rei Davi, que nos ensina mais sobre Deus e Sua natureza do que qualquer outra fonte, seja poética ou prosa, em toda a Bíblia. Seus salmos são a mais rica fonte de informações que temos sobre quem é Deus e como Ele opera, muitos dos quais ele cantou dentro do contexto do sofrimento humano e de perseguição. Colocar em contraste a teologia com a poesia é um absurdo.

Por sua vez, a poesia é um método verbal de expressão artística. Considerado uma das "sete artes", que é aquela que usa a linguagem humana, a fim de comunicar a experiência humana, com efeito estético, uma arte que se baseia na imaginação do autor e apela para a imaginação do leitor. Poesia, em si, não tem valor ou significado implícito. Pode-se escrever poesia boa ou ruim, poesia significativa ou sem sentido. Mas, para ser significativa e uma fonte de esperança, a poesia precisa de conteúdo, e o conteúdo que não nos leva ao absurdo. Dizer que precisamos de menos teologia e mais poesia é como dizer que precisamos de menos amor e mais músicas. Mas como seria a música sem o conteúdo do amor? E que esperança a poesia pode oferecer ao homem sem um entendimento preciso e transmissível do alicerce e do alvo do seu ser, o seu Criador?

Agora, alguém pode dizer que precisamos de mais teologia em forma poética, mas isso é um assunto completamente diferente. Concordo plenamente que precisamos de mais teologia em forma poética, mas isso não implica uma negação da necessidade da teologia. A poesia deve ter conteúdo; caso contrário não tem sentido. Eu gostaria muito de ouvir uma canção que balança a teologia de 1 Coríntios 13 ou Filipenses 2 com o ritmo do samba para ser encravado no coração do brasileiro. Deixe-me ouvir as bem-aventuranças de Mateus 5 cantadas para as cadências de forró. Esta seria uma mudança bem-vinda à maioria das músicas dos evangélicos: duas palavras, três acordes, repetidas mil vezes com olhos fechados e mentes vazias. O grande perigo no Brasil não é que as pessoas vão se apaixonar com a teologia histórica, apostólica, protestante e evangélica, que tem transformado as vidas de centenas de milhões de pessoas, restaurando a esperança e a dignidade aos homens, mulheres e crianças, e sacrificando-se para a liberdade de escravos sem fim. E ela fez tudo isso sem as armas, as violências e as guerras do seu grande imitador utópico , o marxismo, que resultou na morte de dezenas de milhões de pessoas no século 20, a grande maioria dos quais eram cristãos. Meu medo não é que as pessoas vão se apaixonar com a teologia. Minha preocupação é que as pessoas se envolverão em expressões ou frases que são poéticas, bonitas e atraentes, mas em última análise, são absurdas, baseadas em apelos ao que Aristóteles justamente chamou de “erro”, ao custo do que é verdadeiro e objetivo.

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