O testemunho abaixo foi escrito originalmente para a Missão Juvep. Foi publicado em seu blog.
Por T. Zambelli
22/julho/2012 - Dia de Operação Campo
Para quem não sabe, Operação Campo é o nome que damos ao dia
que toda a equipe de projetistas se desloca para a zona rural. São os sítios,
áreas menos alcançadas com o evangelho, oprimidas pela ignorância,
religiosidade, falta de esperança e muitas vezes pelo ainda existente
coronelismo.
Eliard não é um personagem fictício dessa história. Conheci
este jovem sertanejo de treze anos na segunda casa em que eu e minha parceira
de visitação (Eide) entramos. Eliard se vestia simples, falava simples, morava
simples, comia simples e queria para si o simples, porém profundo evangelho.
Mudar os paradigmas acerca de Deus pode tomar muito tempo. Recordo-me
de minha experiência quando genuinamente Deus me selou com seu Espírito. Eu
ainda tinha Maria como alguém que podia me ouvir e atender minhas preces. Foram
cerca de seis meses até que, através das Escrituras, aprendi que somente Jesus
havia ressuscitado e era o único que podia me ouvir. O apóstolo Paulo também
deixou claro que Jesus é o único mediador entre os homens e Deus. Ademais, a
tentativa de falar com os mortos foi proibida por Deus ao povo escolhido e o
desgosto divino com aqueles que assim procede permanece até hoje.
Sr. Francisco (90 anos), sr. Antonio (cerca de 55 anos) e
Eliard são personagens de três diferentes gerações. Avô, pai e filho escutavam
a Palavra de Deus, o plano mor que não é algo, mas alguém: Jesus Cristo.
Naquela simples casa, um pouco escura, falávamos e chamávamos à atenção dos
ouvintes sobre a salvação exclusiva de Cristo. Sr. Francisco tinha problemas de
audição e sr. Antonio rapidamente perdia o foco na conversa. Eliard em tudo
prestava atenção.
Ao final desta casa, depois de termos lido e explicado a
história do homem rico e mostrado o cubo evangelístico, bem como muito dialogado
com eles, Eliard nos convidou para comer na casa de sua mãe, separada do pai
por questões que eu não posso aqui compartilhar e que infelizmente fazem parte
de muitas famílias sertanejas. Minha parceira e eu não queríamos comer, mas
aceitamos o refrigerante ofertado, cujo pagamento fizemos questão de bancar.
Caminhamos então cerca de 150 metros até a casa de sua mãe.
A parede era recheada de imagens, mas uma estatueta era especial para ela.
Retirando-a ao lado do aparelho de som com todo o cuidado, ela nos mostrou e
comentou sobre a santa com um tom de voz diferente, como de quem descansa em
paz na certa segurança que aquele ídolo supostamente poderia lhe dar. Em amor,
desafiamos dona Irene a basear sua vida na Palavra de Deus e crer
verdadeiramente no Jesus que a Bíblia apresenta. Aliás, dona Irene não tinha
somente o sistema romano de adoração a imagens e santos incrustados em seu
enganado e enganoso coração, mas também era igualmente iludida por
tele-evangelistas ditos evangélicos que ela cria terem eles o poder de curar os
enfermos.
Saí da casa de dona Irene tranquilo da minha tarefa perante
Deus. Semeei com minha parceira a verdadeira semente desejoso de, naquele solo,
vê-la crescer; eu oro por isso. Todavia,
enquanto plantar e regar são tarefas atribuídas por Deus ao homem, o
desenvolvimento desta semente é algo exclusivo dEle. Assim partimos para a casa
de dona Sinhá, vizinha de dona Irene.
Nesta terceira casa morava um casal de velhinhos. Quando
começamos a conversar com eles, Eliard mais uma vez se fez presente, mas agora,
para nos ajudar a explicar que é somente através da fé em Jesus Cristo que
alguém pode ter comunhão com o Criador e aguardar a certeza da vida eterna
junto de Deus. Várias das convicções de dona Sinhá eram bíblicas, mas seu
coração ainda não pertencia a Deus. Enquanto falávamos com ela, seu marido que
escutava quieto, fazia para si um cigarro de palha. Deixamos claro naquele
humilde lar, com a ajuda de Eliard, que Jesus Cristo era o caminho, a verdade e
a vida (cf. Jo 14.6) e não estávamos
ali para propagar a lei dos católicos, tampouco a lei dos crentes, mas a Lei de
Deus.
A aventura de Eliard neste dia ainda não havia terminado,
apesar dele não ter aparecido nas próximas casas que visitamos. Sua próxima
aparição se deu na praça onde o convidamos para ouvir e cantar canções que
falam para e sobre Deus conosco. Ele foi o único de todos os convidados que
surgiu pontualmente. Com sua bicicleta barra forte, uma camisa xadrez azul e
branca e de banho notoriamente tomado, aguardava ansiosamente pelo que
infelizmente não aconteceu. No horário em que convidamos os habitantes do sítio
estrada para a praça em que cantaríamos e falaríamos do evangelho, a igreja
romana (das santas missões) marcou uma reunião. Não sabemos se isso aconteceu
propositalmente, mas sabemos que isso é provável. Nosso intuito não é competir,
desafiar, nem desrespeitar a igreja romana.[1]
Nosso intuito é proclamar o Reino de Deus com foco em seu Rei: Jesus Cristo,
nosso Deus salvador.
Já a espera de nosso caminhão, estilo pau de arara, Eliard
veio até mim e disse: "já conversei com o padre." Um pouco assustado,
pois eu nada havia pedido para ele, quis saber o conteúdo da conversa. Ele me
disse que pediu para o padre sua permissão para nós voltarmos no dia seguinte e
mostrar na praça, em frente à igreja, o filme Jesus. Eu simplesmente sorri. meus
olhos ficaram molhados e meu coração pulava mais pro causa da alegria que eu
via naquele simples rapaz com um simples desejo: conhecer mais da verdade,
saber mais sobre Cristo, que também morreu por ele.
[1] O
catolicismo no sertão pouco se parece com o que popularmente se sabe sobre ele.
Ele tem muitos elementos de um catolicismo pré-reforma.
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