E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais.
(Mateus 6.7-8)
Em algumas situações de nossa experiência humana podemos não entender como ou porque fazer, mas se simplesmente soubermos como não fazer já estaria de bom tamanho! Talvez fosse esta a preocupação de Jesus, que “conhece um pouco” da religiosidade humana. Note que ele aborda dois extremos. Primeiro, o hipócrita, um mascarado religioso, que representa publicamente aquilo que ele não é. Em segundo, o gentio, que não conhece a Deus e desenvolveu seu próprio sistema de rezas e mantras para alcançar seu favor. Jesus descreve as orações dos gentios como o balbuciar insistente e repetitivo de muitas palavras. O que podemos perceber aqui, é que este tipo de oração acontece já há milhares de anos. Conversando com uma seguidora do hinduísmo, ela me explicou que um mantra pode ser uma palavra ou algumas frases que devem ser repetidas constantemente para que através deste ritual você consiga “prender” os deuses com sua língua e assim dominá-los e tê-los consigo. Em certas divisões do cristianismo, esta ideia é bem parecida: rezar é um sacrifício que se faz, e através desta ação, movemos os santos (entidades espirituais) que intercederão por você a um Deus impessoal, e que está muito distante de nós.
É evidente, então, que os gentios não conhecem a Deus e suas vãs repetições denotam uma falta de conteúdo em suas orações. Além disto, estas “muitas palavras” sugerem uma certa sofisticação de técnicas e rituais. Uma vez que Jesus está nos exortando a não fazer como os gentios, significa que podemos encorrer no mesmo erro. Trazendo para mais perto de nós, o que isso pode significar, e como relacionamos isso às nossas orações?
Primeiro, muitas vezes oramos em “nome de”, mas às vezes sem o “pleno conhecimento de” ou “estarmos de acordo com a vontade de”. É possível sermos extremamente zelosos para com as coisas de Deus, mas com pouco ou sem nenhum entendimento das coisas de Deus. É a isto que Paulo se referiu em Romanos 10.2, bem como Oséias 6.6:
Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.
Isto nos leva a um segundo erro: nossas orações não passarem de repetidas petições ou recitações de belas frases litúrgicas sem efeito. Em terceiro lugar, e creio que este é o erro mais cometido, crer que precisamos ser insistentes para sermos ouvidos. No fundo, estamos transmitindo com isto que talvez Deus não tenha ouvido da primeira vez... e tenho que insistir com isto para Ele me atender! Pensamos que somente através de tanto falar, acabaremos conquistando o favor de Deus que, caso eu não orasse, nada faria. Em resposta a esta pergunta, Jesus diz que nosso pai sabe do que precisamos antes mesmo de pedirmos. Vale a pena ler 1Reis 18.17-40 e Tiago 5.17.
Lembre-se que estamos orando para nosso pai, o que implica que temos uma relação familiar com Deus. Nós fazemos parte de Sua vida, e Ele antecipa aquilo que nós precisamos. Devemos, portanto, chegar a ele com toda humildade, simplicidade e sinceridade de coração. Podemos nos achegar a Ele em momentos de alegria ou de tristeza, de ansiedade ou de gratidão, na certeza de que Ele está nos ouvindo plenamente. Orar é um entregar-se a Deus na confiança de que Ele agirá no seu próprio tempo à sua própria maneira. Manipulação religiosa e espiritual não é necessária.
Mas se o nosso Pai sabe de nossas necessidades antes mesmo de pedirmos, por que orar?
Porque nós é quem precisamos exercitar a nossa fé e reconhecer quem Deus é, abrindo nosso coração em temor e dependência, lançando sobre Ele todas as nossas ansiedades...
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