quinta-feira, junho 30, 2011

Três expectativas para um líder cristão em 1 e 2 Timóteo (parte 2/5)

Por T. Zambelli

Paulo como mestre

Além de se apresentar como modelo a ser imitado, Paulo também reconhecia ser um mestre, “cujo trabalho é de instruir homens, particularmente os gentios, a quem ele especificamente foi enviado, para proclamar as doutrinas da vida eterna, a ressurreição e incorruptibilidade final do corpo humano. Em resumo, a salvação do corpo e alma dos homens por Cristo Jesus.” O apóstolo reconhecia que era o próprio Deus quem lhe dera o ofício de mestre: Deste evangelho fui constituído pregador, apóstolo e mestre (2Tm 1.11 – grifo meu; cf. 1Co12.28).

Um genuíno mestre (διδάσκαλος) é alguém verdadeiramente capaz de ensinar a outros. No caso de Paulo, especialmente os gentios, mas não exclusivamente: Para isso fui designado pregador e apóstolo (Digo-lhes a verdade, não minto.), mestre da verdadeira fé aos gentios (1Tm 2.7 – grifo meu; cf. Ef 3.7-8). Sempre que o apóstolo chegava a uma nova cidade, ele visitava a sinagoga e lá ficava até que era expulso (ex.: At 18.4-8). Então sua atenção era focada no público não judeu.

Todo mestre tem sua área de domínio. O professor (ou mestre) Paulo especificou a sua: a Palavra de Deus. Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês, e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo, que é a igreja. Dela me tornei ministro de acordo com a responsabilidade, por Deus a mim atribuída, de apresentar-lhes plenamente a palavra de Deus, o mistério que esteve oculto durante épocas e gerações, mas que agora foi manifestado a seus santos. A ele quis Deus dar a conhecer entre os gentios a gloriosa riqueza deste mistério, que é Cristo em vocês, a esperança da glória (Cl 1.24-27 – grifo meu).

Era tarefa do apóstolo apresentar todo o conteúdo do Evangelho. Isto é que significa plenamente (πληρῶσαι) no texto bíblico. Um bom professor sabe como administrar o conteúdo a ser ensinado e o tempo necessário para a boa explanação. Em alguns locais Paulo permaneceu mais tempo do que em outros, razão nem sempre explícita na Bíblia, mas que ele sabia o porquê.

Timóteo podia testificar da realidade e da eficácia do ensino de Paulo

Timóteo era companheiro de Paulo. Estavam juntos em várias cidades para pregar a respeito de Jesus, o Filho de Deus (1Co 1.18-19): Filipos, Tessalônica, Beréia e Corinto, por exemplo. O jovem sem dúvida passou tempo suficiente com seu mestre para observar e internalizar suas virtudes. O próprio apóstolo, convicto de seu bom caminhar com Deus, reconhece ter tido Timóteo como testemunha de seu proceder em prol do Reino de Deus: Mas você tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta, o meu propósito, a minha fé, a minha paciência, o meu amor, a minha perseverança as perseguições e os sofrimentos que enfrentei, coisas que me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra (2Tm 3.10-11a). Todos estes bons valores de Paulo eram diametralmente opostos ao que homens como descritos no início de 2Tm 3 são apresentados. São estes os valores:

• Ensino (διδασκαλίᾳ): Paulo, como todo bom mestre, era um exímio expositor da Palavra de Deus. Timóteo sabia que de sua boca saía apenas o conteúdo do genuíno Evangelho, sem escoriações no conteúdo soteriológico.

• Conduta (ἀγωγῇ): Paulo era eticamente correto; vivia o que pregava. Ele inclusive sabia que Timóteo podia testemunhar seu proceder aos coríntios (1Co 4.17).

• Propósito (προθέσει): O apóstolo aos gentios disse: Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus (At 20.24).

• Fé (πίστει): Paulo caminhava com Deus de acordo com sua fé, que também era ensinada aos gentios e judeus: Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo para levar os eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade que conduz à piedade (Tt 1.1).

• Paciência (μακροθυμίᾳ): Paulo ensinava que longanimidade devia ser parte da essência do cristão, como fruto do Espírito (Gl 5.22) e vestimenta do novo ser (Cl 3.12).

• Amor (ἀγάπῃ): Paulo sabia que um genuíno amor é sem hipocrisia (Rm 12.9).

• Perseverança (ὑπομονῇ): um sinônimo de paciência, cuja compreensão de Paulo não ficava somente em palavras: mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente (Rm 8.25).

• Perseguições (διωγμοῖς): Paulo suportou diversas perseguições e Timóteo era testemunha disso.

• Sofrimentos (παθήμασιν): Paulo, o apóstolo, sofreu singularmente pela causa do Reino (2Co 11.16-33).

• (Coisas) quais me aconteceram (οἷα μοι ἐγένετο): Como exemplos, ...provocando perseguição contra Paulo e Barnabé, os expulsaram do seu território (At 13.50b) e ...apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, pensando que estivesse morto (At 14.19).

Timóteo pôde observar o ministério paulino de muito perto. Ao falar sobre a palavra grega (um verbo) que traduz tem seguido de perto (παρηκολούθησας) Hendriksen afirma que “o verbo implica que Timóteo havia realmente tomado Paulo como um modelo, e que, além disso, o havia ouvido com grande interesse quando relatava suas experiências, em algumas das quais (por exemplo, as ocorrido em Listra) o próprio jovem estivera intimamente envolvido.” 

O mestre Paulo, que vivia o que pregava, o real conteúdo da mensagem bíblica, também orientou seu pupilo Timóteo que agisse assim.

Timóteo como mestre

Paulo exige que Timóteo ordene e ensine estas coisas (1Tm 4.11; veja também 1Tm 6.2,17). 

Ele deve ordenar coisas tais como: ‘rejeitar mitos profanos e de velhas senis’, ‘Exercite-se [e a outros] para o viver piedoso’ (v.7). Ordens tais como essas se aplicam não só a Timóteo pessoalmente, mas a todos os presbíteros, sim, e ainda a todos os cristãos. É provável que a expressão ‘essas coisas’, em conexão com ‘ordene’, se refira também a mandamentos implícitos, tais como: ‘nunca rejeite o que Deus destinou ao uso, mas participe dele com ações de graça’ (vv.3,4); ‘Nutra-se [e a outros] das palavras da fé e da sã doutrina’ (v.6); ‘Confie no Deus vivo e em sua promessa a todos os eu vivem piedosa e o aceitam com fé genuína” (vv. 8,9). Timóteo deve ensinar coisas como ‘a apostasia está chegando na forma de ascetismo’ (vv.1-3); ‘esse erro é um insulto a Deus e à sua criação’ (vv.4,5); ‘um ministro excelente é aquele que se alimenta da sã doutrina que ele transmite a outros’ (v.6); ‘o benefício que advém da vida piedosa transcende aquele que resulta do treinamento físico’ (vv.8-10).”

Todo mestre deve se empenhar em ordenar e ensinar em ordem de se fazer conhecido, com a autoridade de Cristo, o conteúdo da Palavra de Deus para o procedimento de uma vida santa. Paulo também disse: até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino (1Tm 4.13):

• Leitura pública (ἀναγνώσει): A palavra grega pode ser tanto uma leitura privada quanto pública, mas parece mais lógico que seja uma referência à leitura pública, como sugere a tradução portuguesa. Numa época onde os textos impressos eram escassos, a leitura pública era a melhor forma de propagar o ensino. Um mestre deve ser capaz de pregar.

• Exortação (παρακλήσει): A palavra grega não tem o sentido de repreensão, mas de aconselhar, animar e encorajar. Todavia, isso inclui a advertência, como por exemplo, num erro moral. Um bom mestre igualmente sabe conduzir propriamente as pessoas ao sentimento e a atitude correta, de acordo com a Palavra de Deus.

• Ensino (διδασκαλίᾳ): Paulo, como todo bom mestre, era um exímio expositor da Palavra de Deus. Timóteo sabia que de sua boca saía apenas o conteúdo do genuíno Evangelho, sem escoriações no conteúdo soteriológico..

Aos olhos de Paulo, Timóteo era capaz de, como ele, ser um bom mestre, alguém apto de pregar, exortar e ensinar o conteúdo bíblico, a verdade para a compreensão do propósito divino ao criar homens e mulheres segundo à Sua imagem e semelhança.

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