segunda-feira, julho 30, 2012

Um dia de aventura de Eliard no 57o Projeto Missionário da Missão Juvep

O testemunho abaixo foi escrito originalmente para a Missão Juvep. Foi publicado em seu blog.

Por T. Zambelli

22/julho/2012 - Dia de Operação Campo

Para quem não sabe, Operação Campo é o nome que damos ao dia que toda a equipe de projetistas se desloca para a zona rural. São os sítios, áreas menos alcançadas com o evangelho, oprimidas pela ignorância, religiosidade, falta de esperança e muitas vezes pelo ainda existente coronelismo.

Eliard não é um personagem fictício dessa história. Conheci este jovem sertanejo de treze anos na segunda casa em que eu e minha parceira de visitação (Eide) entramos. Eliard se vestia simples, falava simples, morava simples, comia simples e queria para si o simples, porém profundo evangelho.
Mudar os paradigmas acerca de Deus pode tomar muito tempo. Recordo-me de minha experiência quando genuinamente Deus me selou com seu Espírito. Eu ainda tinha Maria como alguém que podia me ouvir e atender minhas preces. Foram cerca de seis meses até que, através das Escrituras, aprendi que somente Jesus havia ressuscitado e era o único que podia me ouvir. O apóstolo Paulo também deixou claro que Jesus é o único mediador entre os homens e Deus. Ademais, a tentativa de falar com os mortos foi proibida por Deus ao povo escolhido e o desgosto divino com aqueles que assim procede permanece até hoje.

Sr. Francisco (90 anos), sr. Antonio (cerca de 55 anos) e Eliard são personagens de três diferentes gerações. Avô, pai e filho escutavam a Palavra de Deus, o plano mor que não é algo, mas alguém: Jesus Cristo. Naquela simples casa, um pouco escura, falávamos e chamávamos à atenção dos ouvintes sobre a salvação exclusiva de Cristo. Sr. Francisco tinha problemas de audição e sr. Antonio rapidamente perdia o foco na conversa. Eliard em tudo prestava atenção.


Ao final desta casa, depois de termos lido e explicado a história do homem rico e mostrado o cubo evangelístico, bem como muito dialogado com eles, Eliard nos convidou para comer na casa de sua mãe, separada do pai por questões que eu não posso aqui compartilhar e que infelizmente fazem parte de muitas famílias sertanejas. Minha parceira e eu não queríamos comer, mas aceitamos o refrigerante ofertado, cujo pagamento fizemos questão de bancar.

Caminhamos então cerca de 150 metros até a casa de sua mãe. A parede era recheada de imagens, mas uma estatueta era especial para ela. Retirando-a ao lado do aparelho de som com todo o cuidado, ela nos mostrou e comentou sobre a santa com um tom de voz diferente, como de quem descansa em paz na certa segurança que aquele ídolo supostamente poderia lhe dar. Em amor, desafiamos dona Irene a basear sua vida na Palavra de Deus e crer verdadeiramente no Jesus que a Bíblia apresenta. Aliás, dona Irene não tinha somente o sistema romano de adoração a imagens e santos incrustados em seu enganado e enganoso coração, mas também era igualmente iludida por tele-evangelistas ditos evangélicos que ela cria terem eles o poder de curar os enfermos.

Saí da casa de dona Irene tranquilo da minha tarefa perante Deus. Semeei com minha parceira a verdadeira semente desejoso de, naquele solo, vê-la  crescer; eu oro por isso. Todavia, enquanto plantar e regar são tarefas atribuídas por Deus ao homem, o desenvolvimento desta semente é algo exclusivo dEle. Assim partimos para a casa de dona Sinhá, vizinha de dona Irene.

Nesta terceira casa morava um casal de velhinhos. Quando começamos a conversar com eles, Eliard mais uma vez se fez presente, mas agora, para nos ajudar a explicar que é somente através da fé em Jesus Cristo que alguém pode ter comunhão com o Criador e aguardar a certeza da vida eterna junto de Deus. Várias das convicções de dona Sinhá eram bíblicas, mas seu coração ainda não pertencia a Deus. Enquanto falávamos com ela, seu marido que escutava quieto, fazia para si um cigarro de palha. Deixamos claro naquele humilde lar, com a ajuda de Eliard, que Jesus Cristo era o caminho, a verdade e a vida (cf. Jo 14.6) e não estávamos ali para propagar a lei dos católicos, tampouco a lei dos crentes, mas a Lei de Deus.

A aventura de Eliard neste dia ainda não havia terminado, apesar dele não ter aparecido nas próximas casas que visitamos. Sua próxima aparição se deu na praça onde o convidamos para ouvir e cantar canções que falam para e sobre Deus conosco. Ele foi o único de todos os convidados que surgiu pontualmente. Com sua bicicleta barra forte, uma camisa xadrez azul e branca e de banho notoriamente tomado, aguardava ansiosamente pelo que infelizmente não aconteceu. No horário em que convidamos os habitantes do sítio estrada para a praça em que cantaríamos e falaríamos do evangelho, a igreja romana (das santas missões) marcou uma reunião. Não sabemos se isso aconteceu propositalmente, mas sabemos que isso é provável. Nosso intuito não é competir, desafiar, nem desrespeitar a igreja romana.[1] Nosso intuito é proclamar o Reino de Deus com foco em seu Rei: Jesus Cristo, nosso Deus salvador.

Já a espera de nosso caminhão, estilo pau de arara, Eliard veio até mim e disse: "já conversei com o padre." Um pouco assustado, pois eu nada havia pedido para ele, quis saber o conteúdo da conversa. Ele me disse que pediu para o padre sua permissão para nós voltarmos no dia seguinte e mostrar na praça, em frente à igreja, o filme Jesus. Eu simplesmente sorri. meus olhos ficaram molhados e meu coração pulava mais pro causa da alegria que eu via naquele simples rapaz com um simples desejo: conhecer mais da verdade, saber mais sobre Cristo, que também morreu por ele.


[1] O catolicismo no sertão pouco se parece com o que popularmente se sabe sobre ele. Ele tem muitos elementos de um catolicismo pré-reforma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário