sábado, fevereiro 04, 2012

Por que é difícil ser pastor hoje? (parte 3)

Por Marcos Granconato
Veja a parte 1 e parte 2

Este já é o terceiro artigo da série Porque é difícil ser pastor hoje? Prometo que só vou escrever mais um. Não que não tenha mais assuntos. Na verdade, há várias tendências atuais que dificultam o trabalho pastoral. Aqui, porém, tenho destacado somente as que mais têm chamado minha atenção e que não parecem ter sido tão comuns em épocas passadas.


O terceiro motivo pelo qual é difícil ser pastor hoje é que os crentes não conseguem mais enxergar a dimensão comunitária do cristianismo. Isso significa que eles não reconhecem o valor imenso da igreja, não buscam um envolvimento mais profundo com ela e não se preocupam em promover os interesses ou aliviar os pesos da comunidade da fé.


Não sei ao certo quando e como tudo isso começou, mas o fato é que, além desse descaso por parte de muitos crentes, há também uma verdadeira campanha contra o envolvimento do indivíduo na igreja local. Artigos e livros são escritos, palestras são proferidas e aulas são ministradas em seminários afirmando que, nesta época pós-moderna, as pessoas devem viver o cristianismo do seu jeito, de acordo com suas percepções individuais, sem ter de se “sujeitar” a esta ou aquela instituição.


Parece lindo, mas os resultados desse discurso têm sido trágicos. Primeiro, essas ideias têm fornecido a base teórica para a apostasia. Encorajados por esses pensamentos, aqueles crentes irresponsáveis que só iam à igreja de vez em quando e, ainda por cima, “pela orelha”, encontraram uma linda desculpa para sumirem de vez. Agora, eles dizem coisas mais ou menos assim: “Eu sirvo muito melhor a Deus em casa ou indo com minha família a um parque do que frequentando a igreja onde há tanta hipocrisia!”. Puxa! Isso tem de ser piada! Só uma anta com cérebro de minhoca não percebe a hipocrisia dessa frase!


Leiam 1João 4.20 e pensem: será que essa gente que nunca foi capaz de amar o irmão que via em sua frente, que mal sabia o nome dos líderes da igreja, que ia embora correndo dos cultos enquanto o poslúdio ainda estava tocando; essa gente que nunca visitou um irmão doente, que nunca socorreu uma ovelha fraca e nunca, nem com um dedo, ajudou o povo redimido a levar seus fardos, agora serve a Deus, a quem não vê, em casa e no parque? Ora, tenham dó! Se esse tipo de crente reflete o modelo que Jesus quer que sigamos, então eu sou o Bozo! (querido Bozo, caso leia este artigo, quero que saiba que não tenho nada contra você; só usei seu nome aqui por força de expressão).


O ensino de que o cristianismo pode ser vivido plenamente sob a capa da individualidade, por incrível que pareça, produziu também um novo tipo de igreja! É “meio” contraditório, mas tudo começou mais ou menos assim: alguns líderes “cristãos” resolveram alcançar pessoas que foram “feridas” nas igrejas de que participavam e que, por isso, se afastaram, apoiadas na ideia de que podiam ser crentes sozinhas. O suposto objetivo daqueles líderes era reunir esses crentes sem igreja, aceitá-los com todas as suas “fraquezas” e restaurar-lhes a paz e a alegria depois do grande sofrimento e de todas as “injustiças” que os pobrezinhos sofreram nas mãos de pastores e comunidades “sem amor”. 


Quando soube desses ministérios, pensei: “Ou esses caras são muito ingênuos ou são muito safados. Será que eles acreditam mesmo que os que abandonaram a igreja são santinhos magoados? A Bíblia diz que os crentes piedosos, que andam mesmo na luz, têm comunhão com os irmãos (1Jo 1.7). Será que esses são exceção? Mas, talvez os criadores desse novo tipo de igreja sejam, na verdade, muito malandros. Talvez queiram um ministério nesses moldes para se livrar da parte amarga do pastorado, para evitar aquele trabalho de correção em que ninguém joga confete, para fugir dos enfrentamentos difíceis e desgastantes que o pastor de verdade tem de encarar (2Tm 4.2). Talvez queiram apenas isto: um ministério fácil, um pastorado cheio de tapinhas nas costas, que só gera elogios e um bom salário.


Qualquer que tenha sido o impulso por trás desses “ministérios”, o fato é que, para alcançar seu público-alvo, eles ofereceram aos que abandonaram a comunhão tudo aquilo com que sempre sonharam: um novo modelo de igreja em que você “vem como está” e, se quiser, permanece como está. Nada de compromissos, nada das chatas admoestações pastorais e, especialmente, nada de disciplina contra o pecado obstinado. Ali, dizem, “o indivíduo é respeitado e valorizado enquanto ente singular, com todas as suas falhas e imperfeições”.


A estratégia deu certo e surgiram igrejas compostas por aquela gente que é só encrenca, que não dá certo em lugar nenhum, que quando vai embora não deixa qualquer saudade. Com isso, o cristianismo foi mais uma vez desfigurado e a consciência já enfraquecida de quem vivia longe da verdade, encontrou mais uma almofada em que se recostar, dizendo: “Ufa!, agora ninguém mais pode dizer que estou desviado!”


Há muitos outros prejuízos que a concepção meramente individualista de espiritualidade gerou. A apostasia e aquelas estranhas igrejas novas são apenas dois exemplos que estão longe de abarcar todos os males dessa forma de pensamento. Infelizmente, não há espaço aqui para mostrar outros problemas oriundos disso. Por isso, vou encerrar. Antes, porém, quero dar um recadinho para esse grupo imenso de apóstatas que vive criticando as igrejas de verdade de onde saíram. Lá vai: 


Prezado ente singular com falhas e imperfeições:



Venho por meio destas maltraçadas linhas dizer que sei que você não vê valor nenhum em ser parte de uma igreja e que o deus fanfarrão que você inventou se satisfaz com sua adoração imaginária, feita em casa e no parque. Gostaria, porém, de dizer que você está errado. Pegue a Bíblia (se tiver) e leia (se souber) os seguintes textos: 1Coríntios 12.20-27, Efésios 4.1-16 e Hebreus 10.25. Talvez essas passagens o ajudem a mudar de ideia. 


Outra coisa: pode ser que você esteja fora da igreja séria porque ela não aceitou o seu modo de vida e você esteja agora procurando uma igreja “mais amorosa” que o aceite do jeito que você é. O que vou dizer talvez o faça cair da cadeira, mas como você já está acostumado a cair, vou dizer assim mesmo. É o seguinte: a igreja não é o lugar de pecadores, onde os maiores perversos são recebidos de braços abertos. Não! A igreja é o lugar de pecadores arrependidos. É verdade que ela é o refúgio onde os maiores perversos são recebidos, mas ela é também a comunidade onde esses mesmos perversos são convidados a viver uma vida de honra a Cristo e onde deverão permanecer, desde que deixem para trás o chiqueiro em que viviam (1Co 6.9-11). 

Por isso, se você é só pecador e teima em permanecer nos seus erros, o último lugar em que você deve estar é a igreja (1Co 5.1,2). Nesse caso, meu apelo é que você viva bem longe do aprisco santo e siga o seu caminho de mentiras, quem sabe dentro de uma igreja de mentira, servindo um deus de mentira, sob a orientação de um pastor de mentira que prega um amor de mentira.



Nenhum comentário:

Postar um comentário