sexta-feira, junho 20, 2008

Poslúdio de uma Orelha Recuperada: Malco

...estava eu tomando conta do templo em Jerusalém quando meu chefe repentinamente me disse: "é hoje que iremos buscar Jesus!". Eu já estava cansado daquela história sobre Jesus, o homem que a multidão adorava e dizia que era enviado de Deus, o Messias. Esse não era o primeiro que assim agia. Todos antes dele tiveram o seguinte paradeiro: foram mortos e depois de alguns dias, às vezes semanas, não se ouvia mais sobre seu nome.

Bem, não pude deixar de ir ao encontro dele. Recebi ordens direta do sumo sacerdote. Ele disse que um tal de Judas, um traidor dentre eles, nos levaria até onde estava esse tal de Jesus para que nós o prendêssemos e garantisse sua chegada vivo até nossos líderes. Ossos do ofício...

Não demoramos muito para chegar ao Monte das Oliveiras, indicado pelo próprio traidor. Por pouco achei que aquele tal de Judas estava nos enrolando, mas foi uma rápida impressão. Nós éramos em muitos guardas, mas quem era eu para dizer que havia gente demais? Pelo que eu havia ouvido do povo, esse tal de Jesus não era nem sequer hostil. Claro, todos ladrões, assassinos e idólatras lutam por libertação na hora de acorrentá-los. Alguns pagariam com todo seu dinheiro pela liberdade. Existem aqueles que tentam correr para que em alguns metros de distância de nós, possa encontrar alguma forma de se matar. Acho que há muita confusão... Não somos como os da guarda pretoriana.

Muitos homens estavam na minha frente quando Judas beijou a Jesus. Este era o sinal combinado para que o identificássemos. Poucos entre nós já o conhecia de ver, mas eu, somente de falar. Como eu não queria perder a cena da prisão e contar para meus filhos sobre mais um episódio de meu trabalho, me aproximei vagarosamente daqueles que estavam ao lado de Judas. Foi aí que eu perdi minha orelha...

A minha curiosidade poderia ter me matado, como diz o ditado. Ao aproximar-me do pessoal que estava prendendo Jesus, meu foco ficou totalmente nele. Naquele instante, somente conseguia enxergá-lo como alguém que merecia morrer, que colocava o nome de nosso santo Deus, o Deus de Israel, no mesmo patamar de deuses pagãos. Por perder meu foco e deixar que meu coração tivesse alcançado a santa ira, me descuidei. Um dos servos ou aprendizes daquele homem, sacou sua espada e decepou minha orelha direita. Nunca tinha sentido tamanha dor. O sangue que escorria em meu ombro e peito parecia como a água da chuva que caía do telhado de minha casa. Sei que quando nos machucamos, podemos nem perceber a dimensão total do ferimento. Eu sabia que tinha perdido a orelha porque ela estava pendurada, balançando por uma pequena pele que sobrou do deferido golpe de espada. Meu silencioso desespero se dava em pensar no meu descuido, na gravidade do ferimento e na bênção garantida por Deus em preservar-me da morte.


Enquanto me lamentava e orava a Adonai, ouvi Jesus dizer como se fosse a voz do próprio Deus: "basta!" Somente depois percebi que o homem que estava com ele, depois de decepar minha orelha, estava querendo enfrentar todo o exército de guardas que tínhamos naquele local. A palavra de Jesus foi suficiente para envergonhar ou amendrontar seu pupilo, que correu e o deixou. Mas antes, ele, o infeliz que decepou minha orelha, viu o que eu jamais poderia acreditar...

Jesus, logo após dizer em alta voz sua palavra, deu breves passos ao meu encontro. Nenhum homem da guarda se moveu e tampouco eu. Não sei explicar minha falta de reação logicamente. O fato foi que ele, bem próximo de mim, tocou ao lado de minha cabeça e logo em seguida, os guardas o atacaram para acorrentá-lo, garantindo a impossibilidade de fuga. Ninguém queria saber se eu estava bem. Ninguém queria saber o que significava aquilo que Jesus fizera em mim. Ninguém, a não ser eu mesmo...

Minha orelha estava no lugar onde eu queria que ela estivesse. O sangue que antes jorrava, agora estancado estava. Por que aquele homem era capaz de fazer aquilo? Não me refiro somente ao seu poder de cura. Já tinham me falado que ele era capaz de fazer isso, apesar de eu nunca ter dado crédito a tais pessoas. Já vi e conheci outras pessoas que curavam, pessoas estranhas... Mas seu amor... Eu vim buscá-lo, prendê-lo e levá-lo ao sumo sacerdote que já encontrou muitos motivos para que ele fosse colocado de lado, nas masmorras, no entanto, o que ele fez?!? Simplesmente me curou.

Acima escrevi um texto como se fosse Malco, alguém que teve uma suscinta aparição na Bíblia e que a história não conta detalhes. Este relato é encontrado no evangelho de Lucas (22.47-53) e em João (18.10), vemos o seu nome. Confesso que eu gostaria de saber o final da história de Malco...

Jesus de Nazaré foi aprovado por Deus diante de vocês por meio de milagres, maravilhas e sinais que Deus fez entre vocês por intermédio dEle.
Atos 2.22

Lembre-se, os milagres de Jesus não tiveram o propósito de simplesmente curar as pessoas. Jesus, através de Seu poder, se manifestava como Aquele que poderia e pode nos salvar, porque Ele é Deus. Foi assim que Ele se mostrou, também através das curas.

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