quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Por que é difícil ser pastor hoje? (Parte 1)

Por Marcos Granconato


Se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função. Essas palavras não são minhas. São do apóstolo Paulo (1Tm 3.1). E ele, é claro, estava certo. De fato, ser pastor é um grande privilégio. É nesse trabalho que nos envolvemos mais profundamente com o estudo da Palavra, fazendo descobertas maravilhosas! É nesse trabalho que vemos mais de perto a ação de Deus na vida das pessoas. É, também, nesse trabalho que temos a honra de atuar mais diretamente na ampliação das fronteiras do Reino de Deus, ajudando a cumprir o alvo final da história humana.

Contudo, como ocorre com todos os ofícios, o trabalho de pastor tem lá suas dificuldades. Nunca foi diferente. Também, pudera: os pastores são os alvos preferidos do diabo que, na luta contra a verdade, sabe onde golpear a igreja quando se empenha em feri-la e jogá-la no chão. Por isso, nas épocas de perseguição, os pastores são os primeiros a ser buscados pelas autoridades e, quando alguém quer zombar do cristianismo ou maldizê-lo, a primeira figura a ser desonrada e difamada é exatamente a figura do pastor.
É muito feio um homem maduro ficar chorando suas mágoas. Então, nenhum pastor deve viver se lamentando ou suplicando a compaixão das pessoas quando essas coisas lhe sobrevêm. Somos soldados e não garotinhos chorões. Se alguém está no ministério e não tem fibra pra aguentar o tranco, então que vá trabalhar em um ofício mais calmo. Vá, por exemplo, cuidar de uma horta. Afinal de contas, nunca se ouviu falar sobre uma revolta de repolhos malignos!

Se não existe dúvida de que em todas as épocas a função pastoral enfrentou dificuldades, também está fora de questão que, nos dias em que vivemos, algumas dessas dificuldades adquiriram contornos mais fortes. Quero, então, destacar uma e outra aqui, não para chorar as mágoas, mas para alertar os crentes a fim de que eles evitem fazer parte do grupo de pessoas que tornam mais difícil o exercício do santo ofício episcopal.

Em primeiro lugar, é difícil ser pastor hoje porque os crentes pensam no pecado meramente como fraqueza. Assim, se alguém furta, engana, ofende, blasfema, despreza, calunia, se embriaga, vive no ócio, fornica ou adultera, ouvimos frases assim: “Ele errou. Mas quem não erra?”. E, então, tudo segue normalmente. Às vezes, o vilão recebe até alguns privilégios como uma “pessoa fraca” que precisa de compreensão, amor e apoio. A partir daí, as coisas são ajustadas para que ele se torne o centro do universo, com tudo girando ao seu redor. Nada mais lhe é negado, pois (Deus o livre, coitadinho!) isso poderia levá-lo a cair de novo. No final das contas, ele descobre que até valeu a pena ter aprontado tanto.

A concepção do pecado como fraqueza não está errada. O problema é que o pecado não é fraqueza. O pecado é um ato de franca a aberta rebelião contra Deus. Trata-se de uma ofensa grave contra o Senhor que é santo. Trata-se de um crime digno da pena capital (Rm 1.28-31). É cuspir na imaculada Palavra de Deus. É afrontar o Criador. É pisar o Filho de Deus. É profanar o sangue da aliança. É ultrajar o Espírito da graça (Hb 10.29).

Os crentes deveriam ficar horrorizados diante do pecado. Deveriam sentir-se inconformados e enojados. Diante do pecado deveríamos adoecer, definhar e perder peso. Os relatos sobre o pecado no nosso meio deveriam fazer o nosso rosto corar de vergonha e os nossos olhos chorar amargamente! Em hipótese alguma deveríamos fazer o que temos visto tantas vezes os crentes fazendo, aceitando o pecado, minimizando-o ou até mesmo justificando-o, na tentativa de resguardar o agressor.

Falando nisso, esse negócio de tratar o pecador como um coitadinho, com todo afeto, atenção e carinho, até parece ser piedoso e bíblico, mas não é. Esperneiem o quanto quiserem, mas as Escrituras não ensinam esse cuidado. Aliás, duvido muito que as pessoas que oferecem essa forma de amparo ajam assim porque estão preocupadas em obedecer à Bíblia. Tampouco acredito que façam isso porque a compaixão de Jesus habita nelas. Na verdade, acho que elas se comportam dessa forma porque, no fundo, não acreditam que o pecado seja um problema tão sério como os pastores dizem. Aí fica fácil ser indulgente e carinhoso.

Na Bíblia, o cuidado, o afeto, a atenção e o carinho são oferecidos ao pecador somente quando ele está sofrendo demais por causa do arrependimento que sente. Nunca essas coisas lhe são dadas porque ele é fraco (o fato de ele ser fraco só aumenta sua responsabilidade em manter-se longe do perigo), mas sim porque ele está sentindo dores demais em sua alma, dores de culpa impossíveis de serem enfrentadas sem a ajuda dos irmãos. É aí, nesse caso apenas, que o cuidado com o pecador deve ocorrer. Quando a culpa que sente é tão esmagadora e torturante, então devem surgir o apoio e o consolo dos irmãos, a fim de que ele não seja consumido por excessiva tristeza (2Co 2.7).

Já o pecador cuca-fresca e sorridente, o pecador indiferente que diz por aí, com um sorrisinho amarelo, que “pisou na bola”, que deu “uma mancada” ou que o que fez “foi mal”, esse não merece nenhum cuidado. Na verdade, temos de admoestá-lo severamente e, depois, nos afastar indignados e enojados, pedindo ao Senhor que tenha misericórdia dele e de nós todos, livrando-nos dessa forma de apatia tão ímpia e desavergonhada.


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