Por Marcos Granconato
Se
alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função. Essas palavras não são minhas.
São do apóstolo Paulo (1Tm 3.1). E ele, é claro, estava certo. De fato,
ser pastor é um grande privilégio. É nesse trabalho que nos envolvemos mais
profundamente com o estudo da Palavra, fazendo descobertas
maravilhosas! É nesse trabalho que vemos mais de perto a ação de Deus na vida
das pessoas. É, também, nesse trabalho que temos a honra de atuar mais
diretamente na ampliação das fronteiras do Reino de Deus, ajudando a cumprir o
alvo final da história humana.
Contudo,
como ocorre com todos os ofícios, o trabalho de pastor tem lá suas dificuldades.
Nunca foi diferente. Também, pudera: os pastores são os alvos preferidos do
diabo que, na luta contra a verdade, sabe onde golpear a igreja quando se
empenha em feri-la e jogá-la no chão. Por isso, nas épocas de perseguição, os
pastores são os primeiros a ser buscados pelas autoridades e, quando alguém quer
zombar do cristianismo ou maldizê-lo, a primeira figura a ser desonrada e
difamada é exatamente a figura do pastor.
É
muito feio um homem maduro ficar chorando suas mágoas. Então, nenhum pastor deve
viver se lamentando ou suplicando a compaixão das pessoas quando essas coisas
lhe sobrevêm. Somos soldados e não garotinhos chorões. Se alguém está no
ministério e não tem fibra pra aguentar o tranco, então que vá trabalhar em um
ofício mais calmo. Vá, por exemplo, cuidar de uma horta. Afinal de contas, nunca
se ouviu falar sobre uma revolta de repolhos malignos!
Se
não existe dúvida de que em todas as épocas a função pastoral enfrentou
dificuldades, também está fora de questão que, nos dias em que vivemos, algumas
dessas dificuldades adquiriram contornos mais fortes. Quero, então, destacar uma
e outra aqui, não para chorar as mágoas, mas para alertar os crentes a fim de
que eles evitem fazer parte do grupo de pessoas que tornam mais difícil o
exercício do santo ofício episcopal.
Em
primeiro lugar, é difícil ser pastor hoje porque os crentes pensam no
pecado meramente como fraqueza. Assim, se alguém furta, engana, ofende,
blasfema, despreza, calunia, se embriaga, vive no ócio, fornica ou adultera,
ouvimos frases assim: “Ele errou. Mas quem não erra?”. E, então, tudo segue
normalmente. Às vezes, o vilão recebe até alguns privilégios como uma “pessoa
fraca” que precisa de compreensão, amor e apoio. A partir daí, as coisas são
ajustadas para que ele se torne o centro do universo, com tudo girando ao seu
redor. Nada mais lhe é negado, pois (Deus o livre, coitadinho!) isso poderia
levá-lo a cair de novo. No final das contas, ele descobre que até valeu a pena
ter aprontado tanto.
A
concepção do pecado como fraqueza não está errada. O problema é que o pecado não
é só fraqueza. O pecado é um ato de franca a aberta rebelião
contra Deus. Trata-se de uma ofensa grave contra o Senhor que é santo. Trata-se
de um crime digno da pena capital (Rm 1.28-31). É cuspir na imaculada
Palavra de Deus. É afrontar o Criador. É pisar o Filho de Deus. É
profanar o sangue da aliança. É ultrajar o Espírito da graça (Hb
10.29).
Os
crentes deveriam ficar horrorizados diante do pecado. Deveriam sentir-se
inconformados e enojados. Diante do pecado deveríamos adoecer, definhar e perder
peso. Os relatos sobre o pecado no nosso meio deveriam fazer o nosso rosto corar
de vergonha e os nossos olhos chorar amargamente! Em hipótese alguma deveríamos
fazer o que temos visto tantas vezes os crentes fazendo, aceitando o pecado,
minimizando-o ou até mesmo justificando-o, na tentativa de resguardar o
agressor.
Falando
nisso, esse negócio de tratar o pecador como um coitadinho, com todo afeto,
atenção e carinho, até parece ser piedoso e bíblico, mas não é. Esperneiem o
quanto quiserem, mas as Escrituras não ensinam esse cuidado. Aliás,
duvido muito que as pessoas que oferecem essa forma de amparo ajam assim porque
estão preocupadas em obedecer à Bíblia. Tampouco acredito que façam
isso porque a compaixão de Jesus habita nelas. Na verdade, acho que elas se
comportam dessa forma porque, no fundo, não acreditam que o pecado seja um
problema tão sério como os pastores dizem. Aí fica fácil ser indulgente e
carinhoso.
Na
Bíblia, o cuidado, o afeto, a atenção e o carinho são oferecidos ao
pecador somente quando ele está sofrendo demais por causa do arrependimento que
sente. Nunca essas coisas lhe são dadas porque ele é fraco (o fato de ele ser
fraco só aumenta sua responsabilidade em manter-se longe do perigo), mas sim
porque ele está sentindo dores demais em sua alma, dores de culpa impossíveis de
serem enfrentadas sem a ajuda dos irmãos. É aí, nesse caso apenas, que o cuidado
com o pecador deve ocorrer. Quando a culpa que sente é tão esmagadora e
torturante, então devem surgir o apoio e o consolo dos irmãos, a fim de que ele
não seja consumido por excessiva tristeza (2Co 2.7).
Já
o pecador cuca-fresca e sorridente, o pecador indiferente que diz por aí, com um
sorrisinho amarelo, que “pisou na bola”, que deu “uma mancada” ou que o que fez
“foi mal”, esse não merece nenhum cuidado. Na verdade, temos de admoestá-lo
severamente e, depois, nos afastar indignados e enojados, pedindo ao Senhor que
tenha misericórdia dele e de nós todos, livrando-nos dessa forma de apatia tão
ímpia e desavergonhada.
Fonte: Igreja Batista Redenção
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