quarta-feira, julho 06, 2011

Três expectativas para um líder cristão em 1 e 2 Timóteo (parte 4/5)

Por T. Zambelli

As exigências de Paulo a Timóteo

Paulo sabia que Timóteo caminhava na trilha de Deus e tinha potencial, talentos e dons, para se estabelecer na igreja como modelo, mestre e mentor. Não foi por menos que essas foram algumas das exigências do apóstolo ao seu filho na fé, com quem tem duas cartas de orientação canônicas.

Tais exigências vão além de Timóteo, fazendo-nos, leitores das cartas 2.000 anos depois, questionar se também não devemos acatar as exigências de Paulo às nossas vidas, com especial atenção àqueles que lideram ou desejam liderar. É a visão deste autor que nos atentemos ao texto e extraiamos o que deve ser observado pelo crente do século XXI sem que distorçamos a verdade do texto bíblico.

Fato é que há valores inegociáveis expressos diversas vezes nas cartas a Timóteo. Competência, caráter e compaixão são bons exemplos disso.

Expectativas de Paulo em relação à liderança cristã

Paulo compreendia que Timóteo era um jovem capaz de exercer a liderança cristã à semelhança de si mesmo. Paulo almejava que Timóteo desempenhasse papéis que são fundamentais para o crescimento da igreja. De uma forma semelhante, o escritor de tantas cartas neotestamentárias também deixa no texto sagrado suas expectativas para com as pessoas que exerceriam liderança no seio da igreja. Entre estas expectativas, reconhecidamente ele buscava crentes com competência, caráter e compaixão.

Competência

Uma pessoa competente, na prática, é alguém que desempenha algum encargo com excelentes eficiência e eficácia. No campo das ideias, é alguém altamente conhecedor de um assunto. Em várias passagens, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, mostra que um bom líder deve buscar ser sempre competente.

Todo líder deve ter características básicas para exercer tal posição. Ter a disposição de hospedar, aptidão para ensinar e administração familiar são fundamentais (1Tm 3.2,4) para aquele que almeja o episcopado (1Tm 3.1). Todas essas são características visíveis para que a igreja perceba se a pessoa tem condições, ou seja, competência para o cargo que deseja. Não obstante, o candidato não deve ser recém-convertido (1Tm 3.6), sendo antes experimentado (1Tm 3.10). A razão é clara e expressa no texto bíblico: para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação em que caiu o Diabo (1Tm 3.6).

São várias as passagens que o escritor foca as competências do ensino, ordem e exortação: ordene e ensine estas coisas (1Tm 4.11); dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino (1Tm 4.13); Dê-lhes estas ordens, para que sejam irrepreensíveis (1Tm 5.7); Ensine e recomende essas coisas (1Tm 6.2); Ordene... Ordene-lhes... (1Tm 6.17-18); Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina (2Tm 4.2); roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas... (1Tm 1.3); obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade (2Tm 2.15). Todo líder deve saber ensinar, repreender e dar ordens sempre que necessário. Estas são características inegociáveis para liderar os filhos de Deus à santidade.

O ensino de um bom líder não tem conteúdo qualquer. Seja diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem (1Tm 4.15,16). O próprio ensino está intrínseco à vida do pregador, que guarda a sã doutrina imaculada em seu coração, mas também a confia a homens que saberão igualmente compartilhá-las: Guarde este mandamento imaculado e irrepreensível, até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (1Tm 6.14); Timóteo, guarde o que lhe foi confiado (1Tm 6.20); E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2Tm 2.2); Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu (2Tm 3.14).

Paulo combateu o bom combate (2Tm 4.7) e diz para Timóteo fazer o mesmo: Timóteo, meu filho, dou-lhe esta instrução, segundo as profecias já proferidas a seu respeito, para que, seguindo-as, você combata o bom combate (1Tm 1.18); Combata o bom combate da fé (1Tm 6.12). Na realidade, todo cristão que zela por este título (cristão) e especialmente por esta função (líder), deve estar ciente da batalha e preparado para a guerra que tem como cabeça e vencedor Jesus Cristo. Nesta peleja todo crente deve buscar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão (1Tm 6.11). Essa busca é mais uma competência do homem, devendo ser ela notória na vida dos líderes.

A busca também deve ser por conhecimento: Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis (2Tm 3.1). Sem a informação que a Palavra de Deus dá, haverá pouca eficiência tanto no ensino, como no proceder do líder. No caso, não haverá reconhecimento do tempo de Deus e o proceder do homem que em nada é capaz de agradar a Deus (Rm 3.11-12). Ademais, como ele será capaz de exortar seus irmãos na fé se não poderá distinguir entre o certo e errado que a Palavra de Deus revela? Não pode haver negligência nos estudos, tampouco no dom ou dons que Deus dá àqueles que são dEle: Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mãos dos presbíteros (1Tm 4.14).

Em suma, tudo que for da alçada do cristão, que seja feito (Ec 9.10). Deus sem dúvida tem uma direção específica para cada um de seus filhos. Se assim não fosse, não seríamos diferentes membros no Corpo. 2Timóteo 4.5 conclui a competência que um cristão deve exercer: Você, porém, seja moderado em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.

Caráter

A bíblia portuguesa traduz δοκιμὴν algumas vezes como “caráter aprovado” (cf. Fp 2.22-ARA; Rm 4.5-NVI). O dicionário da Bíblia Almeida diz que caráter é o “conjunto de qualidades boas.” Segundo o dicionário Webster, caráter “é as qualidades peculiares, impressas por natureza ou hábito em uma pessoa.” O caráter de uma pessoa torna-se visível por suas corriqueiras ações, especialmente aquelas tomadas sobre estresse. Se o dicionário Webster estiver certo quanto ao caráter ser algo da natureza, podemos concluir que sem a mão de Deus no processo de edificação ele dificilmente pode ser mudado.

Entretanto Deus quer que tenhamos o caráter dEle e Paulo, através de seus inspirados escritos nos mostra muitas vezes o que Ele espera e contribui em nós.

Reconhecer a própria identidade é o primeiro passo para o agir de Deus na transformação do caráter. Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior (1Tm 1.15). Se não nos vemos como agentes passíveis de pecado, mesmo que já justificados, acabamo-nos por desperdiçar bênçãos e motivos para orar e desfrutar da comunhão com Deus.

O crente deve ser aprovado por Deus: Procure apresentar-se a Deus aprovado (2Tm 2.15). O líder tem que preencher certos requisitos de caráter para desempenhar a função de liderança: É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Também deve ter boa reputação perante os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do Diabo (1Tm 3.2,3,7). A diaconia, que também exerce liderança na igreja, não deve ser nem mais nem menos santa do que os bispos ou presbíteros: Os diáconos igualmente devem ser dignos, homens de palavra, não amigos de muito vinho nem de lucros desonestos. Devem apegar-se ao mistério da fé com a consciência limpa (1Tm 3.8-9). Tal exigência de caráter não se restringe ao homem, mas é também especificada em alguns detalhes à mulher: As mulheres igualmente sejam dignas, não caluniadoras, mas sóbrias e confiáveis em tudo (1Tm 3.11). Suas vestimentas são levadas em conta: da mesma forma, quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, não se adornando com tranças e com ouro, nem com pérolas ou com roupas caras (1Tm 2.9). Sua compreensão no papel de mulher e esposa também reflete seu caráter, que não deve ser machista, tampouco feminista: A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição (1Tm 2.11). Num culto público ela deve reconhecer seu lugar e importância: Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio (1Tm 2.12).

Um crente de (bom) caráter sabe que brigar não é uma opção: Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente (2Tm 2.24). Isso não torna o crente um covarde, pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio (2Tm 1.7), tampouco parcial, como quem a si próprio se beneficia: procure observar essas instruções sem parcialidade; e não faça nada por favoritismo (1Tm 5.21). Ele sempre se destacará como um exemplo em áreas relevantes dentro do Reino de Deus: Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Tm 4.12). Ao mesmo tempo que ele se afasta da imoralidade, ele se aproxima do Ser moral.

O caráter de alguém que busca a Deus demonstra respeito aos chefes, todos os que estão sob o jugo da escravidão devem considerar seus senhores como dignos de todo o respeito (1Tm 6.1) e suporta os mais variados sofrimentos em detrimento do rei Jesus: Suporte comigo os meus sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus (2Tm 2.3). Gratidão transborda no coração de uma pessoa de (bom) caráter: tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos (1Tm 6.8), mesmo quando aos olhos de muitos ele parece miserável.

Enfim, tais homens de caráter são dignos de levantar suas mãos aos céus e dizer a Deus: “estou limpo.” Eles oram por seus adversários e se preocupam com a condição de seus corações: Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões (1Tm 2.8). As próprias palavras de Paulo concluem a utilidade e necessidade de uma condição pura perante Deus e os homens, num reino onde, enquanto aqui na terra, há cidadãos celestes de bom e mau caráter: Numa grande casa há vasos não apenas de ouro e prata, mas também de madeira e barro; alguns para fins honrosos, outros para fins desonrosos. Se alguém se purificar dessas coisas, será vaso para honra, santificado, útil para o Senhor e preparado para toda boa obra (2Tm 2.20-21).

Compaixão

Ninguém nunca teve mais compaixão que o próprio Cristo. Tendo Jesus como alvo inequívoco, Paulo também sugere que todos os crentes sejam compassivos e apresentem misericórdia, mesmo quando diante, por exemplo, de instruções exortativas: o objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera (1Tm 1.4).

Ser misericordioso, ou demonstrar compaixão é, à priori, refletir a misericórdia do próprio Deus que por razões exclusivas de Sua parte, escolheu-nos à vida eterna: Mas por isso mesmo alcancei misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza da sua paciência, usando-me como um exemplo para aqueles que nele haveriam de crer para a vida eterna (1Tm 1.16). A escolha divina não nos libertou de dificuldades na terra, mas nos garantiu que quando vivêssemos piedosamente seríamos perseguidos: fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3.12). Todo crente deve orar por toda gente, isso significa os parentes, amigos, adversário, chefes e reis! Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens (1Tm 2.1).

A compaixão que Deus espera do crente, especialmente do líder cristão, também reflete no zelo pelo idoso, não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos (1Tm 4.1) e pureza pelas idosas e moças, as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza (1Tm 4.2). As viúvas que tem real necessidade não podem ser negligenciadas e neste quesito, Paulo chama à atenção das mulheres: Se alguma mulher crente tem viúvas em sua família, deve ajudá-las (1Tm 5.16); Trate adequadamente as viúvas que são realmente necessitadas (1Tm 4.3).

A falta de compaixão aos próprios familiares é visto como algo pior que a apostasia, tamanha falta que é: Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente (1Tm 5.8). Um coração insensato à necessidade humana alheia desqualifica a fé do cristão e por consequência, prejudica o ministério da Igreja em proclamar as virtudes do Reino de Jesus Cristo.

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