quarta-feira, junho 22, 2011

Riscos de uma superficialidade bíblica

Por T. Zambelli
Baseado no sermão "O risco da superficialidade teológica" por Carlos Osvaldo Pinto (04/07/2010 - IBCU).


Em 2008, depois de um artigo que li na revista ULTIMATO (mar/abril), fui incentivado a pesquisar um pouco mais sobre o que Deus deseja de Sua criatura quanto a sã doutrina. Naquele artigo, a autora enfatizava as palavras de Peter Meiderlin, teólogo luterano da cidade de Augsburg, na Alemanha. No término de um livrete, que descreve um sonho que ele teve, estão as palavras: "No essencial, unidade; no secundário, liberdade; e acima de tudo, o amor."

Tais palavras são sofisticadas, mas não creio serem verdadeiras. Refiro-me ao que a frase indica como essencial. Costumo dizer que essencial "é tudo aquilo que sem o qual não o é." Em outras palavras, é tudo aquilo que faz parte da essência da identidade de algo ou alguém. Você consegue imaginar um gato sem quatro patas? Uma tartaruga sem o casco? Uma casa sem um teto? Todos estes são elementos essenciais destes objetos. Não os imaginamos sem eles.

A UNIDADE sempre fez parte do desejo de Deus, mas sempre foi dependente da VERDADE. Israel tinha como base ser um povo sujeito ao único Deus e não havia como unir neste grupo aqueles que ainda gostariam de dizer e viver o contrário disso. O "hino" de Israel sempre foi claro: Ouça, ó Israel: O SENHOR, o nosso Deus, é o único SENHOR (Dt 6.4). A igreja igualmente deve viver numa unidade que reflete o nosso triúno Deus. O apóstolo Paulo orava por isso: O Deus que concede perseverança e ânimo dê-lhes um espírito de unidade, segundo Cristo Jesus, para que com um só coração e uma só voz vocês glorifiquem ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 15.5-6).

Para que a unidade seja genuína, para que o coração da igreja glorifique a Deus, é necessário conhecer o que Ele quer que sejamos, tenhamos, façamos, pensamos, etc. É necessário conhecê-lo e indubitavelmente, a melhor forma é através da Bíblia. Somente seremos capazes de nos unir, se o fundamento for a verdade. Ninguém conhecerá a verdade se não for através da Palavra de Deus.

Dessa forma, levo você a pensar comigo:

1. Pouco conhecimento é melhor do que nenhum conhecimento, mas pode não ser conhecimento suficiente.

Enquanto isso, um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, chegou a Éfeso. Ele era homem culto e tinha grande conhecimento das Escrituras. Fora instruído no caminho do Senhor e com grande fervor falava e ensinava com exatidão acerca de Jesus, embora conhecesse apenas o batismo de João. Logo começou a falar corajosamente na sinagoga. Quando Priscila e Áqüila o ouviram, convidaram-no para ir à sua casa e lhe explicaram com mais exatidão o caminho de Deus (Atos 18.24-26).

Apolo era oriundo da cidade mais intelectualizada da época. Foi em Alexandria, por exemplo, que o Antigo Testamento havia sido traduzido para o grego. Apolo, diz o texto, era culto e que havia sido catequizado no caminho de Deus. Ele tinha grande conhecimento no Antigo Testamento e ensinava com precisão sobre Jesus Cristo.

Note que Apolo apresentava conhecer Jesus Cristo, no entanto, diz o texto bíblico, conhecesse apenas o batismo de João. Isso nos remete a questionar qual era o conteúdo que ele ensinava às pessoas sobre Jesus. Uma afirmação como do texto bíblico, mostra-nos que Apolo não conhecia o escopo e propósito da morte de Jesus, tampouco sua ressurreição, fundamental a fé cristã (cf. 1Co 15).

Conhecendo Áquila e Priscila o conteúdo da mensagem de Apolo, chamaram-o até sua casa e explicaram a ele que Jesus Cristo era mais do que ele, com precisão, já conhecia. Utilizando-me das palavras da NVI, alguém que já conhecia a Jesus com exatidão, era capaz de conhecer com ainda mais exatidão sobre Ele. Exatidão não é sinônimo de plenitude, totalidade ou completude.

Apolo era alguém que tinha conhecimento sobre Jesus Cristo, mas não o suficiente para apresentar o conteúdo da mensagem da salvação como merecido e devido, até que os assistentes ministeriais da igreja de Éfeso fizessem seu papel com zelo e amor.


2. Pouco conhecimento facilita a má compreensão da verdade

Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, atravessando as regiões altas, chegou a Éfeso. Ali encontrou alguns discípulos e lhes perguntou: "Vocês receberam o Espírito Santo quando creram?" Eles responderam: "Não, nem sequer ouvimos que existe o Espírito Santo". "Então, que batismo vocês receberam?", perguntou Paulo. "O batismo de João", responderam eles. Disse Paulo: "O batismo de João foi um batismo de arrependimento. Ele dizia ao povo que cresse naquele que viria depois dele, isto é, em Jesus". Ouvindo isso, eles foram batizados no nome do Senhor Jesus. Quando Paulo lhes impôs as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e começaram a falar em línguas e a profetizar. Eram ao todo uns doze homens (Atos 19.1-7).

Aqueles que supostamente já haviam crido em Jesus Cristo ainda não conheciam, nem sabiam que o Espírito Santo existia. Eles somente puderam desfrutar dEle depois de Paulo lhes ter explicado sobre o batismo de João e lhes ter imposto suas mãos.

Crer em Jesus nos garante bênçãos inestimáveis. Um pouco de conhecimento bíblico pode nos dar percepções sobre a veracidade daquilo que sentimos, se é real ou não, mas não garante que desfrutemos de todas as verdades e tampouco que consigamos avaliar justamente nossos sentimentos. Por exemplo, uma igreja pode acreditar estar passando por um avivamento espiritual porque todos cantam e dançam, choram ao ouvir a palavra cruz e não querem que o culto acabe, quando estas expressões, se não estiverem fundamentadas no que a Bíblia nos ensina ser um avivamento, na realidade, não é um avivamento.

"Atitudes genuinamente cristãs têm Cristo e não são vãs."
-- T. Zambelli

"Estamos numa época em que a experiência é supervalorizada: 'não importa o que eu sei, importa o que eu sinto', muitos dizem. Eu digo: 'Eu sinto muito.' (Trocadilho com o verbo sentir.) O que você sente é determinado pelo que você sabe e se você não se preocupar com o que sabe, logo você não vai se preocupar com o que sente, porque ele não terá substância suficiente
para manter sua fé e compromisso com Jesus Cristo."
-- Carlos Osvaldo Pinto, Ph.D.


3. Pouco conhecimento o torna vulnerável ao que é contrário ao Reino de Deus.

Paulo entrou na sinagoga e ali falou com liberdade durante três meses, argumentando convincentemente acerca do Reino de Deus. Mas alguns deles se endureceram e se recusaram a crer, e começaram a falar mal do Caminho diante da multidão. Paulo, então, afastou-se deles. Tomando consigo os discípulos, passou a ensinar diariamente na escola de Tirano. Isso continuou por dois anos, de forma que todos os judeus e os gregos que viviam na província da Ásia ouviram a palavra do Senhor (Atos 19.8-10).

Quando Paulo chegava a uma cidade, ele logo se dirigia à sinagoga. Em Éfeso, Paulo ensinou na sinagoga durante três meses. O texto nos ensina que ele falava convincentemente e sabemos que isso somente é capaz de acontecer se houver conhecimento por parte daquele que ensina.

Acontece que o assunto de Paulo era o Reino de Deus, objeto de estudo que qualquer judeu da época diria: "neste assunto eu sou Ph.D.!" Creio que Paulo começou a ensinar partindo de Gênesis e provavelmente fez um panorâma nas Escrituras para então, ir além do que os judeus acreditavam conhecer com profundidade.

Por não conhecer a verdade por completo, alguns judeus se recusaram a crer. Mas aqueles que se tornaram discípulos (termo que no livro de Atos é sinônimo de convertido), foram direcionados para outro local onde puderam aprender e crescer mais durante dois anos com a presença do apóstolo. Note o resultado deste genuíno avivamento: todos os judeus e os gregos que viviam na província da Ásia ouviram a palavra do Senhor.

Sem dúvida a expectativa de que todos os filhos de Deus sejam maduros em conhecimento é fora da realidade horizontal e vertical. O que devemos almejar e esperar é que todos busquem continuamente aprofundar seus conhecimentos sobre/em Deus.

Os judeus possuíam algum conhecimento a respeito de Deus, mas não era o suficiente para impedi-los de serem enganados pela mentira, por questões que são contrárias ao Reino de Deus.

Conclusão

"No essencial, verdade; no secundário, liberdade;
e acima de tudo, o amor."

A verdade salva e gera positivas mudanças. Aqueles que a buscam, conhecerão que sem a unidade, não poderão desfrutar de bênçãos divinas.

Nunca deixe de ler a Bíblia. Medite na Palavra, de noite e de dia.

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