De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos. (Leia Lucas 11.1-13)
Se pecamos por não orar, e quando oramos fazemos de forma inconveniente e com as motivações erradas, então é bem oportuno considerar o pedido que este discípulo fez a Jesus.
Na sequência, Jesus cita parte da oração que ensinara no sermão do monte (conhecida como Pai Nosso) e depois algumas parábolas para estimular a fé e a constância na oração.
Normalmente interpreta-se a “parábola do amigo importuno” como um estímulo para sermos insistentes com Deus até conseguir o que queremos. Esta ideia é errada, pois se baseia numa interpretação equivocada desta parábola. Para a compreendermos, precisamos entender a cultura vigente daquela época, principalmente no que diz respeito à hospitalidade: era inadmissível um vizinho recusar pão, seja o motivo que for. Além disto, o visitante era hóspede “na comunidade” e havia uma obrigação moral da comunidade em receber bem o hóspede de qualquer família. O viajante ia embora se sentindo bem recebido pela comunidade. Esta parábola ficou conhecida como a do 'Amigo Importuno' por causa da frase se não se levantar para dar-lhos por ser seu amigo, todavia, o fará por causa da importunação. A palavra que foi (mal) traduzida por importunação é anaideia, que significa desaforo, impudência, falta de moral. É imprescindível entender que esta palavra não é aplicada ao pedinte, mas ao vizinho dorminhoco, caso não suprisse a necessidade do amigo numa hora destas. Jesus não está dizendo que Deus é como este vizinho e que devemos importuná-lo até Ele dar tudo o que quisermos. Parafraseando, Jesus expõe a seguinte situação:
Qual dentre vós que tiver um amigo que for lhe pedir pão à meia noite (para acudir um hóspede inesperado) teria coragem de recusar? Ainda mais dando uma desculpa esfarrapada do tipo ‘meus filhos já estão dormindo’... Vocês sabem que se não for pela amizade, fará por causa da vergonha de não cumprir com uma obrigação social.
Amigo ponta firme é aquele que não age com impudência (falta de pudor), que está sempre pronto para acudir uma necessidade. Deus é este amigo. Mas aí você levanta a seguinte questão: Por que então nem tudo o que pedimos Ele atende? Vejo dois motivos principais.
O primeiro tem a ver com a nossa obediência, compromisso e seriedade com a Sua Palavra. Lemos em Provérbios 28.9 que o que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável. O versículo é bem claro. Se você não se importa em saber a vontade de Deus sobre determinado assunto e faz as coisas da sua maneira, Ele não tem obrigação alguma de responder sua oração de socorro quando as coisas derem errado. Se você não concorda comigo, tente fazer isso. O segundo motivo tem a ver com os propósitos de Deus para nós. Na sequência, Jesus expõe outra situação fazendo o mesmo tipo de pergunta:
Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião?
A resposta é obvia. Note que o filho está pedindo para o pai um pão, um peixe ou um ovo, isto é, gêneros de primeira necessidade (assim como o amigo), para saciar sua fome. Se o filho faminto pedisse uma caixa de bombom para saciar sua fome, muito provavelmente o pai não lhe atenderia ao pedido, por mais que insistisse, pois o pai sabe qual é a real necessidade da criança e o que é preciso para supri-la. Para um infante, o bombom é mais gostoso que uma sopa de legumes, mas um adulto sabe que não tem os nutrientes necessários para seu crescimento saudável. Para os imaturos, Deus pode parecer ruim não dando o que ele tanto quer, mas quando crescemos, entendemos que o Pai tem o melhor reservado para nós, porque nos ama. Há aquelas crianças que esperneiam até conseguir. Talvez esta seja a turminha do “eu determino”. Tudo bem, você pode até conseguir, mas sofrerá as consequências de uma saúde deficiente mais tarde.
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