sexta-feira, novembro 25, 2011

O futuro do movimento evangélico reformado

Nota do Editor: Este artigo foi escrito a convite do Patheos para Future of Evangelicalism series.

Cerca de cinco anos atrás, algo estranho aconteceu no mundo cristão: a teologia reformada retornou. Já entendida como o brilhante, mas um pouco excêntrica e muitas vezes tratada como o garoto ignorado no canto da sala de aula, o calvinismo se tornou o novo garoto legal da galera. Para ser justo, um número significativo de evangélicos americanos sempre acreditaram nas doutrinas da graça – que Deus graciosamente regenera os pecadores que não teriam a escolha de segui-lo. Mas, durante grande parte dos séculos XIX e XX, esses evangélicos tendiam a se reunir em denominações Presbiterianas relativamente pequenas.

Na década de 1990, de uma forma relativamente calma e despretensiosa, várias igrejas e ministérios começaram a expandir sua influência por todo Estados Unidos, todos influenciados de uma forma ou de outra pela visão reformada de um Deus grande e glorioso. Além dos seminários Reformados, também haviam o Sovereign Grace Ministries (Gaithersburg, Maryland), 9Marks (Washington, DC), Desiring God (Minneapolis), Ligonier Ministries (Orlando), Grace to You (Sun Valley, California), e Acts29 ( Seattle). Adicione-se a isso o emblemático seminário da Convenção Batista do Sul, academia em que o presidente Albert Mohler trouxe um ressurgimento conservador a fim de recuperar os princípios reformados de seus fundadores. Cada ministério, valioso no seu próprio jeito e operando de forma independente um do outro. Mas também através de redes relacionais intencionais, como visto, por exemplo, no Together for the Gospel (primeira conferência em 2006), onde novas amizades surgiram e tudo parecia um novo trabalho de Deus estava levantando.

Essa comunhão entre os presbiterianos, batistas, e uma série de igrejas independentes semelhantes chamou a atenção do público. Christianity Today, Time, The New York Times, Christian Science Monitor, e da Religion Newswriters Association. Todos tomaram conhecimento. Qualquer análise apurada das tendências evangélicas de hoje notará a energia por trás desse movimento crescente.

O que vem pela frente

Nós não escrevemos este artigo para reviver o passado, mas sim para considerar o futuro. Nós não escrevemos como líderes que dão forma ao movimento, mas sobretudo como beneficiários agradecidos. Como calvinistas convictos, nós mesmos não podemos deixar de ser gratos pelo trabalho que Deus parece estar fazendo em nossa geração ao renovar igrejas, a pregação re-energizante, recuperar a beleza do compromisso doutrinário robusto, e restabelecer a glória de Deus e as maravilhas do evangelho nas cabeças e nos corações de seu povo. Só Deus poderia ter levantado uma coleção tão diversa de igrejas e ministérios neste momento de grande oportunidade e tanto perigo também.

A oportunidade à nossa frente

Onde alguns cristãos vêem a perda de consenso cristão na América e no crescente número de afiliados a religião, vemos grande oportunidade. O desaparecimento do cristianismo nominal abre novas possibilidades para o discipulado genuíno. Se as pessoas hoje em dia seguirão a Cristo, elas querem coisas fortes. Elas querem que a teologia seja robusta, um Cristo grande, um evangelho profundo, e elas não têm medo de exigências sérias. Não é coincidência que esse movimento de calvinistas evangélicos prospera pela América, onde a freqüência à igreja tem se corroído. Mark Driscoll da Mars Hill Church em Seattle, Mark Dever no Capitol Hill Baptist Church, em Washington, DC, e Tim Keller da Redeemer Presbyterian Church em Nova York têm três personalidades e estilos muito diferentes , e representam três faixas etárias. Mas cada um, à sua maneira, tem inspirado muitos jovens pastores a darem as suas vidas por igrejas mortas e começarem tudo de novo em cidades consideradas céticas pelos evangélicos.


A substanciosa teologia calvinista tem outros aspectos que pressagiam coisas boas para seu futuro. Por um lado, a natureza intelectual da fé Reformada significa que ela tende a exercer uma influência desproporcional sobre o pensamento cristão e as instituições por meio da escrita, erudição e teologia formal. Em segundo lugar, a tônica no cuidado providencial de Deus sobre todas as coisas, encoraja os cristãos a buscar o custo do discipulado em uma cultura cada vez mais hostil e confiar em Deus para o resultado. Ao longo dos séculos, missionários, tais como William Carey e Adoniram Judson encontraram incentivo para perseverar justamente na promessa da soberania de Deus. Se o futuro nos reserva maior erosão do cristianismo nominal, os calvinistas evangélicos estão preparados para suportar. Finalmente, um compromisso firme para com a confiabilidade total e autoridade das Escrituras, juntamente com uma firme convicção na expiação substitutiva e justificação pela justiça de Cristo através da fé somente, são históricos e são como guardas essenciais para manter o evangelicalismo em um caminho biblicamente fiel.

O Perigo à frente

Ao mesmo tempo, vemos perigo. No movimento evangélico popular, a riqueza do evangelho bíblico é muitas vezes marginalizada, às vezes inconscientemente. O Evangelho torna-se uma apresentação de slides com pouco poder, apenas um degrau para o ativismo social, ou a porta de entrada para o que realmente importa: ser um pai eficaz, a felicidade conjugal, e recompensas financeiras.


Nessa situação perigosa e de divisão, os calvinistas evangélicos são muitas vezes vistos como mais uma voz clamando por atenção partidária e participação no mercado. Pior, somos caricaturados como a polícia doutrinaria e mesquinha, mais conhecida pelo que (e quem) somos contra do que o que celebramos. Ainda há outros que pensam que os calvinistas são novos discípulos remanescentes dos mortos puritanos ou apenas um fã clube do John Piper. Pela graça de Deus, não vamos viver em função desses estereótipos. Se Deus usa o movimento para a sua glória, nos próximos dias e décadas, será porque ele nos deu a graça para sermos lúcidos e calorosos, doutrinários e devocionais, discernentes em espírito e ecumênicos em nossos afetos. Se Deus nos usar, será porque ele nos mantém focados diretamente no evangelho e em suas enormes implicações fluindo de Cristo como o centro. Então enquanto o movimento evangélico reformado oferecer um meio de apoio à unidade, doutrina, adoração e ação centradas no Evangelho, suspeitamos que ele vai prosperar, levantando a igreja.

Ainda assim, entendemos que os movimentos da história vêm e vão. Coalizões mudam quando a cena muda. Portanto, nesse sentido, não estamos preocupados com o futuro deste ressurgimento reformado. Deus não promete que os movimentos resistirão ao teste do tempo. Esse privilégio só pertence à instituição da Igreja (Mt 16,18). Como na igreja local, os movimentos irão sofrer as inevitáveis tensões que resultam de diversas personalidades e da persistência do pecado. Olhando para o futuro, só podemos orar a Deus e nos exortar mutuamente para resistir às tentações de buscar elogios pessoais. Pelo contrário, reconhecendo como a graça de Deus é manifestada a nós, devemos “nos dedicar uns aos outros com amor fraternal“ e “dar honra aos outros mais do que a nós mesmos” (Rm 12.10).

Olhando para o futuro, só podemos orar a Deus e nos exortar mutuamente para resistir às tentações de buscar elogios.
Cumprir este padrão não será fácil. Enquanto nosso movimento cresce, teremos de enfrentar novos desafios. Nem sempre concordamos. E agora, vemos vários perigos potenciais:

(1) Alguns de nós se esforçam para ser ousados sem ser desagradáveis, outros de nós procuram ser mansos, mas muitas vezes sucumbem à covardia. Queremos proteger a verdade, não estrangulá-la. Queremos ser sábios e inocentes, sem medo e fiéis, ousados, mas de coração. Nós queremos manter nossas afeições, na proporção das coisas que mais importam.

(2) Nós estamos tentando encontrar o equilíbrio certo entre a chamada para o discipulado radical e a aceitação que a fidelidade exige, sendo essa muito maior do que o que é mundano e ordinário. Ao longo destas linhas, ainda há muita confusão sobre se a missão da igreja no mundo tem sido muito grande ou muito pequena, demasiadamente difusa ou muito estreita.

(3) Nós prevemos que existirão inevitáveis tensões entre as gerações. Líderes se aposentarão e passarão o bastão para uma nova geração. Líderes mais jovens terão de ter grande sabedoria para mostrar respeito tanto para os seus heróis na fé, bem como saber que alguns desentendimentos com eles fazem parte do processo. Por outro lado, os líderes mais velhos devem planejar com antecedência para treinar uma nova geração de líderes e fortalecer uma rede ampla, poderosa e profunda, capacitando os jovens ministros para um ministério fiel nos próximos anos. Somos encorajados a ver muitos bons exemplos de todas essas coisas em ambas as gerações.

Esperança em Deus

Não pretendemos saber como ou se essas três tensões irão se resolver. Certamente, ficaremos desapontados se elas aumentarem o nível de divisão do movimento evangélico. Mas, nenhum movimento de Deus pode ou deve durar muito se os cristãos não conseguem tratar uns aos outros com graça. Muito nos foi concedido; concordamos em muita coisa; devemos amar muito. Acima de tudo, oramos para que Deus se agrade de levantar mais igrejas ao redor do mundo que se deleitam em nosso grande Deus, que anunciem o seu grande evangelho, e exaltem o grande Filho de Davi, nosso Senhor Jesus Cristo, por quem todas as coisas nos céus e na terra são mantidas.

Tradução: Rafael Bello | iprodigo.com | Original aqui

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