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Desde
que comecei a publicar esta série, as reações foram as mais diferentes. Teve
gente que aplaudiu, dizendo que escrevi tudo o que sempre quiseram dizer; teve
gente que se preocupou, achando que eu estava passando por alguma crise no
ministério; e teve gente que me atacou com paus e pedras, acusando-me de ensinar
a salvação pela “instituição” igreja (???) ou dizendo que eu escrevi porque
estava com raiva do Caio Fábio. Nesse último caso, fiquei especialmente
surpreso. Até porque eu sequer pensei no Caio quando escrevi. Pra mim o Caio é
um fenômeno. Tudo o que ele ensina faz lembrar o nome dele. É verdade! Sempre
que o escuto, eu penso: “Nossa! Se aceitar essa doutrina eu
Caio!”.
Desculpem o trocadilho infame e vamos ao que interessa. O
problema sobre o qual vou tratar aqui talvez não seja tão grave, mas como tem
incomodado com frequência, acho bom apontá-lo – até para dar ao fim desta série
um tom mais light. É muito difícil ser pastor hoje porque as
pessoas perderam o tato. Isso significa que muitos crentes não têm mais
nenhuma noção de coisas que não convêm e adotam comportamentos que, de fato, não
são errados quando considerados em si mesmos, mas que mostram a total ausência
daquele grau de sensibilidade que os crentes maduros devem ter.
Há muitas
coisas que não são propriamente pecado. No entanto, essas mesmas coisas,
dependendo das circunstâncias, devem ser evitadas a fim de que a nossa vida
reflita a sobriedade, a sensatez e a sabedoria que o Senhor requer do crente.
Deixem-me exemplificar: não é errado dar uma sonora gargalhada; não é errado
aproximar-se de uma moça para conhecê-la melhor; e também não é errado conversar
animadamente sobre o jogo de futebol do domingo. Mas se um homem faz tudo isso
durante o velório da esposa...
Essa noção do que não convém, essa
percepção daquilo que, como diziam os antigos, “não fica bem”, essa
sensibilidade acerca do que é impróprio para o momento parece ter desaparecido
da mente das pessoas, inclusive dos crentes. Até alguns pastores parecem
precisar de “Simancol” – aquele velho remédio que todo mundo com um mínimo de
bom senso receitava para os mais “avoados”. Conheci um pastor que, quando sabia
que alguém estava passando por uma fase de muita angústia, em vez de chorar com
os que choram (Rm 12.15), levava um grupo na casa do coitado para fazer
uma “pizzada” e animá-lo. Conheci outro que, durante os cultos fúnebres que
dirigia, em vez de prantear o irmão falecido como faziam os homens piedosos da
Bíblia (At 8.2), ficava inventando piadinhas e fazendo gracejos com a
família do morto (acreditem se quiserem) pois, segundo ele, o dia da morte do
crente era um dia alegre (!!!???).
Se esse é o tato demonstrado pelos
homens de Deus, qual é a situação do povo? Há muito tempo atrás eu tratei o caso
de uma moça que havia praticado imoralidade. A igreja soube do problema, mas
antes que houvesse disciplina, a moça se arrependeu de verdade, dando ensejo a
um processo de restauração e amparo. Até aí, tudo bem. O problema é que,
passadas algumas semanas, a moça começou a paquerar um rapaz. Então eu disse a
ela: “Olha, não há nada de errado em uma moça crente se aproximar de um moço
da igreja, mas a fase pela qual você está passando impõe uma postura diferente,
com marcas de cuidado mais intenso. Você precisa adotar neste momento uma
postura menos aberta e também uma espécie de solenidade de comportamento,
própria de quem acabou de se recuperar de uma queda vergonhosa”. A moça
olhou pra mim do mesmo jeito que um pastor neopentecostal olha para um Novo
Testamento grego. Percebi que ela não estava entendendo nada e tentei
explicar-lhe inutilmente algumas noções de tato, pedindo que ela fosse sensível
ao momento e às circunstâncias, evitando a aproximação de rapazes. A moça não
contestou. Mais tarde, porém, o pai dela me procurou para dizer que sentia que
eu estava “pegando no pé” de sua filha. Outros parentes dela concordaram e,
talvez, alguns leitores deste artigo concordem com ele também.
Ao
escrever sobre a atitude que os crentes devem nutrir diante dos escrúpulos de
outros irmãos, Paulo disse: “Tudo é permitido, mas nem tudo convém” (1Co
10.23). O problema dos crentes de hoje é que eles acolhem a primeira parte
do versículo e até a estendem para áreas que o apóstolo jamais teve em mente.
Quanto à segunda parte, eles perderam totalmente a noção do que é inconveniente,
criando, no final das contas, mais um encargo para o pastor: o de ensinar tato
às ovelhas, explicando-lhes noções que elas deviam ter aprendido por si mesmas,
através da simples experiência de vida, através da singela sensibilidade aos
escrúpulos dos outros e da mais elementar observação da atmosfera que as cerca.
Como é difícil ser pastor hoje!
Fonte: Batista da Redenção
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