Por Marcos Inhauser
Texto da coluna semanal no Correio Popular
Recebido por e-mail
Quero compartilhar uma constatação que
faço, depois de muitos anos dando aulas. Tenho mais de 35 anos como
professor em vários níveis e em diferentes locais. Como trabalho com uma
área que envolve abstração (conceitos teológicos e filosóficos), venho
percebendo, ao longo dos anos, uma acentuada deterioração na capacidade
dos alunos em conseguir trabalhar conceitos e certa aversão pelo
aprofundamento de temas.
Expressão
como “isto é baboseira”, “estudar estas coisas é perda de tempo”, “o
que eu ganho sabendo isto”, “estou cansado de teologia, quero vida
cristã”, “não preciso de teologia, preciso de poder para expulsar
demônios e curar”, “de que adianta um sermão bem estudado se a igreja
não enche de gente?”, “para encher a igreja de gente não é necessário
saber teologia” são por mim ouvidas com frequência cada vez maior.
Confesso
que me arrepiam estas afirmações (e outras mais que não elenquei por
falta de espaço). Estamos vivendo, não só no campo teológico, mas em
todas as áreas, um processo de superficialização do saber. Cada vez mais
sabemos menos sobre menos coisas. O que interessa é o fácil, o
intuitivo, aquilo que dá para fazer sem precisar ler nenhum manual de
instrução. Os celulares, smaRtphones, tablets, Ipods e Ipads são os
queridinhos porque podem ser usados sem grandes conhecimentos. É tudo
intuitivo e mesmo uma criança pega e em poucos minutos já está sabendo
as funções básicas.
Da
mesma forma devem ser os livros didáticos: intuitivos. Os cursinhos
preparatórios para concursos e vestibulares, no mais das vezes, ensinam o
“pulo do gato” na hora de responder. Os cursos precisam formar em menos
tempo. Querem uma graduação em dois anos ou menos. O que interessa é o
diploma na parede e no currículo. O saber, isto é outra coisa.
A
predileção pelo fácil, superficial e rápido passou a ser a
característica destes tempos. Tudo tem que ser intuitivo, sem trabalho. O
arroz que você cozinha dentro de um saquinho e que não queima, fica
molinho e soltinho, mesmo sem saber cozinhar. A lasanha que é só colocar
no micro-ondas. A pipoca que não suja panela com óleo da fritura.
Verduras e legumes que já vêm cortados. Carne que se compra temperada.
Frango assado pronto. Jornais que só tem os titulares (quem tem tempo
para ler a notícia toda?). Os feeds de notícias estão aí para provar
isto.
Gasta-se mais tempo
nos games que nos processos de aprendizado. Livrarias se fecham, mas
lojas de jogos se proliferam. Os livros perderam espaço para os
aparelhos eletrônicos. O saber aprofundado vai sendo substituído pelas
soluções mágicas dos avatares. Há muita tinta gasta com fofocas de
celebridades. Ibope para BBB é exemplo desta opção pelo fácil,
superficial e rápido: para ganhar um milhão e meio em poucos dias sem
fazer nada, vale qualquer coisa. Para aumentar o Ibope vale até a
simulação de um estupro, providencialmente ocorrido ou marketeiramente
planejado.
Há horas que bate uma desesperança tão grande!
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