terça-feira, junho 29, 2010

Charles Spurgeon: Sobre a Mulher do Pastor

Dois anos antes da morte de Spurgeon, ele escreveu:

Se eu fosse uma jovem, e estivesse pensando em casar-me, certamente não me casaria com um ministro da Palavra, porque a posição de esposa de ministro é muito difícil para qualquer mulher. As igrejas não pagam dois salários aos pastores casados, um para o marido e outro para sua esposa; mas, em muitos casos, também procuram pelos serviços da esposa, quer estejam pagando por isso ou não. Também é esperado que a esposa de um pastor saiba tudo sobre a igreja, e, olhando por outro prisma, não é obrigação dela saber; no entanto, para algumas pessoas, ela é sempre culpada, tanto por saber tudo ou por nada saber a respeito da igreja. Suas obrigações resumem-se a estar sempre em casa para atender a seu marido e sua família, e estar sempre fora de casa, visitando os membros da igreja, ou fazendo toda sorte de coisas por eles! Bem, é claro que isto é impossível; ela não pode estar à disposição de todos, e nem espera-se que ela agrade a todos. Seu marido não conseguiria fazer isto, e eu penso que ele seria um grande tolo, caso o tentasse; também estou convencido de que, se o marido não pode agradar a todos, muito menos o pode sua esposa. Certamente sempre haverá descontente, especialmente se este alguém tinha esperanças de se tornar esposa de pastor. Dificuldades surgem continuamente até mesmo nas melhores igrejas; e, como disse antes, a posição da esposa do pastor é sempre muito difícil.

No entanto, penso que se eu fosse uma jovem cristã, me casaria com um pastor cristão, caso eu conseguisse, porque existiria aí uma oporunidade de realizar tantas boas obras, ao auxiliá-lo em seu serviço para Cristo. É uma grande ajuda para a causa de Deus manter o pastor em boas condições para o trabalho. É função da esposa cuidar para que ele não esteja desconfortável em casa, a fim de que tudo lá esteja bem e livre de preocupações da pregação. A mulher cristã que desta forma ajuda seu marido a pregar melhor, é ela mesma uma pregadora da Palavra, ainda que nunca fale em público, tornando-se então extremamente útil para a igreja de Cristo, comprometida com o trabalho de seu marido.


Fonte:
Amado Timóteo, ed. Fiel, pp.24,25. Compilado por Thomas Ascol.
Citação de Spurgeon's Sermons Preached on Unusual Occasions, Pilgrins Publications, 1978, 248.

segunda-feira, junho 28, 2010

Ed Cole: Desejo e Oração

Wishing will never be a substitute for prayer.

(Tradução)  O desejo nunca será substituto pela oração.


-- Ed Cole

A Bíblia Permite Divórcio em Caso de Adultério?

Por John Piper

Excelente vídeo sobre o assunto de divórcio e recasamento.

Veja no novo site: www.todahelohim.com


Para aqueles que se interessarem mais sobre o assunto, veja o artigo Divórcio e Novo Casamento: Uma Declaração (clique), também por John Piper.

sexta-feira, junho 18, 2010

A Importância dos Missionários de Base

por Reinaldo Bui

Neste momento, em algum lugar do nosso país (para não estender este apelo a outras nações), há um crente frustrado em seu trabalho. Este irmão ou irmã é apaixonado por missões, seu coração ferve sempre que ouve uma mensagem desafiadora para “ir pelo mundo” aos povos que ainda não ouviram o Evangelho para pregar a mensagem de salvação. Mas ele vive num impasse. Seu paradigma de missionário é o mesmo da igreja em geral: aquele intrépido e desprendido ser que largou tudo e todos para se enfiar no meio de uma mata longínqua, a fim de viver sem um mínimo de conforto, disposto a se habituar à culinária nada convencional do povo que ele escolheu, só para levar as Boas Novas de Cristo.

Sua frustração só aumenta. Quanto mais este irmão ou irmã busca aconselhamento com seus pastores, mais distante suas esperanças ficam do “campo missionário”. Seu perfil é de alguém que adora rotina e desenrola muito bem o serviço burocrático. Talvez ele trabalhe numa empresa de telecomunicações, talvez ela seja uma secretária eficiente. Ou então este irmão/irmã seja um advogado, ou algum profissional da área administrativa, ou sei lá. Pode ser qualquer coisa, mas nunca conseguiu se imaginar comendo turu e morando numa maloca por amor às almas perdidas. Não que este sentimento não lhe incomode, mas por ser urbano demais, não conseguiria chegar tão longe. Por isto, cala-se, frustrado. Não consegue imaginar em que poderia ser útil para a proclamação do Reino. Ah, sim. Ele/ela é ativo em sua igreja. Mas quem tem o coração em missões está sempre com a cabeça lá longe.


Talvez alguns o questionem sobre a autenticidade do seu “chamado”, e este é outro paradigma que precisa ser quebrado. Chamado missionário não é algo místico. Se você está esperando uma revelação por sonho ou alguma visão extática, esqueça. Olhe para a Palavra (que vale muito mais do que qualquer visão). Atente, por exemplo a textos como:

...sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra (Atos 1.8).

...Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Marcos 16.15).


Este chamado, não é para poucos. Esta convocação é para todos os crentes. A questão é se você vai obedecer ou não... E aonde você vai cumprir esta comissão.

Voltemos ao nosso irmão frustrado. Ele tem convicção da importância desta santa convocação e perturba-se profundamente com isto. Para complicar ainda mais, seu teste de dons não apontou para evangelismo, ou ensino, nem para apostolado. Como era de se esperar, ele/ela é apto para administrar ou presidir. Desconsolado, chora: "continuarei orando por missões..."

Neste momento, em algum lugar do nosso país há um crente apaixonado por missões, mas frustrado porque o velho paradigma o impede de ir; e neste mesmo momento, em alguma base missionária, há um missionário que está louco para ir embora pro meio do mato, comer turu com o povo local e morar numa maloca, a fim de desenvolver seu dom de compartilhar o Evangelho de maneira contextualizada... Mas não pode porque alguém tem que fazer o serviço burocrático e rotineiro na base da missão. Ele ora: "Senhor, mande alguém prá fazer este serviço porque senão eu vou ficar louco com esta papelada aqui!"

Somente quem desconhece quantos dons e habilidades diferentes são necessários para se compor uma equipe missionária ignora que “missionários de base” são tão importantes quanto os “missionários de campo.”

terça-feira, junho 01, 2010

Um Breve Estudo Sobre o Significado de "Amar o Próximo Como..." (Mc 12.30-31)

Amar o próximo como...
por Reinaldo Bui 

Recentemente participei de uma aula de escola dominical numa determinada igreja, cuja aula era guiada por uma revista que, segundo o título, nos propõe uma nova vida em Cristo. Muito me preocupou o que estava sendo ensinado àquela igreja - e sei lá quantas mais, aos crentes desejosos de uma nova vida, quando foi lido, por exemplo, o seguinte texto na referida revista:

Amarás, pois, ao Senhor teu Deus... Amarás ao próximo como a ti mesmo... (Mc 12.30-31). Na EBD foi dito que Jesus estava ressaltando uma verdade incontestável: não basta amar a Deus e ao próximo, é preciso amar a si mesmo. Esta prática do amor tríplice ajuda você a ter menos problemas físicos e emocionais, como comprova a ciência. O princípio supremo dado por Jesus é para o nosso bem estar. Este ensino me levou a algumas perguntas:
  • Será que aumentar nossa auto estima refletirá num aumento substancial de preocupação ao bem estar alheio?
  • Quanto mais eu me amar mais amarei o próximo?
  • Amor próprio é um mandamento?
  • Será que assim Deus não estaria nos incentivando a intensificar atenção e gastos com nossa própria pessoa antes de pensar no próximo?
  • Será que naturalmente já não fazemos isto?
Esta expressão amar o próximo como a ti mesmo aparece 8 vezes na Bíblia, e foi citada pela primeira vez em Levítico 19.18. Neste contexto, Deus estava dando uma série de instruções para Seu povo no que diz respeito ao relacionamento e tratamento para com o próximo (cf. Lv 19.9-18). Deus não estava sugerindo, em hipótese alguma, que seu povo desenvolvesse um mecanismo de “auto amabilidade” para poder amar o próximo de uma maneira melhor. Não! Deus sabe que somos egoístas por natureza. A ideia expressa aqui pelo Senhor é melhor interpretada como “Ame o próximo como você se ama.”

Não há nenhum texto bíblico que mande ou sugere que nós nos amemos. Isto já é inerente à nossa natureza. Amar-se a si mesmo é próprio da natureza humana. Note o que Paulo escreveu aos Efésios (5.28-29).

Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne;
antes, a alimenta e dela cuida...

Maridos devem amar suas esposas como se amam, assim como devemos amar o próximo como nos amamos, cuidamos de nós, visto que sabemos o que é melhor para o nosso eu.

Vemos este mesmo princípio na chamada “regra áurea”: tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas (Mateus 7:12).


Repetições no NT
Neste mesmo espírito, Jesus citou Levítico 19.18 em 2 ocasiões:

Uma delas aconteceu quando um jovem rico o abordou querendo saber o que poderia fazer (esforço próprio) para ganhar a vida eterna (Mt 19.16-22). Entre as “observações” que Jesus considerou, constava “ame o próximo como a ti mesmo”. Vemos no desfecho desta história que, embora o jovem afirmasse que cumpria isto, ele de fato não amava o próximo como se amava.

A segunda, foi quando um intérprete da Lei questionou Jesus sobre qual era o maior mandamento. Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes (Mc 12.28-31).

Lucas Também cita Levítico 19.18 numa situação semelhante a esta, porém Jesus fez com que o escriba respondesse sua própria pergunta (Lucas 10.27). É neste contexto que Jesus ensina a seus ouvintes quem é o nosso próximo, contando-lhes a parábola do samaritano – um personagem extremamente degradante aos olhos de um judeu daquela época. Ame o próximo como este samaritano fez e ame o próximo como você se ama, mesmo que seja um samaritano... você consegue?

Além dos sinóticos, Paulo (2 vezes) e Tiago (uma vez) citam este mandamento enfatizando-o como sendo um resumo (essência) da Lei.


Referencial: “EU”
Ao mesmo tempo que o referencial deste mandamento da Lei para amar o próximo baseia-se no quanto nós nos amamos, ele também constitui um problema, pois é verdade que ânimos variam de pessoa para pessoa (assim como pode variar em uma única pessoa). Vejamos aqui os dois extremos de “amor próprio”:

Como devo amar o próximo se tenho...
  • Baixa auto estima
  • Auto estima elevada
Um é infeliz porque não é exatamente quem gostaria de ser ou não tem tudo aquilo que desejaria ter. Isto gera complexos e frustrações. Pessoas assim vivem amarguradas, tem raiva de Deus e da vida. Apresentam problemas de baixa estima, depressão, auto comiseração, etc.

No entanto, o problema desta pessoa não é falta de amor próprio, ela simplesmente acha injusto que os outros sejam mais felizes e realizados do que ela. Insisto que não é falta de amor próprio, mas sim falta de compreender o amor de Deus somado a uma superproteção do seu “ego”. De qualquer forma, esta pessoa sente muita dificuldade de amar o próximo (como a si mesma) porque ela necessita de toda atenção para si. Ela é extremamente carente, só se deixa demover por meio de lisonjas e elogios, e jamais reconhece qualidades nos outros.

No outro extremo, temos aquela pessoa que se ama tanto que é apática com tudo e com todos que de alguma forma não lhe favoreça. Supervaloriza-se tanto que não consegue olhar para as necessidades alheias. É indiferente com Deus, porque não se atenta à Sua Palavra. Normalmente vê Deus como alguém que está aí para servir seus desejos e garantir-lhe vitória em tudo o que fizer. Sua auto estima é super elevada e acredita que é assim porque merece. Sente-se linda e poderosa e não percebe o quanto é pecadora.

Responda sinceramente:
  • Uma pessoa que se ama tanto assim consegue amar o próximo de uma forma melhor?
  • E a pessoa do primeiro caso? Note que ambas são egocêntricas.
Portanto, quando Jesus citou “amarás o próximo como a ti mesmo” não estava ensinando amor próprio nesta passagem. Não estava ensinando a verdade incontestável que devemos primeiro nos amar para poder amar os outros.

Em 2 Timóteo 3.2 temos a única aparição da palavra egoísta (do grego philautos) na Bíblia, que significa aquele que ama a si mesmo; bem atento aos próprios interesses. Aliás, é bastante oportuno verificarmos algumas das definições que o dicionário Houais traz desta mesma palavra:
1-amor exagerado aos próprios valores e interesses a despeito dos de outrem;
2-exclusivismo que leva uma pessoa a se tomar como referência a tudo; excessiva vaidade, pretensão, orgulho, presunção;
3-atitude ética ou social que parte do princípio de que o móvel fundamental de todo pensamento ou ação (morais) é a defesa dos próprios interesses;
4-interesse que o ego tem por si próprio.

Sejamos sinceros: somos egoístas ou não?
Releia estas definições com a “guarda abaixada”, em tom de confissão.

Medite nas seguintes questões:
  • Quanto tempo e recursos você investe para cuidar de si mesmo e de seus interesses? Você gasta o mesmo em prol de outrem? Está disposto a gastar?
  • Se você ganhasse um prêmio substancial em dinheiro, gastaria com o que e para quem? Repartiria com alguém necessitado que não fosse seu familiar?
  • Temos algum valor? Esta pergunta eu respondo: sim! Tanto que Deus enviou seu único filho ao mundo para nos resgatar. Pagou um altíssimo preço. Morreu em nosso lugar, para que nós tivéssemos vida e vida em abundância. Deus nos ama e nos adotou como filhos, nos fazendo co-herdeiros com Jesus.
Não estamos defendendo que a pessoa não deva cuidar de si: de sua saúde física, emocional, intelectual e, principalmente, espiritual. Mas não podemos puxar para nós honra ou valor maior do que Deus nos outorgou. Se somos o que nos tornamos é porque Ele nos transformou. Sem Deus, não passamos de miseráveis pecadores!

Veja o que o salmista escreve em Salmos 8.3-5:

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres e o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.

Primeiro, o salmista reconhece nossa insignificância e pequenez diante da grandeza do universo (obra dos dedos de Deus), e em seguida admira-se com o cuidado de Deus por seres tão pequenos como nós. Se buscarmos nossa própria glória, deixamos de honrar o nosso criador exaltando o nosso ego; mas quando reconhecemos e aceitamos a posição que o Senhor nos colocou, então glorificamos o Seu Nome.

Agape ou philautos?
Ao invés de incentivar o amor próprio, Jesus convida aqueles que querem segui-lo (cristãos) a negarem-se a si mesmo, tomarem sua cruz e segui-lo.

Aqui o amor próprio começa entrar em conflito com o amor agape. Se agape é um amor incondicional não pode estar se referindo a mim mesmo, mas ao próximo. Precisamos entender que agape é altruísta, enquanto que philautos é egoísta. Se amor próprio não pode ser agape, então é um amor “egocentrado.”

Em 1 Coríntios 13, o apóstolo Paulo escreve, inspirado pelo Espírito Santo, a melhor definição de amor (agape) que conhecemos. Analise esta passagem cuidadosamente:

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;
não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba...

Certamente este hino não descreve, e nem nele cabe o amor próprio (philautos). Somente o amor ao próximo (agape).

Novo mandamento
Em João 13, no contexto da última ceia, Jesus muda radicalmente o referencial de amor ao próximo quando diz a seus discípulos: Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros (João 13.34-35).

O referencial da antiga aliança de amor ao próximo, assim como todo cumprimento da Lei, dependia do que eu poderia produzir; dependia de meus próprios esforços. Nesta nova aliança anunciada e inaugurada pelo Senhor Jesus, o referencial não se baseia mais em nossa frágil e egoísta natureza humana, mas no Seu amor.

1 João 4:19 nos ensina que nós amamos porque ele nos amou primeiro, e não porque me amo. Devemos amar como Ele nos amou: Servindo, perdoando, incondicionalmente.

A velha Lei dizia: Ame o próximo do jeito que você se ama. E agora? O que a graça, diz? Amar ao próximo: como você se ama ou como Cristo nos amou? Qual deve ser o nosso referencial? Insistir no amor próprio é negar que Cristo é o nosso referencial.

Mas se amar o próximo como nós nos amamos já é difícil, e quanto amar como Cristo nos amou? Novamente, se depender de nós, é impossível. Por isso Deus nos deu o Seu Espírito. Conforme permitimos, veremos o fruto deste Espírito crescendo em nós, abrochando amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

Não preciso recorrer para a ciência para saber que pessoas que amam a Deus e ao próximo tem menos problemas físicos e emocionais. Antes da ciência comprovar, a Bíblia já afirmava isto com autoridade e quer que esta seja uma realidade em sua vida!
E quanto ao amor próprio? Bem, sabemos que a pessoa que é amada se sente valorizada. Daí cabe a seguinte pergunto: Você crê que Jesus te ama? Então espalhe este amor pelo mundo. Ame ao próximo como Ele te ama. (Para uma compreensão melhor deste assunto, leia a Primeira Epístola do Apóstolo João.)