14 de janeiro, 2014
Mark e Diane Ellis |
Mesmo
que eu seja um estrangeiro ensinando teologia no Brasil, sob os
auspícios de uma junta de missões, eu não me vejo como um "missionário".
No esquema do ministério, conforme estabelecido pelo Apóstolo em
Efésios 4, há evangelistas – os verdadeiros missionários que são
chamados a levar o Evangelho para onde este nunca foi ouvido, os
pastores–líderes que são chamados a dedicar suas vidas ao cuidado e
supervisão de igrejas locais, e por último, os mestres – aqueles que
dedicaram suas vidas ao estudo e ensino da Palavra de Deus. E assim como
"zelo pela casa de seu pai" consumiu o Senhor Jesus Cristo, penso que o "zelo pelos perdidos" consome os corações dos evangelistas, "o zelo pela Igreja" consome os corações de pastores, e "zelo pela Palavra"
consome o coração dos mestres. E confesso que o que realmente consome
meu coração é o zelo pela Palavra de Deus. Como aconteceu com Ezequiel, a
Palavra de Deus é como mel para mim!
No entanto, eu sou um estrangeiro, um hóspede "em casa alheia".
Eu reconheço que, apesar de viver no Brasil há quase 20 anos e ter
conquistado o direito de receber a honra da cidadania brasileira, para a
maioria dos brasileiros sempre serei um americano. E mesmo que o foco
do meu ministério seja ensinar a teologia e as Escrituras e não a
evangelização e o plantio de novas igrejas, para a maioria dos
brasileiros sempre serei um missionário. E, para alguns brasileiros, ser
um missionário americano não é nada menos do que um estigma indelével.
Por isso, realmente esforço-me ao máximo para me comportar de modo a não
ofender meus anfitriões, especialmente em determinadas áreas de
divergência.
A
maioria das áreas em que discordo da média dos batistas brasileiros não
tem a ver com assuntos essenciais. Eu sou um pré-milenista, e a os
batistas brasileiros são, em sua maioria, amilenistas. Tudo bem! Eu sou
indiferente quanto ao debate entre Calvinismo e Arminianismo, enquanto a
maioria dos batistas brasileiros questiona se um calvinista pode ser
batista! Acho que devemos usar pão ázimo na Ceia do Senhor, e que as
pessoas devem ser batizadas no mesmo dia em que eles confiam em Cristo
como seu único e suficiente salvador. Reconheço, no entanto, que essas
diferenças não são suficientemente importantes para diferir de meus
irmãos brasileiros. Então, eu raramente menciono minha escatologia,
silenciosamente esmago meu pão durante a Ceia do Senhor, e sempre
batizei as pessoas que tinha levado a Cristo, assim que elas sentiram
que estavam dispostos para tanto.
Existem,
todavia, algumas diferenças por cima das quais não se pode passar,
porque ao contrário de usar pão fermentado na ceia ou esperar para
batizar o novo crente, porque têm a ver com questões que são claramente
tratadas na Palavra de Deus. Claro, em alguns casos algumas pessoas vão
levantar a questão de como interpretar este versículo ou aquele, mas na
maioria dos casos, o significado dos textos relevantes foi acordado
entre os cristãos por toda a história da Igreja, até os anos recentes.
Na maioria dos casos, o problema não é que esses textos bíblicos sejam
obscuros. O problema é que são muito claros. E repudiar tais práticas é
repudiar a própria Palavra de Deus! E em momentos assim, a minha
lealdade a Jesus Cristo e meu zelo para com Sua Palavra superam o meu
desejo de ser um hóspede educado na casa brasileira. Naquele momento, eu
devo ser um servo fiel na casa de Deus.
Quais
possivelmente poderiam ser essas questões? Elas incluem, por exemplo, a
injunção bíblica que os cristãos nunca deveriam levar outros cristãos
ao tribunal, e, apesar da declaração clara a este respeito na Palavra de
Deus (I Coríntios 6.1-11), houve um pastor que ameaçou me processar
porque não gosta do meu ensino! Faz poucos anos que um grupo de mulheres
queria processar a Ordem dos Pastores. Não faltam exemplos de irmãos
batistas rejeitando essa ordem apostólica, claramente ensinada na
Palavra de Deus. E o que foi que ofendi o pastor que queria me
processar? É que ousei ensinar o único significado histórico e
contextual do que significa ser um "homem de uma mulher" (I
Timóteo 3.2), o primeiro requisito para ser um pastor– que se um pastor
se divorciou e se casou de novo ele tem duas alianças com duas mulheres e
é desqualificado do ministério – o entendimento deste texto desde a
igreja primitiva, e aceito pelos reformadores e por todos os batistas
até que a igreja ficou infectada com a febre do divórcio, que agora
domina as nossas culturas–seja a americana, seja a brasileira. E por
final, inclui-se a questão da ordenação de mulheres como pastoras, um
ato que viola a Palavra de Deus de Gênesis 2 a I Pedro 5.
Durante
quase toda a minha carreira, guardei minhas opiniões em silêncio,
exceto em algumas poucas exceções notáveis, e algumas conversas
privadas. Por quê? Porque estas rejeições da Palavra de Deus foram
feitas em bases individuais. Agora, porém, que um órgão oficialmente
reconhecido pela Convenção Batista Brasileira, a Ordem dos Pastores
Batistas Brasileiros, já está promovendo a ordenação de homens com
alianças com duas esposas e a ordenação de mulheres, e sabendo que esta
apostasia acabará por infectar as igrejas batistas do Brasil,
tornando-as ainda mais suscetíveis a atos de apostasia ainda maiores,
como a aceitação do homossexualismo, não posso mais ficar em silêncio,
pois eu também devo comparecer perante o tribunal de Cristo, e também
precisarei responder por aquilo que fiz ou deixei de fazer quando a
Convenção Batista Brasileira entrou na rota de apostasia.
1. O propósito desse ensaio é tratar mais desvios práticos do que doutrinários, embora estes desvios práticos impliquem a apostasia de rejeitar das Escrituras como nossa regra de fé e prática. Mas como professor de teologia, e tendo muitas conversas teológicas com pastores, professores e alunos, garanto que desvios doutrinários, como universalismo, e rejeição da morte expiatória de Cristo, a rejeição do castigo eterno no lago de fogo e a defesa de homossexualismo, estão ativos e vivos entre nós.
Tive uma conversa aberta no meio do refeitório com um aluno, no que ele
abertamente defendeu o homossexualismo, entre outros assuntos. Também
declarou sua intenção para enganar o concilio para ser ordenado como
pastor batista e assumir o pastoreio de uma igreja batista para promover
sua teologia.
Essas palavras são fortes demais, ou talvez exageradas? Fortes, sim, mas exageradas, não. São palavras apoiadas e defendidas pela história da Igreja. Eu amo a História da Igreja. É uma fonte de encorajamento. É uma fonte de advertência.
No Século XVI, o racionalismo bateu com violência à porta do
Cristianismo, e os batistas gerais da Inglaterra abandonaram a Fé
Apostólica e escorregaram para o arianismo e apostasia, e acabaram
morrendo como denominação. No Século XVII, os batistas particulares
caíram na heresia do hipercalvinismo, e também foram reduzidos quase a
ponto de desaparecerem. No Século XVIII, a alta crítica foi vomitada
pela Alemanha e foi aceita pelos batistas ingleses, que tinham acabado
de ser renovados pelo Primeiro e Segundo Avivamentos Evangélicos. Sob o
impacto da crítica radical, os batistas britânicos abandonaram as
doutrinas apostólicas da expiação, do inferno, da inspiração das
Escrituras e da doutrina batista de que a Bíblia é a nossa única regra
de fé e prática. E hoje, o pastor da maior igreja batista na Inglaterra,
Stephen Chalke, é um ávido defensor dos homossexuais, do casamento
homossexual, e da ordenação de pastores homossexuais. No Século XIX, o
liberalismo bateu à porta das convenções batistas americanas. A
Convenção Batista do Norte aceitou o liberalismo, e hoje é uma igreja
apóstata que nega a fé batista histórica e ordena mulheres e
homossexuais como pastores. Tem hoje um quarto do tamanho que tinha
quando ainda era uma instituição evangélica. Está morta, e desaparecendo. Por seu turno, na mesma época, a Convenção Batista Sulista, a “mãe”
da CBB, declarou seu compromisso com a fé batista histórica numa
declaração de fé muito semelhante à da Declaração Doutrinária da
Convenção Batista Brasileira, e cresceu a ponto de se tornar a maior
denominação evangélica nos Estados Unidos, com 16 milhões de membros, e a
denominação que envia o maior número de missionários no mundo. E a
história também aconteceu entre os presbiterianos, os metodistas e os
reformados. Qualquer igreja que abandona a fé histórica, apostólica, protestante e evangélica está destinada à apostasia e à morte.
Isso não é nada menos do que revela a advertência de Paulo aos gentios
crentes em Romanos 11, quando ele destacou um outro povo que abandonou a
fé, os judeus:
“17
Se alguns ramos foram cortados, e você, sendo oliveira brava, foi
enxertado entre os outros e agora participa da seiva que vem da raiz da
oliveira, 18 não se glorie contra esses ramos. Se o fizer, saiba que não
é você quem sustenta a raiz, mas a raiz a você. 19 Então você dirá: “Os
ramos foram cortados, para que eu fosse enxertado”. 20 Está certo.
Eles, porém, foram cortados devido à incredulidade, e você permanece
pela fé. Não se orgulhe, mas tema. 21 Pois se Deus não poupou os ramos
naturais, também não poupará a você. 22 Portanto, considere a bondade e a
severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, mas bondade
para com você, desde que permaneça na bondade dele. De outra forma,
você também será cortado”. (NVI)
Por
favor, prestem muita atenção aos versículos 20 a 22. Deus não tem
qualquer dívida ou obrigação para com a Convenção Batista Brasileira. Se abandonarmos a fé apostólica, Deus não vai nos poupar. Ele vai cortar-nos, e levantar um outro povo mais fiel para tomar o nosso lugar. Assim
como os luteranos e reformados tomaram o lugar da Igreja Católica
apóstata no Século XVI, e os batistas e os metodistas tomaram o lugar
das igrejas luteranas e reformadas apóstatas no Século XVIII, Deus não
vai poupar a Convenção Batista Brasileira se seguir certos líderes na rejeição da Palavra de Deus. Ele
prometeu que vai nos cortar, e enxertará outros de modo que recebam a
bênção que temos abandonado. Ele não poupou a geração que morreu no
deserto. Ele não poupou a geração que foi para o cativeiro em 586
a.C. Ele não poupou a geração que rejeitou a Cristo, e foi destruída em
70 d. C. Ele também não vai nos poupar, se não permanecermos firmes.
Eu
sei que escrevi de forma ousada e franca, e que é muito provável que
tenha ofendido alguém com minhas palavras, e estou antecipando “push back” forte e feroz. Por favor, acredite em mim quando digo que não é minha intenção ofender.
Às vezes eu me identifico muito com o apóstolo Paulo, não porque seja
de alguma forma parecido com este grande santo da Igreja “cujas sandálias não sou digno de levar,”
mas porque algumas das minhas experiências são paralelas com as dele.
Paulo também era um estrangeiro pregando e ensinando numa outra cultura,
e como escreveu aos Coríntios: “Quanto a mim, irmãos, quando estive
entre vocês, não fui com discurso eloquente nem com muita sabedoria para
lhes proclamar o mistério de Deus. Pois decidi nada saber entre vocês, a
não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. E foi com fraqueza, temor e
com muito tremor que estive entre vocês” (I Coríntios 2.1-3). E como o Apóstolo, desejo que “minha
mensagem e minha pregação não consistam de palavras persuasivas de
sabedoria, mas consistam de demonstração do poder do Espírito”. Eu acho que como Paulo, alguém poderia dizer de mim que “as cartas dele são duras e fortes, mas ele pessoalmente não impressiona, e a sua palavra é desprezível”!
(II Coríntios 10.10) Também, escrevo essa missiva sabendo que poderia
muito bem acabar com o meu ministério no Brasil, fechando quaisquer
portas que estejam abertas para que eu ministre a Palavra entre meus
irmãos batistas brasileiras. Mas também como Paulo, venho humildemente
diante de meus irmãos batistas brasileiros, e pleiteio junto a eles como
o Apóstolo Paulo escreveu anonimamente aos judeus de Jerusalém, “Irmãos, peço-lhes que suportem a minha palavra de exortação; na verdade eu lhes escrevi brevemente” (Hebreus 13.22 ) .
Na próxima semana, os pastores da Convenção Batista Brasileira estarão à beira de uma decisão monumental, a
decisão de continuar a seguir a Palavra de Deus como sua única regra de
fé e prática, ou seguir a nossa cultura e a onda de feminismo que está
varrendo os nossos dois países. Eu desafio pastores que são fiéis a Deus e à Sua Palavra a (1) chegarem
cedo, pois o plano é votar sobre este assunto no primeiro instante,
antes que a maioria dos pastores possa chegar e se organizar, e (2) falarem a verdade em amor mas sem medo.
Digo isso porque certamente os feministas serão destemidos. Aqueles que
desejam ouvir uma defesa evangélica da doutrina bíblica da liderança
masculina, por favor, procurem os vídeos que estou postando tanto no
Facebook quanto no YouTube.
Encerro essa missiva com duas palavras de exortação, uma tirada do Apóstolo Paulo, a outra de Moisés. O Apóstolo escreveu:
“Não
se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que alguém semear,
isto também colherá. Quem semeia para a sua carne, da carne colherá
destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida
eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio
colheremos, se não desanimarmos (Gálatas 6.7-9).
E no final de sua vida, Moisés exortou o povo de Israel com estas palavras:
“Vejam
que hoje ponho diante de vocês vida e prosperidade, ou morte e
destruição. Pois hoje lhes ordeno que amem o SENHOR, o seu Deus, andem
nos seus caminhos e guardem os seus mandamentos, decretos e ordenanças;
então vocês terão vida e aumentarão em número, e o SENHOR, o seu Deus,
os abençoará na terra em que vocês estão entrando para dela tomar posse.
Se, todavia, o seu coração se desviar e vocês não forem obedientes, e
se deixarem levar, prostrando-se diante de outros deuses para adorá-los,
eu hoje lhes declaro que, sem dúvida, vocês serão destruídos. Vocês não
viverão muito tempo na terra em que vão entrar e da qual vão tomar
posse, depois de atravessarem o Jordão. Hoje invoco os céus e a terra
como testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a
morte, a benção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e
os seus filhos vivam, e para que vocês amem o SENHOR, o seu Deus, ouçam a
sua voz e se apeguem firmemente a Ele. Pois o SENHOR é a sua vida (Deuteronômio 30.15-20).
Escrito com amor sincero por meus irmãos (e irmãs!) brasileiros,
Dr. Mark A. Ellis
II Timóteo 2.22–3.5
Tiago 3.13-18
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