Graça é algo difícil, talvez um impossível conceito de se entender.
Charles Ryrie conta uma história enquanto ele ainda era seminarista. Ele ajudava uma organização cristã que fazia acampamentos para crianças desprivilegiadas, expressão usada por ele mesmo. Certa vez, num final de semana, acampando, ele descobriu que alguns jovens deixaram o quarto logo cedo pela manhã, pegaram um barco, e foram para longe da costa. Quando eles retornaram, passaram por Charles como cães com os rabos entre as pernas. O que eles fizeram não era somente contra todas as regras, mas muito perigoso.
Na noite anterior ao acontecido, Charles havia falado com eles sobre perdoar uns aos outros. Agora, ao mesmo tempo em que ele sabia que devia puni-los, reconhecia que o perdão devia estar em vista. Enquanto ele conversava com Deus, pensava consigo mesmo:
- “Senhor, não posso simplesmente perdoá-los.” Mas o Senhor me perdoou.
- “Senhor, tenho de fazer as regras valerem.” Fico contente que o Senhor não teve.
- “Senhor, eles vão achar que eu sou fraco.” Nunca achei que o Senhor fosse fraco.
- “Senhor, então eu os farei prometer que nunca farão isso de novo.” Boa coisa foi que o Senhor nunca teve de nos fazer prometer nada.
- “Senhor, tu és Deus e pode fazer qualquer coisa!” Bem, eu sou seu filho e preciso imitá-lO.
Na próxima reunião, quando as crianças esperavam pela certa punição, Charles simplesmente disse: “Vocês fizeram uma coisa horrível! Podia ter se tornado em algo desastroso para todos, suas famílias, para a organização, para mim. Mas eu os perdoo incondicional e completamente.” Eles não acreditaram, acharam que era alguma espécie de pegadinha, mas Charles deixou bem claro, inclusive fazendo o serviço que eles normalmente tinham que fazer naquele dia para que não associassem à qualquer espécie de punição. Charles queria deixar bem claro o que era graça. Nunca, segundo Charles, houve um grupo tão exemplar quanto o que estas crianças formaram. Nunca houvera um grupo tão gentil, auxiliador e útil.
Não foi fácil as crianças entenderem a graça concedida por Charles. Imagine quão difícil é entender, então, a graça de Deus, que perdoa todos os pecados, sem condição alguma, sem que haja qualquer coisa que deva ser feito para aquisição do perdão?
Com esta história em mente, pense nisso:
- Graça é favor imerecido. O receptor da graça não merece tê-la, mesmo porque a graça de Deus é impossível de se adquirir. As crianças não mereciam o perdão de Charles.
- Graça não é algo barato. Ela é bem cara! É gratuita para quem a recebe, mas custa caro para o doador. A Deus custou a vida de Jesus Cristo! Para Charles, custou uma boa dor de cabeça.
- Graça não é algo fácil de se acreditar. Um mundo meritocrático como o nosso não aceita presentes sem que façamos algo para obtê-los. Não é fácil acreditar em alguém que simplesmente lhe oferece algo sem que se pague ou faça algo que o torne merecedor daquilo. As crianças, à priori, não acreditavam que não haveria punição.
- Graça, quando recebido, muda a vida e o comportamento de quem o recebe. Nunca Charles teve um grupo tão dedicado a ele e ao acampamento depois do ocorrido.
Mais detalhes em So Great Salvation, capítulo 1.