Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. (Romanos 1.16-17)
A epístola de Paulo aos romanos é conhecida como "O Evangelho de Paulo". Por quê? Para entendemos bem a estrutura desta carta usaremos a metáfora de uma construção. Por isto, devemos considerar que ao escrevê-la, o apóstolo preocupou-se em limpar bem todo o terreno, demarcar a área e "cavar bem fundo" tirando todo detrito (ideias falsas) até encontrar um alicerce firme para, então, expor o evangelho verdadeiro. Pensando um pouco no plano piloto da carta, o capítulo 1 versos 1 a 17 relata o que seria a "planta" ou o projeto do edifício: a justiça e a provisão de Deus para nossa vida – o justo viverá pela fé. A fortaleza deste projeto pode ser sentido pelo vigor desta frase. Esta vida proposta deve ser entendida na plenitude de seu significado. Viver, aqui, significa mais do que simplesmente respirar e perambular por este mundo; mas sim gozar de vida real, verdadeira, ser ativo, abençoado, cônscios do eterno reino de Deus, viver e agir com caráter e modo digno, estar em pleno vigor, ser novo, forte, eficiente, ativo, potente, eficaz. É a mesma ideia transmitida por Jesus quando se ofereceu como Água Viva, como aquele que tem poder vital em si mesmo, que revive, restaura e transforma a alma. E sabe como podemos obter esta vida plena? Somente pela fé: “...como está escrito: o justo viverá pela fé!” (Rm 1.17)
Mas quem é o justo que alcança esta vida plena pela fé? A partir daqui o apóstolo começa cavar para fundar o alicerce. No percurso da carta (ou da obra), vemos que o apóstolo mostra, nos três primeiros capítulos, a nossa situação arenosa e desagregada. Uma situação nada favorável diante de Deus! E a partir do versículo 1.18, Paulo mostra a ira de Deus sobre o pecado do homem e mostra que ninguém está livre deste furor. O pagão (homem comum) está condenado (1.21-32); o moralista (aquele que se auto-justifica por seus nobres atos) está condenado (2.1-16); o religioso (aquele que diz acreditar em Deus) está condenado (2.17 a 3.8) e finalmente chega à catastrófica conclusão: toda humanidade está condenada (3.9-20) inclusive os cumpridores da Lei: “... pois todos pecaram e carecem da glória de Deus". (3.23)
Nosso terreno humano não oferece as mínimas condições para Deus edificar absolutamente nada. Porém, depois da má notícia, Paulo dá a boa notícia, despejando assim o concreto que formará o alicerce desta nova vida por Deus proposta.
Mudando (aqui) de uma linguagem técnica para uma legal, Paulo observa que toda humanidade está condenada (inclusive eu e você), mas que Jesus, nosso resgatador, pagou a fiança, o preço de nossa condenação, por isso somos justificados diante de Deus pela fé. Esta é a base do Evangelho de Cristo (Rm 3.21-24; 1 Co 15.1-4).
A partir do versículo 21 de Romanos 1 até o final do capítulo 3, o apóstolo anuncia que nossa justificação é única e exclusivamente pela graça, não é por mérito nosso e nem obra da Lei. Por quê? Para que ninguém se glorie (Ef 2.8-9). E o capítulo 4 é dedicado ao exemplo de Abraão: o homem que, sem lei, foi justificado pela fé. O alicerce já está aberto, a base sólida estabelecida. A partir daqui, Paulo começará as instruções para nossa edificação.
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