Por Marcos Granconato
Eu
disse no artigo anterior que um dos motivos pelos quais é difícil ser pastor
hoje é que os crentes pensam no pecado meramente como fraqueza. Isso conduz ao
segundo motivo pelo qual ser pastor neste início de século não é nada fácil:
os crentes acreditam que firmeza e severidade no trato com o pecador
rebelde são falta de amor. Achando que quem persiste no
pecado é só um crente fraquinho, as pessoas consideram inadmissível que o pastor
o admoeste com seriedade ou o leve à disciplina. Se o fizer, imediatamente vão
transformar o pastor no bandido da história e, assim, tudo será invertido: o
safado que emporcalhou a igreja com sua sem-vergonhice se torna a indefesa
vítima do pastor que agora é o líder religioso perverso e sem amor, igualzinho
àqueles que condenaram Jesus à morte.
Em
meus mais de vinte anos de ministério pastoral já vi de tudo e lidei com quase
todo tipo de “cristão”. Conheci diáconos mentirosos, maridos violentos, esposas
infiéis, pais viciados, meninos delinquentes, adolescentes ladrões, jovens
alcoólatras, velhos golpistas e até um pigmeu antropófago. Eu admoestei todas
essas pessoas e, por longo tempo, tentei pacientemente convencê-las a abandonar
o pecado. De todas elas, somente o pigmeu antropófago se arrependeu. Hoje ele é
vendedor de órgãos (musicais) e dizem até que virou vegetariano.
Brincadeiras
à parte, o que quero destacar é que a maioria daquelas pessoas nunca acolheu a
palavra pastoral por mais fundamentada que fosse na Bíblia. Mas isso
não foi tudo. Se hoje você perguntar para elas porque estão longe da comunhão, a
resposta será mais ou menos assim: “Eu estava passando por uma fase muito
difícil na minha vida e cometi alguns erros. Então o pastor, em vez de dar o
apoio de que eu precisava, foi logo jogando tudo na minha cara e me disciplinou.
Aí eu não aguentei e caí de vez. Fiquei tão traumatizado que até hoje passo mal
quando ouço falar de igreja!”.
Ah,
e os parentes e amigos dessas pessoas vão concordar com esse testemunho. Você
duvida? Então pergunte às mães de jovens desviados por que os filhos delas não
vão mais à igreja. Oito entre dez dessas mães dirão: “Meu filho era um crente
firme. Se não fosse aquele pastor...”.
Prossiga
em seu teste. Pergunte sobre pecados realmente graves: “Como seu filho entrou
para as drogas? Por que aquela moça abandonou a igreja e foi para a
prostituição? Como aquele moço do louvor foi cair de vez no homossexualismo? Por
que aquela senhora se envolveu com essa seita?” Ouvindo as respostas você
descobrirá que o pastor é o culpado por todas as calamidades da raça humana,
como se os “crentes fraquinhos” também não tivessem forças para, sozinhos,
destruir suas vidas com as próprias mãos.
Eu
já me acostumei tanto a ser responsabilizado pelos descaminhos dos outros que
hoje já nem estranho mais. Pelo contrário: quando um pecado aparece na igreja e
eu começo meu trabalho de aconselhamento, admoestação e correção, muitas vezes
já sei de antemão onde tudo vai acabar. No final, o culpado de tudo serei eu.
Rancores e críticas vão surgir contra mim, pessoas irão embora, partidos vão se
formar... Numa certa altura eu gritarei sozinho: “Ei, um momento! O criador de
todo esse problema não sou eu! Quem começou isso tudo, lembram? Foi aquela
ovelha travessa que nunca ouviu os conselhos bíblicos, não foi? Onde ela está
agora? Ah, já sei! Ela está em casa atendendo ao telefone de algum irmão da
igreja que ligou para lhe dar apoio!”.
Tudo
isso tem de mudar. Sim, pois a Bíblia mostra que o pastor pode
e deve tratar o pecado com firmeza e severidade quando o
arrependimento não vem (At 5.1-11; 1Tm 5.20; Tt
3.10). A Bíblia vai além e diz que, nessa forma de agir, o pastor
deve ser acompanhado por toda a igreja (1Co 5.13). Isso não é falta de
amor. Na verdade, a Bíblia ensina que essa é uma das formas mais
produtivas de mostrar amor por alguém (Pv 27.6).
E
tem mais: está na hora de os crentes pararem com essa mania cruel, covarde e
injusta de culpar alguém (o pastor ou quem quer que seja) pelos próprios erros
ou dos seus queridos, pois, mesmo que alguém tenha dado um empurrãozinho para
nos ajudar a cair, diante de Deus a culpa pela nossa queda permanece conosco
(Gn 3.17-19). No final de tudo, o fato é que cada um dará contas de si
mesmo a Deus (Rm 14.12; 2Co 5.10), tanto o que empurrou (por
ser tão maldoso), como o que caiu (por ser não só maldoso, mas também fraco e
bobo).
Fonte: Igreja Batista Redenção
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